Movimentação na feira da GlóriaPedro Ivo/Agência O DIA
Feira da Glória: Um encontro de culturas e tradições no coração do Rio
Programa atrai não apenas os moradores da região, mas também visitantes de todas as partes da cidade
Rio - No coração do Rio, a tradicional Feira da Glória reuniu histórias, sabores e promoveu uma verdadeira reunião de culturas em um ambiente único neste domingo (23). Localizado no Centro da cidade, o evento é um verdadeiro ponto de encontro para moradores e visitantes que desejam vivenciar a rica diversidade da região. Com suas barracas coloridas que se misturam com as características do bairro, o local se torna uma representação viva da tradição carioca, na qual o samba se mescla à culinária de diversos lugares do Brasil e do mundo. Além de oferecer uma encantadora variedade de artesanatos, proporciona uma experiência inesquecível.
Com origens incertas, alguns moradores mais antigos relatam que a feira remonta ao início do século passado, quando era comum a presença de feiras livres em diversos pontos da cidade. No entanto, foi na década de 80 que a Feira da Glória ganhou mais força e passou a atrair não apenas pessoas da região, mas também visitantes de todas as partes do Rio. Uma delas delas é Thaís Machado, 36 anos, que nasceu no Rio, mas pouco frequentou a cidade.
"Nasci no Rio, fui criada em Salvador e atualmente moro em Brasília. Não tive a oportunidade de viver aqui, mas agora tenho vindo mais. Esta é a minha primeira vez na feira, que é uma verdadeira fusão da cidade, onde tudo acontece ao mesmo tempo e no mesmo lugar. Você consegue ver uma barraca de peixe em frente a uma de maracujá, logo à frente, uma feirante vendendo ecobags do biscoito Globo, e daqui a pouco, samba em algum outro lugar", contou, entusiasmada, a escritora.
Ao longo dos anos, a Feira da Glória se consolidou como um espaço multicultural, acolhendo a presença de imigrantes e suas respectivas culturas, como é o caso de PapafTy Diaw, um senegalês que carrega consigo a riqueza da cultura africana por meio de suas roupas e artesanatos. "Estou no Brasil há nove anos, vim sozinho e trabalho expondo as roupas da nossa cultura na Uruguaiana, no Centro. Há dois anos, trabalho na Feira da Glória vendendo camisas e conjuntos de tecido africano. O público é muito tranquilo, aprecia as peças e, às vezes, mesmo sem dinheiro, voltam para levar algo da nossa cultura", disse o feirante com satisfação.
Além da diversidade cultural, a feira também é um espaço de convívio e descontração para famílias, amigos e casais, como é o caso de Janaina Alves, microempresária de Rio das Ostras, que tirou o domingo para aproveitar com a família. "Sempre que temos uma folga, gostamos de vir à Feira da Glória. Recentemente, fizeram uma reforma, mudaram algumas coisas de lugar, colocaram mais banheiros químicos, o que é muito válido para os frequentadores. Eu gosto muito, compro um monte de coisinhas, o clima é muito agradável", compartilhou a matriarca, mostrando seus achados com orgulho.
Já o morador de Copacabana Cleber Varella, 65 anos, acompanhado da mulher, Bernadete Varella, 65, relatou que foi à feira pela primeira vez. "Minha filha vem com frequência para as rodas de samba, conheço até o pessoal que toca, mas esta é a primeira vez que estamos aqui. É um clima muito legal, descontraído, uma mistura da feira tradicional com artesanatos, comidas e cervejas artesanais. Além disso, é um lugar histórico, cercado por prédios marcantes", pontuou o economista.
O domingo na região teve uma curtição dupla. Além da tradicional feira, a Praça Paris recebeu a "Carioquíssima na Roça", encerrando a temporada julina. A festa levou comidas e bebidas típicas, músicas e brincadeiras para as famílias se divertirem. Mãe e filha, a doméstica Selma Flor, 58 anos, e a auxiliar de laboratório Ana Caroline, 26, foram surpreendidas pelo evento: "Somos do Complexo da Maré e sempre que podemos viemos até a Feira da Glória e ficar um pouco na Praça Paris. Não sabíamos da festa, mas é interessante ficar sentada no gramado curtindo o dia, ao ar livre e interagindo com diversos tipos de pessoas".
Para encerrar o dia com chave de ouro, a tradicional roda de samba da Glória teve um encontro especial. Diferente dos outros domingos, em que diversos grupos se revezam para tocar no final, desta vez aconteceu um encontro de bambas. Entre eles, estava Paulão Sete Cordas, considerado um dos maiores músicos brasileiros, com 36 anos de experiência na banda do cantor Zeca Pagodinho. Durante o evento, na Praça Marechal Deodoro, o músico, que é um ilustre morador da Glória, foi homenageado e compartilhou sua alegria em reencontrar amigos, bater papo e participar do samba.
"As rodas de samba na Glória começaram a partir do bloco Arteiros da Glória, com o grupo que chamava-se Mesa da diretoria. Com o tempo, outras rodas foram se agregando e deu nesse movimento bonito que existe hoje. É muito importante para o bairro, porque era um lugar em que só ficavam pessoas em situação de rua e a ocupação foi importante para dar uma qualidade de uso ao espaço. É um movimento que gera muito trabalho e conta com a participação ativa dos moradores do entorno", completou Paulão, líder da famosa roda de samba Gloriosa.
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