Jéssica fez um procedimento de lipoaspiração na clínicaArquivo Pessoal

Rio - A Polícia Civil investiga uma denúncia em que familiares da técnica de enfermagem Jéssica de Souza Machado, 31 anos, acusam um cirurgião plástico de uma clínica estética particular de Nova Iguaçu por erro médico durante uma lipoaspiração. A paciente está internada há mais de um mês no Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro do Rio, após a realização do procedimento. A defesa dos envolvidos, no entanto, nega as acusações e alega que vítima não cumpriu com o pós-operatório.
O caso foi registrado na 58ª DP (Posse) no último sábado (1º) e foi encaminhado para a 56ª DP (Comendador Soares), que segue com a investigação. De acordo com Thayane Freitas, cunhada de Jéssica, o procedimento estético aconteceu na Clínica Iguaçu Plástica Day, no dia 8 de fevereiro, com o cirurgião plástico Jaime Javier Garcia Caro, e o corpo da técnica de enfermagem apresentou necroses oito dias após a cirurgia, além de manchas pretas e áreas em carne viva. 

Ainda segundo Thayane, Jéssica questionou o médico e o profissional teria respondido que tais efeitos poderiam ser normais no pós-operatório.
"A Jéssica foi fazer um procedimento em uma clínica de estética em Nova Iguaçu. Dois dias depois, o corpo dela necrosou. No terceiro dia, o corpo estava todo preto. Ela entrou em contato com o médico e ele disse que era normal, que a queimação que ela estava sentindo era normal e sintoma do pós-operatório. Ele disse ainda que depois ia melhorar e curar. Dez dias depois da operação, apareceu um buraco na barriga dela", contou Thayane.
Jéssica fez um procedimento de lipoaspiração na clínica - Arquivo Pessoal
Jéssica fez um procedimento de lipoaspiração na clínicaArquivo Pessoal
A cunhada de Jéssica explicou que Jaime, então, chamou a paciente para retirar a parte necrosada e suturar a ferida. No entanto, doze dias após a cirurgia, a familiar contou que a técnica de enfermagem continuava sentindo febre e dores fortes, e ligou para o cirurgião plástico. Jaime, que inicialmente teria demonstrado solidariedade, sumiu sem dar satisfação, segundo os parentes.
"Ele falou pra ela que era melhor internar em um hospital de referência da cidade, mas o plano não iria cobrir. Ela havia pago R$ 9 mil com a cirurgia e não tinha mais dinheiro para se internar. Ele disse para irmos ao Souza Aguiar. O doutor veio, conversou com a gente e falou que iria dar suporte e tranferi-la para o hospital. No outro dia, ele viajou e apareceu apenas no dia 1º de março ligando e perguntando como ela estava. Foram 10 dias sem assistência. A última foi no dia 22 de fevereiro. A presença dele não interferiu em nada, porque a equipe do Souza Aguiar é que a ajudou", completou a cunhada.
Thayane reforçou que Jéssica respeitou as orientações do pós-operatório e fez uma drenagem indicada pelo cirurgião. A paciente conheceu o médico através das redes sociais e de uma indicação de uma conhecida, que também fez um procedimento estético com Jaime.
A técnica de enfermagem deu entrada no Souza Aguiar na noite do dia 23 de fevereiro, segundo Thayane. Procurada, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que a paciente está recebendo os cuidados necessários e encontra-se estável.
Defesa nega acusações
O advogado Thiago Soares, que representa o cirurgião plástico e a clínica de estética, disse que a acusação de erro médico é leviana. Segundo a defesa, os sintomas começaram aparecer em Jéssica 14 dias após a cirurgia e Jaime se colocou à disposição para qualquer dúvida.
"Ele fez a cirurgia e até uma semana depois estava tudo perfeito, não havia nenhuma anomalia. Ocorre que essa reação no corpo dela se deu depois de 14 dias. Alegar que foi um erro médico é leviano. O doutor Jaime é um estudioso e, mesmo quando ela relatou o problema, ele se colocou à disposição e relatou que possui um seguro caso fosse comprovado algum erro. Ela poderia ter alguma alergia e não ter relatado. Alegar que foi um erro médico é prematuro e temerário", disse Soares, que acrescentou que a técnica de enfermagem não cumpriu o pós-operatório receitado.
Jaime tem certificado do Colégio Brasileiro de Cirurgia Plástica (CBCP) e está apto no Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj). A clínica em Nova Iguaçu, onde o médico é diretor técnico, está regularizada no conselho.
Investigação
Segundo Thayane, a família tentou, mas não conseguiu registrar o boletim de ocorrência anteriormente. Ela explicou que foi inicialmente até à 55ª DP (Queimados), delegacia da cidade onde a família mora, e foi informada que deveria registrar o caso na 52ª DP (Nova Iguaçu), município onde a clínica é localizada. Nesta distrital, os agentes indicaram que ela teria que ir à 56ª DP (Comendador Soares).
A cunhada da vítima contou que agentes disseram que "muitos casos estavam sendo investigados no momento" e pediram que ela registrasse a ocorrência online — a jovem não conseguiu por conta de um erro no endereço da clínica.
De acordo com a Polícia Civil, o relato não condiz com a metodologia de atendimento orientada às delegacias. A instituição informou ainda que vai apurar a denúncia. Sobre as investigações da denúncia contra a clínica e o médico, a polícia ainda respondeu.
Na última sexta (31), Thayane também denunciou o caso no site do Ministério Público. Ao DIA, o MPRJ informourecebeu a comunicação feita por meio da ouvidoria e o procedimento foi distribuído para a 1ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal Territorial do Núcleo Duque de Caxias, que irá analisar o material e adotar as medidas cabíveis.