Rio - Um ex-funcionário da empresa Coca Cola Andina, com sede em Jacarepaguá, na Zona Oeste, denuncia ter sofrido xenofobia e assédio moral praticado por ex-colegas de trabalho dentro da multinacional. À reportagem de O DIA, o manobreiro Ismael Queiroz, 40 anos, relatou ter sido chamado de ‘paraíba burro’ e ser perseguido frequentemente. O caso foi denunciado à Polícia Civil e ao Ministério do Trabalho de Nova Iguaçu.
Segundo Ismael, as situações de preconceito e perseguição iniciaram em julho do ano passado, um mês após ter sido contratado. Ele conta que antes de ser demitido em dezembro de 2022, havia feito inúmeras denúncias à ouvidoria da empresa, mas que nada foi feito.
"Eu sofri perseguição gratuita, eles me chamavam de 'paraíba burro', um preconceito com a terra da descendência do meu pai. Eu trabalhei lá por seis meses e as perseguições começaram um mês depois que eu entrei. Eu levei o relato para as chefes, mas parece que é uma 'panela': você reclama e não tem resultado. Eles gritavam comigo, me humilhavam na frente dos outros e eu sofri até isolamento quando me trocaram de setor", explicou.
Em janeiro, o motorista registrou o caso na 32ª DP (Taquara) e, segundo ele, não houve nenhum retorno da Polícia Civil desde então. Já o Ministério do Trabalho de Nova Iguaçu informou, nesta terça-feira (28), que recebeu a denúncia relatada e apura as informações, mas o caso está sob sigilo.
Ismael detalhou ainda que nada do que fazia no emprego era suficiente e que se sentia frequentemente coagido por conta das ações de alguns encarregados e conferentes.
"Eles tiravam minha paz e meu sossego no ambiente de trabalho, impediam o pleno exercício da profissão, o que afetava meu equilíbrio emocional. Nenhuma posição na qual eu estacionava o veículo o agradava, por isso ele me fazia andar para trás e para frente na vaga, e dizia que não precisava de mim na frente de todos. Eu me sentia humilhado", disse.
O funcionário relatou também que um dos encarregados o coagia para que ele não realizasse nenhuma denúncia exterior ou reclamasse a algum gerente. "Ele dizia pra ficar tudo entre a gente, sendo que ele não resolvia o problema, pois ele e o conferente compactuavam com esses atos. Resolvi buscar ajuda porque não posso aceitar tal abuso", relatou.
Ainda ao DIA, ele explicou que a situação de assédio moral e xenofobia começaram após ele informar um suposto furto ao supervisor. "O encarregado fazia gesticulações com as mãos e pernas dizendo que ia me mandar embora", disse.
Tristeza após demissão
Ismael relatou que não esperava ser demitido. "Eu tentava ver um meio de solucionar o problema, porque eu trabalhava corretamente, tenho duas crianças pequenas, não faltava, não chegava atrasado e meu caminhão ficava todo no brilho", disse.
Ele disse que, após ficar desempregado, ficou noites sem dormir revivendo o que passou. "Quando eu fiquei desempregado, fiquei sem dormir direito, rolando na cama, sem acreditar que sofri aquele absurdo. Quando você é uma pessoa mau caráter, você espera que vai ser mandando embora a qualquer momento. Quando você é honesto e trabalha corretamente, é uma violência muito grande. A pessoa vai lá e tira um patrimônio que você tem, um valor emocional, sabe? Porque quem tem juízo valoriza o seu emprego", explicou.
O motorista denuncia que ainda há pessoas sofrendo com as mesmas humilhações que ele passou e que o espera é que a Justiça seja feita.
Procurada, a Polícia Civil ainda não respondeu se investiga o caso.
O que diz a Coca-Cola
Questionada sobre o assunto, a Coca-Cola Andina ressaltou que as denúncias realizadas pelos canais da empresa são apuradas em caráter sigiloso, mantendo a privacidade de todos os envolvidos. Nos casos confirmados, a empresa garantiu que adota as ações pertinentes.
"A Rio de Janeiro Refrescos esclarece que repudia veementemente qualquer atitude de xenofobia ou de assédio moral. A empresa preza pelas boas práticas nas relações de trabalho e executa treinamentos periódicos com todos os seus colaboradores", disse a empresa, em nota.
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