Rio - A confusão que levou à morte de Felipe Santos de Souza, de 25 anos, teria começado há três semanas, por causa de uma briga por dinheiro para bebidas, segundo familiares. O jovem foi baleado por policiais militares do 18º BPM (Jacarepaguá), depois de uma confusão na Rua Quiririm, na Vila Valqueire, na Zona Oeste do Rio, nesta quinta-feira (20). A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu aos ferimentos e morreu nesta sexta (21).
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De acordo com o irmão da vítima, Robson Almeida, há três semanas um grupo de amigos estava reunido, como de costume, quando uma discussão por conta do dinheiro para as bebidas começou. Alterado, um dos rapazes, identificado apenas como Vitinho, teria agredido Felipe. Na semana seguinte, ele voltou ao local, mas parentes impediram que o jovem saísse de casa, para evitar que uma nova briga acontecesse.
Entretanto, na quinta-feira, eles voltaram a se encontrar quando Felipe estava com amigos e uma confusão começou, mas foi apartada por um outra pessoa, que estava com um facão, e mandou que Vitinho se afastasse, porque não queria brigas no local. Ao ir embora, o homem encontrou uma viatura da Polícia Militar e disse que Felipe estava armado. Segundo Robson, um dos policiais atirou dez vezes contra seu irmão, dos quais quatro disparos atingiram suas costas. Alguns dos disparos atingiram as vísceras e o ombro.
"É todo mundo conhecido, a briga deles foi por causa de bebida, não foi nada de desafeto. Foi por motivo bobo, final de semana fica todo mundo bebendo e cada um bota um dinheirinho para todo mundo beber igual. Sempre tem uma discussão boba de amigos, só que o outro estava alterado, já tinha bebido na quinta-feira e falou que meu irmão estava armado (...) Ele não estava armado, as filmagens mostram tudo, quando a polícia foi abordar ele pela segunda vez, deu para ver que não estava armado", relatou Robson.
Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver Felipe sentado em uma escada e levantando a camisa, após a ordem de um policial. As imagens mostram ainda quando o militar recolhe uma faca do chão, momento em que as testemunhas tentam explicar que o jovem é morador e que o objeto pertencia a outra pessoa, que havia provocado uma confusão e fugido do local. Confira abaixo.
Família e testemunhas defendem que jovem morto na Vila Valqueire não estava armado. #ODia
Segundo a PM, equipes foram acionadas "para intervir em uma luta corporal" entre dois homens na Rua Quiririm. Ao chegar no local, os policiais disseram que Felipe teria feito menção em puxar uma arma e dispararam. Na ocorrência, os militares afirmaram que o jovem carregava um facão. A Corregedoria Geral da corporação instaurou um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias do fato e informou que colabora integralmente com as investigações da Polícia Civil.
A vítima foi socorrida pelos policiais ao Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na Zona Norte, e passou por uma cirurgia. No entanto, ele teve uma parada cardíaca e morreu na tarde de sexta-feira. Neste sábado (22), parentes e a defesa da família de Felipe estão no Instituto Médico Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro do Rio, para liberar o corpo.
Segundo a advogada Edilene da Silva, além de Vitinho, outros quatro rapazes também estariam envolvidos na briga com Felipe, que os enfrentou. Eles seriam moradores de outro bairro e, assim, como relatado por Robson, continuaram indo à Vila Valqueire para provocá-lo. Na quinta-feira, ao perceberem que o jovem não queria brigar, foram embora e, quando encontraram com policiais militares, informaram que a vítima estava armada.
"Simplesmente, esse menino (Vitinho), que é branco, viu uma viatura subindo a Rua Capitão Menezes, bateu no capô da viatura e falou: 'olha, eles está armado' e a polícia, simplesmente, já chegou atirando. Ele não teve chance de sequer falar o próprio nome, de apresentar a própria documentação. Isso é realmente uma política de extermínio da juventude negra (...) Foi mais de um tiro e foram tiros de fuzil. Ele foi alvejado pelas costas covardemente, sem ter o direito de falar o próprio nome. Ele não tinha filhos, foi tirado o direito dele de formar uma família, de sonhar", afirmou a advogada, que reforçou que a vítima não estava armada.
"Eu estou aqui mais uma vez para presenciar uma tragédia social, porque a mãe está aqui em um estado de choque imenso, que não consegue falar sobre o que aconteceu. Porque, na verdade, mais uma vítima preta dessa sociedade, no qual o Estado não prepara os agentes públicos para trabalhar de forma efetiva dentro de comunidade e ainda vem com narrativas que são inverídicas e que serão provadas através de imagens e testemunhas. Na verdade, ele foi morto covardemente, com um tiro pelas costas. A arma ao qual o policial diz que pegou com ele, não estava com ele, e as pessoas vão testemunhar vão falar que não estava com ele".
Ainda não há informações sobre o horário e local do sepultamento de Felipe, que foi descrito como um rapaz alegre pelo irmão. "Ele era um moleque alegre, trabalhador, tinha a casinha própria dele, era tranquilo, não fazia besteira. O negócio dele era beber, zoar e brincar. Era um moleque alegre, brincalhão, trabalhava em um ferro-velho", lamentou Robson.
"Simplesmente, está mais que na hora de se pensar sobre as atividades da polícia desse Estado. O Estado precisa respensar sobre que tipo de policiais estão colocando nas ruas, que tipo de segurança está oferecendo à população. Porque, na verdade, estamos assistindo, todos os dias, mortes de pessoas pretas e pobres. Está na hora da sociedade sentar e conversar com o governador que tipo de política de segurança pública é essa que tem como alvo preto e pobre", completou a advogada.
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