Kailly Manhães, 11, Pedro Henrique, 11, e o pai Cláudio LinsMarcos Porto/Agência O Dia

Rio - A Polícia Civil investiga uma agressão contra um aluno de 11 anos, dentro de uma unidade de ensino do bairro Vilar dos Teles, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense. O caso aconteceu na segunda-feira passada (24), em uma sala de aula do 6º ano da Escola Municipal Professora Graça Grijó, depois que a professora da turma teria incentivado uma brincadeira com 'cascudos' entres os estudantes no momento da chamada da classe. 
A dinâmica, chamada de "meme, mico ou mocão", era responder a presença com memes em vez do próprio nome e, quem não soubesse, seria agredido pelos demais alunos. Na sua vez, o menor não conseguiu e levou socos na cabeça de, pelo menos, 15 colegas de classe, autorizados pela professora. De acordo com o pai do menino, o filho chegou em casa, após a aula, se queixando de dores na cabeça e relatou o que havia acontecido.
"Meu filho não sabe nem o que é 'mocão', cascudo e quando foi ver, já estavam explodindo cascudos na cabeça dele. Meu filho está cheio de lesão na cabeça, galos. Meu filho está a três dias sem dormir, eu não estou conseguindo acreditar que uma professora, se é que pode se chamar de professora, promoveu essa brincadeira. Ela incentivou e ficou rindo de tudo. Tem garotos na sala do meu filho, de 12, 13 anos, que dão dois do meu filho. Eu quero justiça, eu deixei meu filho naquela instituição bem, saudável e entregaram meu filho com a cabeça toda lesionada", disse. 
Após o episódio, o pai da vítima procurou a 64ª DP (São João de Meriti). De acordo com o delegado Bruno Enrique Abreu, o exame de corpo de delito comprovou as lesões. "A criança veio à delegacia de polícia junto com o seu responsável e nós encaminhamos ao Instituto Médico Legal. O exame já foi feito e, conforme consta no laudo, o aluno sofreu uma pequena tumefação traumática na região parietal bilateral, ou seja, trazendo assim a materialidade para o fato", explicou o delegado. A lesão consiste no aumento de volume de algum tecido do corpo, como um inchaço.
Na terça-feira (25), a direção pediu para o pai ir até a escola para fazer uma carta de ocorrência de próprio punho relatando a situação. De acordo com ele, em nenhum momento os funcionários perguntaram sobre o estado de saúde ou a recuperação da criança e não foi oferecida assistência psicológica ou com exames e medicamentos para o aluno. Segundo o pai, durante a pandemia de covid-19, o menor sofreu com crises de ansiedade, que foram agravadas pela agressão na sala de aula. 
"Eu esperava que quando entraram em contato conosco (iam perguntar): 'o Pedro está bem, está se recuperando? Nem isso. Eu quero justiça, só isso, que ela pague pelo que ela fez. Meu filho está cheio de dor, hoje que ele conseguiu dormir um pouquinho, porque ele não tem nem posição direito para botar a cabeça no travesseiro, fora o trauma. Como vai ficar a cabeça do meu filho? Ele tem que 'bater uma chapa' para ver como está por dentro e eu não tenho condições financeiras para fazer uma tomografia. Ninguém me ligou para oferecer ajuda, assistência nenhuma, nem psicológica, absolutamente nada", desabafou o pai. 
Outros alunos também receberam cascudos durante a dinâmica, mas tiveram medo de contar aos pais. A mãe de uma aluna disse que só soube que sua filha havia sido vítima de outros estudantes quando o pai do menor agredido a procurou na tarde de quarta-feira (26), já que a menina havia falado apenas sobre a brincadeira e omitiu as agressões. A mãe revelou que a filha sentiu dores de cabeça, enjoos e teve desarranjo intestinal por conta do nervosismo com a situação. 
"Eles vieram ontem me contar como tinha sido a situação, que foi uma coisa grave, realmente uma agressão pesada, não foi uma brincadeirinha boba. Eu perguntei para minha filha se ela tinha agredido alguém e ela disse que não tinha agredido ninguém. Meu esposo perguntou por que ela não tentou se defender e ela disse que se tentasse, ia apanhar mais ainda. Foi uma coisa que deixou a gente chocado. A questão é como vai ficar o psicológico dessas crianças", disse a mãe da menor, que também se queixou da omissão da escola, por não ter comunicado os responsáveis. 
"É surreal acreditar em uma coisa dessa, a história de todos eles está batendo, foi a professora que idealizou a brincadeira, a professora que autorizou as mocas e houve espancamento dos alunos dentro da sala, com professora vendo e não fez nada (...) A escola foi omissa, foi de um desleixo, tanto com os alunos, quanto com a gente, enquanto pais, por não ter dado suporte para a gente. A diretora nem apareceu para falar com a gente, em nenhum momento quis dar uma satisfação. A escola tem o WhatsApp de todos os pais, então não é falta de contato, foi realmente vontade de abafar esse caso", completou.
Ainda de acordo com o delegado, a direção da escola e a educadora foram intimadas a prestar depoimento na distrital. "Sendo confirmada, a professora, por ser agente garantidora, vai ter uma responsabilidade jurídico-penal em seu desfavor", ressaltou o delegado. 
A Secretaria Municipal de Educação de São João de Meriti informou que rescindiu o contrato da educadora, que trabalhava há um mês na unidade, "assim que soube do ocorrido". A pasta também disse que "abriu uma sindicância para apurar todos os fatos e continuar tomando as medidas cabíveis para que isso nunca mais se repita".