Carregando essas reflexões comigo, cheguei à conclusão de que nutrir um sonho é mesmo rabiscá-lo, não necessariamente num papel, mas nos pensamentos e no coraçãoArte: Kiko

'Tudo aqui já foi um sonho', dizia a plaquinha na parede de uma cafeteria na Urca, onde estive no sábado retrasado ao lado da minha irmã, do meu cunhado e do meu sobrinho mais novo, de 13 anos. Saindo de lá, andamos um pouco pela Mureta, com o anoitecer já tomando conta da paisagem, enquanto o Cristo Redentor, bem iluminado, atraía os nossos olhares. O fato é que aquela frase seguiu comigo para Caxias e acordou nos meus pensamentos no domingo, na segunda e na terça, ávida por virar escrita — é mesmo curiosa a maneira como a gente transporta reflexões pela vida.
Assim, fiquei pensando nos meus sonhos já realizados em 45 anos e no que aprendi com eles. Alguns eu alimentei desde o início. Já outros foram se desenhando durante o percurso. E há ainda aqueles que a gente nem se dá conta de que pode ter. De repente, as realizações acontecem, sem que elas nunca tivessem povoado as nossas melhores imaginações. É muito bom quando somos pegos de surpresa pelo destino e pelo nosso próprio potencial.
Da mesma forma, é maravilhoso sonhar e realizar. Tem que ser motivo de orgulho traçar um objetivo e alcançá-lo: terminar uma faculdade, fazer um curso, dar uma vida melhor para quem amamos, concluir um desafio profissional, terminar uma obra da casa, reformar um cômodo, viajar... O bom é que, no mundo dos planos, não há padrões e medidas universais. Só quem nutre um desejo sabe o real valor no seu coração.
Outro dia, por exemplo, li no Instagram que alguém festejava a ida a um show como a realização de um grande sonho. Já fazia um ano, mas tinha sido um momento muito aguardado e inesquecível. Certa vez, ouvi a confidência de quem carregava um chaveiro da Torre Eiffel nas mãos, simbolizando o grande desejo de um dia conhecer Paris. É bonito ter algo concreto nos lembrando do que queremos alcançar. A minha mãe, por exemplo, listava na agenda as suas metas para o ano que estava por vir.
Há também os sonhos de criança. Aliás, tenho a impressão de que a imaginação viaja mais longe durante a infância. Já crescidos, damos mais ouvidos aos julgamentos: a gente se envergonha de pensar alto, de revelar planos e depois não conclui-los ou de acharem que somos bobos... É preciso crescer ainda mais para ver que tudo isso é tolice.
Carregando essas reflexões comigo, cheguei à conclusão de que nutrir um sonho é mesmo rabiscá-lo, não necessariamente num papel, mas nos pensamentos e no coração. Muitas vezes, no entanto, é preciso retocar ou mudar os traços do esboço. Lembro, por exemplo, que idealizei muito a chegada dos meus 40 anos, como se a simples mudança no calendário fosse capaz de me dar um dia ou uma vida dos sonhos. Mas esse definitivamente não foi um dos meus aniversários mais felizes.
De lá para cá, entendi que os grandes desejos também podem se realizar em datas mais corriqueiras do calendário. E aprendi que os sonhos gostam de quem é bom de improviso. Ser flexível e redesenhar os traços fazem parte da caminhada. Tanto que eu até recorreria a uma outra plaquinha para festejar o percurso: "Tudo aqui é um sonho (sujeito a alterações)".