Falei com Deus que eu aceitava, que ele viesse para mim da maneira que fosse, lamentou mãe de AdrielReginaldo Pimenta/Agência O Dia
Publicado 24/08/2022 11:16
Rio - O segundo corpo encontrado no Rio Capenga, em Nova Iguaçu, é do jovem Adriel Andrade Bastos, de 24 anos, que desapareceu com os amigos, no último dia 12. Familiares estiveram na manhã desta quarta-feira (24) no Instituto Médico Legal (IML) do município da Baixada Fluminense, e reconheceram a vítima por uma tatuagem no pescoço. O rapaz foi encontrado sem vida no fim da manhã desta terça-feira (23), no mesmo local em que Matheus Costa da Silva foi localizado, também morto, no dia anterior. 
"Nós estávamos muito angustiados pela demora de encontrar o meu filho e os demais meninos. Ontem, quando eu assisti que tinham achado mais um corpo, eu criei uma esperança de que poderia ser o meu filho e falei com Deus que eu aceitava, que ele viesse para mim da maneira que fosse, para que a gente pudesse dar um enterro digno para ele (...) A gente quer muito que encontre, mas quando a gente sabe que encontrou e da maneira que encontrou, é muito doloroso. Você chegar num lugar e não poder ver a pessoa, reconhecer por foto, por uma tatuagem", lamentou a mãe de Adriel, a promotora de vendas, Andréa Andrade, de 48 anos. 
Também nesta quarta-feira, o Corpo de Bombeiros continua as buscas por Douglas de Paula Pampolha dos Santos, 22, e Jhonatan Alef Gomes Francisco, 29. Pai de Jhonatan, o pintor Ronaldo de Oliveira Francisco, de 50 anos, tinha expectativa de que o segundo corpo encontrado fosse o do filho e disse que espera ainda conseguir sepultar o rapaz. O homem afirmou também que por conta do estado em que os cadáveres foram localizados, os parentes só conseguem reconhecer as vítimas por meio de detalhes, como sinais, fotos e tatuagens.
"(Quero) acabar com essa angústia no coração e ter a oportunidade ainda de poder enterrar meu filho. No momento, (o reconhecimento) está sendo através de sinais, fotos, tatuagens. A gente pôde reconhecer (o corpo de Adriel) e constatar que não era o (Jhonatan) Alef. A angústia vai continuar, a dor vai continuar, até eu poder encontrar meu filho e poder dar um enterro digno a ele", lamentou o pintor.
Ainda segundo Andréa, Adriel estava morando em apartamento do conjunto habitacional do bairro Valverde, próximo do local onde foi sequestrado, e fazia planos para se mudar para mais próximo dela, em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, neste mês. A mãe conta que no dia do crime, ele estava a caminho do shopping com os amigos, de onde seguiria para o Centro de Nova Iguaçu, para comprar uma bicicleta para a filha de 3 anos. O rapaz era motorista de aplicativo e ela pretendia dar um carro para que ele pudesse trabalhar. Ainda segundo a promotora, a tatuagem do jovem com os dizeres "seja forte e corajoso" descreve o filho. 
"Foi assim que eu criei meu filho, para ser um homem forte e corajoso, um homem honrado, um homem que sempre respeitou os princípios, sempre respeitou a família. Ele era muito carinhoso comigo, me chamava de minha rainha. Foi uma crueldade tão tremenda, que eu nem sei explicar. Eu não consigo nem chamar essas pessoas de sere humano, porque eu acho que um ser humano não teria coragem de fazer o que fizeram com ele e o com os outros meninos. Eu só peço a Deus que quando eles olharem para um ente querido deles, eles venham a ver a imagem dos nossos filhos". 
Amigos de infância, Matheus, Douglas, Adriel e Jhonatan seguiam para um shopping em um carro de aplicativo, quando foram abordados e sequestrados por criminosos, no bairro Valverde. O motorista não foi levado com eles. A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) investiga se o uso e tráfico de drogas pelas vítimas na região que é dominada pela milícia de Danilo Dias Lima, o Tandera, motivou o crime. A versão é contestada pelas famílias, que negam o envolvimento dos jovens com o crime organizado. 
"O meu filho sempre trabalhou, ele ganhou esse apartamento ali no conjunto habitacional do Valverde, do Minha Casa Minha Vida, com 21 anos. Desde os 13 anos, meu filho sempre trabalhou. Ele pedia ao meu pai, que sempre trabalhou como pedreiro, "vô me leva para trabalhar com o senhor", porque ele sempre quis ter o dinheiro dele, ter a independência dele. Eu realmente não sei qual foi a motivação porque, infelizmente, o ambiente onde o meu filho estava morando, era um ambiente muito hostil. Até um olhar torto para um deles (criminosos), provocaria a morte de uma pessoa. Acho que com o meu filho aconteceu dessa forma", lamentou Andréa.
 
Leia mais