Sala Marília Pêra, do Teatro Leblon, vai virar filial da Igreja Lagoinha. Nesta Quinta-Feira (27).Cléber Mendes/Agência O Dia
"Toda a minha vergonha pelo Rio de Janeiro que não consegue manter sua cultura. Vergonha pois esta sala recebeu o nome de minha irmã, Marilia Pêra, representante da cultura nesse país que protege igrejas e não livra suas casas de cultura de impostos. Rio de Janeiro que não para de fechar seus teatros. Derrubaram o Tonia Carreiro, o Fernanda Montenegro, largaram às moscas, Glória, Vila Lobos… Vergonha, mil vezes vergonha", escreveu Sandra.
Também foram lançadas peças marcantes como "A Alma Imoral", com Clarice Niskier; nos anos 2000, e 'Pérola', do grande dramaturgo Mauro Rasi, em 1995, lembra a assessora. "Temos muita memória. É uma tristeza enorme. Soma-se a isso, a perda de outros teatros no Rio de Janeiro. Há anos, cada hora cai um. Para a gente que é do meio teatral é de uma tristeza enorme porque as temporadas ficam reduzidíssimas. Temos as produções, mas elas ficam com pouca opção de para onde ir. Este sucateamento é muito triste", disse.
Outro que comentou foi o jornalista, compositor e crítico musical Nelson Motta, que foi casado com Marília. "Que tristeza", escreveu ele no Instagram. Filha de Chico Buarque e Marieta Severo, a atriz Silvia Buarque também lamentou: "Ah não!".
CEO da agência Montenegro Talents, o empresário Marcus Montenegro fez a sua última produção teatral na Sala Marília Pêra, em 2015, com a comédia "A Atriz". A peça seria feita por Marília Pêra, mas acabou estrelada por Betty Faria. Marília morreu no dia 5 de dezembro daquele ano, aos 72 anos, vítima de câncer de pulmão, e teve o corpo velado no Teatro Leblon.
"Fiquei arrasado porque é um ótimo teatro. Minha última produção foi lá. Foi a minha despedida do teatro como produtor. É triste perder um espaço nobre, na Zona Sul da cidade, super bem localizado e que teve espetáculos importantíssimos. Eram três teatros naquela galeria com ótima programação. Espero que um dia isso se reverta", disse Montenegro.
O produtor e empresário ressaltou que o público está com saudade de ir ao teatro e está enchendo as salas, após o período de isolamento por conta da covid-19. "A Lei Rouanet está voltando, assim como as produções, mas temos menos espaços e menos espaços nobres. O Teatro do Leblon é muito bem equipado, e nem todos os teatros têm esses equipamentos. É muito ruim. Espero que outros investidores se animem e voltem a investir nos espaços", afirmou. "Teatro é o celeiro dos grandes atores e o grande encontro do público com seus astros. Muito triste o fechamento, ainda mais de uma sala em homenagem a uma das maiores atrizes do mundo. Espero que ela mande energias de onde estiver para revertermos a situação", completou.
Foi o ator Well Aguiar quem assumiu a curadoria da sala nesta última temporada, sob o nome de Teatro PetraGold. Após três anos fechado, o espaço funcionou entre junho de 2019 e agosto de 2022. Ele contou que, junto ao sócio e ator André Junqueira, montou uma rede para que as peças fossem bem divulgadas e lembrou que o teatro estava enchendo. Durante a pandemia, foram lançadas peças online com grandes nomes, como Lilia Cabral e Ana Beatriz Nogueira.
"Me veio o sonho de abrir o teatro, fazer nossos próprios projetos. Foi daí que nasceu o surgimento do PetraGold. Mas, o grupo quebrou. Nesse ínterim, fui atrás para não fechar mais uma sala. Mais uma virando igreja. Não me coloco contra igrejas, mas vejo lamentável ver nosso cenário abandonado: a escola que fui formado, (Escola Técnica Estadual de Teatro) Martins Penna, a sala que recebeu tantos pilares da nossa arte, como dona Fernanda, dona Marília. É uma dor", lamentou Well.
PetraGold investigada
A empresa PetraGold tornou-se alvo de uma investigação da Polícia Civil do Rio em janeiro deste ano por suspeita de estelionato e organização criminosa. Segundo as denúncias, a instituição que atua no mercado financeiro desde 2016 impediu o resgate de valores aplicados por clientes. O total retido pode ultrapassar os R$ 3,5 milhões. Nesta quinta-feira (27), ao DIA, a polícia afirmou que as investigações estão em andamento na Delegacia de Defraudações (DDEF). "Agentes realizam diligências para esclarecer os fatos", diz a nota.
Há dois anos, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) avaliou que a PetraGold age de "forma fraudulenta no mercado de capitais", oferecendo debêntures públicos sem autorização legal. Em 2021, a CVM chegou a proibir a atuação da empresa nesse tipo de investimento. A reportagem entrou em contato com a empresa por meio do site e aguarda retorno.
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