Lima Barreto morreu aos 39 anos, em 1922Reprodução

Rio - O Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo da UFRJ, decidiu conceder título póstumo de doutor honoris causa ao escritor Lima Barreto. A honraria é conferida a personalidades nacionais e internacionais de alta expressão.
Nascido em Laranjeiras, Zona Sul do Rio, em 1881, era filho de um topógrafo e de uma professora primária. Ficou órfão de mãe aos 7 anos, quando ela morreu de tuberculose. O ano de 2022 foi marcado pelo primeiro centenário do falecimento do artista.

A sugestão da homenagem veio da professora Beatriz Resende, da Faculdade de Letras da UFRJ. Lima Barreto foi um dos maiores escritores da fase pré-modernista no Brasil.

Segundo o parecer do processo, entre os 14 e 16 anos prestou concurso de acesso ao Colégio Pedro II e, habilitado, prosseguiu com os estudos para concorrer a uma vaga na Escola Politécnica, hoje da UFRJ. Em 1897, iniciou os estudos no curso de Engenharia Civil.

Durante o curso, experimentou adversidades com colegas e professores do curso. Pela condição social e cor da pele, sofreu perseguições de docentes, sendo a mais conhecida aquela praticada por Licínio Atanásio Cardoso, professor da cadeira de Mecânica Racional.
De acordo com o primeiro biógrafo da vida de Lima Barreto, Francisco de Assis Barbosa, o escritor sofreu discriminação. O racismo e a perseguição tornaram-se evidentes e Lima Barreto, em seu diário, anotou: “É triste não ser branco”. Na condição de preto e pobre, continuaria a ser reprovado nas disciplinas.

Em 1903, abandonou o curso de Engenharia devido à condição do seu pai e à necessidade de sustentar três irmãos. No ano seguinte, prestou concurso para escriturário do Ministério da Guerra. Em 1905, ingressou no jornalismo com reportagens que escreveu para o Correio da Manhã. Dois anos depois, fundou a revista Floreal, que teve apenas quatro números publicados.

Em 1914, o escritor foi internado no Hospício Nacional de Alienados, atualmente o Palácio Univesitário, da UFRJ, e retornou em 1919. Na segunda internação redigiu "Diário do Hospício".

Lima é autor das obras "Recordações do Escrivão Isaías Caminha" (romance de estreia do autor, em 1909, que narra a história de um jovem negro do interior, vítima de sérios preconceitos), "Triste Fim de Policarpo Quaresma", "Numa e a Ninfa" (1915), "Vida e morte de M.J. Gonzaga de Sá" (1919), "Os Bruzundangas" (1923) e "Clara dos Anjos" (1948). Ele também escreveu contos como "O Homem que Sabia Javanês".

Vítima de ataque cardíaco, ele morreu com apenas 41 anos, nove meses depois da Semana de Arte Moderna.

"Lima Barreto adotou um estilo literário singular e escrevia suas obras com simplicidade. Por opção, muitas vezes ignorou as normas gramaticais e de estilo, o que certamente provocou descontentamento dos meios acadêmicos e dos conservadores. Certamente isso rendeu a Lima Barreto severas críticas dos letrados tradicionais da época", afirmou o professor Clynton Lourenço, relator do processo no Consuni.

Segundo Carmen Tindó, professora aposentada da Faculdade de Letras, Lima foi um escritor preocupado com as questões de seu tempo. “[Ele] sempre se preocupou com os marginalizados, com os que viviam apartados dos interesses e benesses do poder central. Escreveu sobre os subúrbios, sobre as cenas cotidianas do povo do Rio. A Rua do Ouvidor era um dos seus espaços preferidos, não por ser um local luxuoso da belle époque carioca, mas por poder ser confrontado com os espaços pobres da cidade”, destacou.
No início da década de 1980, a vida de Lima Barreto foi retratada no enredo da Unidos da Tijuca.