Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ)Fernando Frazão/Agência Brasil

Rio - Eder Fabio Gonçalves da Silva, o 'Fabinho é nós', integrante de uma das milícias mais violentas da Baixada Fluminense, foi condenado, na noite desta quinta-feira (1º), a 20 anos de reclusão em regime fechado pelo homicídio de Lucas José Antônio, uma das cinco testemunhas da Operação Capa Preta. A Promotoria de Justiça vai recorrer da sentença por entender que deveria haver execução provisória da pena em razão da decisão soberana do Tribunal do Júri.

A Operação Capa Preta foi realizada em dezembro de 2010 com o Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJRJ) devida à atuação de dois vereadores na milícia. Na ocasião, os parlamentares Jonas Gonçalves da Silva, o 'Jonas é Nois', e 'Chiquinho Grandão' eram detentores de foro privilegiado por causa da função que exerciam. O crime foi cometido para silenciar as testemunhas da Operação Capa Preta, promovendo um verdadeiro 'banho de sangue' em Duque de Caxias.

Eder é filho de Jonas, ex-PM e ex-vereador de Duque de Caxias, e integrante da mesma organização criminosa. Na época, o grupo atuava na cobrança de taxas para serviços clandestinos de segurança, venda de cestas básicas com valores elevados, tráfico de armas de fogo, agiotagem, exploração da distribuição ilícita de sinal de televisão a cabo e internet, exploração de jogos de azar, prestação de serviços de transporte coletivo alternativo e a venda ilegal de botijões de gás.
De acordo com as investigações, a quadrilha atua no município desde 2007 nos bairros de Pantanal, Parque Fluminense, Parque Muisa, São Bento, Pilar, Vila Rosário, Vila São José, Parque Suécia, Lote XV, Sarapuí, Vila Guaíra, Jardim Leal e Gramacho.

Essa foi a primeira das condenações. O processo havia sido desaforado da Comarca de Duque de Caxias para julgamento na Comarca da Capital. O réu ainda será julgado pelos homicídios de Alex José do Carmo Pinto, Nelson Franco Coutinho, Luizonaldo Chaves da Silva e Joilson Fernandes da Silva, que também era testemunha da Operação Capa Preta.
Integrante da milícia foragido preso neste ano
O miliciano Bruno Barbosa Ramalho, de 35 anos, foi capturado, em 30 de abril deste ano, após agredir um homem dentro de uma lanchonete na Avenida Braz de Pina, em Vista Alegre, Zona Norte do Rio. Dono de uma extensa ficha criminal, dessa vez, ele foi detido por ameaça e porte ilegal de arma de fogo.
Bruno possuía seis anotações criminais por homicídios, desde do simples ao qualificado. Além disso, em seu nome constam cerca de 10 processos criminais, nos quais praticou como integrante da organização criminosa. O miliciano foi preso pela primeira vez em janeiro de 2015 e deixou o presídio em setembro de 2021. Ele respondeu a processos por homicídio e formação de quadrilha.
Bruno integrava a quadrilha junto com seus dois irmãos, Marcelo Barbosa Ramalho; o 'MM' e o ex-policial militar Rodrigo Barbosa Ramalho. Entre 2011 e 2012, Marcelo e Bruno foram julgados pela morte de Carlos Alberto Gonçalves da Fonseca, em um bar em Duque de Caxias, juntamente com outros milicianos. A motivação da morte não foi esclarecida.
Em 2013, 'Jonas é Nós' e 'Fabinho é Nós', líderes da quadrilha, foram denunciados por coação de processo em um caso de homicídio qualificado, juntamente com Bruno e Marcelo. No período entre fevereiro de 2012 e fevereiro de 2013, eles ameaçaram de morte, de maneira recorrente, duas testemunhas do inquérito policial que investigou a morte de Joilson Fernandes da Silva. Ele era um dos cinco colaboradores de uma operação que identificou a atuação de integrantes da milícia.
Já em 2015, Marcelo, que é apontado como o matador da milícia, foi preso por policiais da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF) após serem expedidos dois mandado por homicídio qualificado em seu nome. No mesmo ano, Bruno também foi preso, em um deposito de gás, na cidade de Jaboatão dos Guararapes, no estado de Pernambuco. Ele foi capturado pela morte de Allan dos Santos de Castro, 27 anos, que foi assassinado a tiros no dia 13 de junho de 2014.
Alan não era o alvo da milícia que Bruno integrava, mas estava ao lado de um homem que teve a morte decretada pelo bando. O homem jurado de morte conseguiu fugir, mas Alan acabou sendo morto. Segundo as investigações da época, o alvo dos milicianos teria matado um morador local e por isso estaria sendo procurado.
Na época, Bruno foi trazido para o Rio de Janeiro e encaminhado ao Complexo Penitenciário de Bangu, na Zona Oeste. Na ocasião, ele já havia sido preso por outro homicídio, ocorrido em 2012 e por um mandado de prisão por formação de quadrilha, de 2010.