Entregadores que foram agredidos em São Conrado. Na foto, Max Ângelo e Viviane Maria.Marcos Porto/Agencia O Dia

Rio - "É lamentável a gente saber que ainda existem pessoas assim". O desabafo de Max Ângelo dos Santos descreve os sentimentos de tristeza e revolta pelas agressões físicas e ofensas racistas que sofreu no último domingo (9), em São Conrado, na Zona Sul do Rio. O entregador por aplicativos de delivery foi atacado pela ex-atleta de vôlei de praia e nutricionista Sandra Mathias Corrêa de Sá, com xingamentos, socos e a guia de uma coleira de cachorro. O caso é investigado como lesão corporal e injúria por preconceito. 
O crime aconteceu depois que Sandra teria se revoltado com a presença de entregadores sentados na porta de uma loja, na Estrada da Gávea, próximo ao número 847. Segundo Max, a mulher passeava com o cachorro e, ao se deparar com o grupo, cuspiu no chão, na frente da vítima, e seguiu andando com animal. Ao voltar, uma entregadora questionou o motivo da raiva da ex-jogadora, que se alterou e passou a ofender e agredir os trabalhadores. 
"No domingo, a gente estava sentado como de praxe, como a gente faz todo santo dia, esperando a entrega e ela passou, passeando com o cachorro. Quando chegou na nossa frente, ela olhou para mim com cara de nojo e cuspiu no chão e seguiu o caminho. Quando ela voltou, minutos depois, a menina perguntou para ela por que ela tinha tanta raiva da gente e aí começaram as alterações, as agressões verbais, seguidas de agressões físicas", relatou Max, que pediu por justiça. 
"(Me) chamou de marginal, de preto, disse que eu tinha que voltar para a favela, que eu não tenho que estar em São Conrado, que ela paga IPTU e muitas outras coisas, me mandou tomar em tudo quanto é lugar. É triste e eu só quero justiça, quero que ela pague pelo que ela fez", declarou o entregador.
Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver a mulher puxando e agredindo o entregador, que é negro. Ela dá um soco em Max, o agarra pela roupa e, em seguida, ele se esquiva e se afasta. Sandra então, diz: "Tu (sic) não vai embora não, filha da p...". A imagem continua e mostra a suspeita tirar a guia de um cachorro. Ela pega o objeto e parte para cima da vítima, que fala: "Teu caô não é comigo não. Tu vai me agredir? Vai me agredir?". A nutricionista retruca: "Não é contigo, não?" e, logo na sequência, atinge o homem com a coleira.
O crime é investigado pela 15ª DP (Gávea), que já ouviu Max. A mulher é esperada para prestar depoimento nesta quarta-feira (12) e as investigações estão em andamento. Em seu perfil nas redes sociais, Sandra se descreve como "apaixonada por cães e pela vida". Ela é também dona de uma escola de vôlei de praia no Leblon, Zona Sul. Pai de três filhos, a vítima trabalha com entregas de domingo a domingo, de manhã até à noite, e se disse revoltada por ter sofrido os ataques da ex-atleta.

"A gente está aqui trabalhando de domingo a domingo porque a gente precisa, não é porque a gente gosta de estar aqui. Se eu pudesse, estaria dentro de casa curtindo meus filhos, curtindo minha esposa. Eu saio de manhã e só chego à noite, não tenho muito tempo porque tenho que correr atrás do meu pão de cada dia, para botar minha comida na mesa, para pagar meu aluguel, para pagar a pensão dos meus filhos. Mês que vem é aniversário do meu filho, eu queria fazer um bolinho, mas não sei se vou conseguir. Então, eu tenho que sair todo dia de manhã para trabalhar e ter que passar por isso é revoltante", desabafou.