Publicado 21/09/2022 10:31 | Atualizado 22/09/2022 12:17
Rio - O carro de um professor de um curso técnico foi atingido por três tiros de fuzil durante um intenso confronto no Morro do Fubá, que fica entre os bairros do Campinho e Cascadura, na Zona Norte do Rio. O homem, de 36 anos, que preferiu não se identificar, é morador do Morro do Campinho, na mesma região, e relatou que encontrou seu veículo e, pelo menos, outros cinco automóveis alvejados, após uma troca de tiros que ocorreu nas ruas Alberto Silva e Bauru. Nesta quarta-feira (21), o policiamento foi reforçado na comunidade.
O homem relatou que não havia ninguém no veículo no momento dos disparos, que ocorreram na segunda-feira (19), por volta das 6h30, e atingiram o para-brisas, a janela e uma parte interna próxima ao carona. "Estou passando mal até hoje, porque um tiro atingiu onde, geralmente, a minha esposa senta. Passou um filme na cabeça", desabafou o professor. O morador disse se sentir aliviado por nenhuma familiar ter se ferido, mas contou que teve um prejuízo de R$ 1 mil para consertar os danos. "Senti alívio, mas a revolta e a tristeza são piores", continuou ele.
A região vive uma rotina de violência desde o início do ano, por conta de uma guerra entre traficantes do Comando Vermelho e da milícia do 'Tico e Teco' pelo controle das comunidades. De acordo com o professor, há cerca de 15 dias os confrontos haviam cessado, mas na segunda-feira, por volta das 4h50, os tiros voltaram a ser ouvidos. No mesmo dia, três criminosos fortemente armados invadiram um edifício na Avenida Ernani Cardoso, em Cascadura, para socorrer um deles, deixando rastros de sangue pelo local.
Um novo confronto ocorreu na tarde de terça-feira (20), e deixou um homem baleado, que precisou ser socorrido para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Campinho. Não há informações sobre o estado de saúde da vítima, que não teve a identidade divulgada. De acordo com a Polícia Militar, o policiamento ostensivo do 9º BPM (Rocha Miranda) está atuando de forma reforçada na região nesta quarta-feira. Veículos blindados circulam pela comunidade. Relatos de moradores dão conta de que uma nova troca tiros teve início por volta das 11h.
"Mais um dia e o 'couro comendo' no Morro do Fubá", comentou uma pessoa. "Tiroteio no Morro do Fubá, Campinho, no horário das crianças saírem do colégio", relatou outra. "Nunca tem paz os moradores desse lugar!", lamentou mais uma internauta.
De acordo com a Secretaria Municipal de Educação do Rio, na região do Campinho, três unidades escolares estão realizando a saída dos alunos em segurança, seguindo os protocolos do Acesso Mais Seguro. A pasta ressaltou que, em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, instituiu o Programa Acesso Mais Seguro em unidades localizadas em áreas de conflito. "O programa tem como objetivo mitigar riscos por meio de protocolos que são aplicados por professores, alunos e toda a comunidade escolar em situações de risco. Sempre que há uma situação de risco o protocolo é acionado".
Na região, o Centro Municipal de Saúde Mário Olinto de Oliveira (Cascadura) e a Clínica da Família Gerson Bergher (Campinho) interromperam o seu funcionamento nesta quarta-feira (21), devido ao acionamento do protocolo de acesso mais seguro.
As clínicas da família Carlos Nery da Costa Filho (Quintino) e Dr. Mário Pires da Silva (Campinho) mantêm o atendimento à população, mas suspenderam as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.
Já a Clínica da Família Souza Marques, em Campinho, e o Centro Municipal de Saúde Newton Bethlem, na Praça Seca, funcionam normalmente.
As clínicas da família Carlos Nery da Costa Filho (Quintino) e Dr. Mário Pires da Silva (Campinho) mantêm o atendimento à população, mas suspenderam as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.
Já a Clínica da Família Souza Marques, em Campinho, e o Centro Municipal de Saúde Newton Bethlem, na Praça Seca, funcionam normalmente.
Morando no bairro desde que era criança, o professor afirmou que, por conta do aumento da violência, tem considerado se mudar, já que serviços como transporte escolar, por aplicativo e fornecimento de internet não querem mais atuar na área. "É muito complicado. Só tem uma solução: se mudar, porque não vejo, no momento, isso acabar. Muita gente faltou trabalho na segunda, muita gente queria vir para casa ontem e não estava conseguindo, por causa da guerra. É muito triste, estou pensando até em me mudar. A casa aqui é boa, mas a questão da segurança em primeiro lugar", declarou ele.
Há pouco mais de um mês, um turista americano que estava hospedado na casa de amigos em Cascadura foi atingido no pescoço por uma bala perdida durante uma troca de tiros no Morro do Fubá. Trey Thomas Joseph Barber, de 28 anos, chegou a ficar internado nos hospitais Municipal Salgado Filho e no Samaritano, mas morreu após dois dias, em 12 de agosto. Na mesma ocasião, dois passageiros de um ônibus também ficaram feridos. Desde então, equipes do 9º BPM ocupam o local por tempo indeterminado.
Guerra no Morro do Fubá
A comunidade era chefiada pela milícia do 'Tico e Teco', comandada por Leonardo Luccas Pereira, o 'Leleo' ou 'Teco', mas foi invadida pelo Comando Vermelho, em janeiro deste ano, liderado pelo gerente do Morro do 18, Rafael Cardoso do Valle, o 'Baby', depois que as milícias dos morros do Campinho e do Fubá foram traídas por um ex-integrante. Agora, os traficantes dominam a parte alta da comunidade, mas a parte baixa segue sendo comandada pelos paramilitares.
Desde então, os criminosos promovem uma guerra pelo controle total da região. Em uma reportagem do Dia, moradores das proximidades e do morro chegaram a contar que temem sair de casa e não conseguirem voltar, por conta das constantes trocas de tiros. Alguns deles chegaram a dizer que já perderam oportunidade de emprego e tiveram salários descontados por chegaram atrasados no trabalho, devidos aos confrontos.
Além da guerra, comerciantes e quem vive na região ainda sofrem com a cobrança ilegal de uma taxa de segurança no valor de R$ 50 por milicianos, com pagamento via Pix. No interior da comunidade, que passou a ser chamada de "Fubaquistão" pelos moradores, uma faixa chegou a ser estendida para denunciar a situação que, segundo os residentes, estaria sendo acobertada por policiais militares que atuam na área desde a morte do turista americano.
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