Mirantes da cidade: conheça alguns pontos de observação do Rio, que completa 11 anos como Patrimônio Mundial da Unesco
Da Zona Sul à Zona Oeste, passando pelo Centro, locais exibem vistas para cenários de natureza exuberante convivendo, muitas vezes, em harmonia com edificações
ESPECIAL - Mirantes do Rio de Janeiro. Mirante na Vista Chinesa. Nesta Quinta-feira (27). - Pedro Ivo/ Agência O Dia
ESPECIAL - Mirantes do Rio de Janeiro. Mirante na Vista Chinesa. Nesta Quinta-feira (27).Pedro Ivo/ Agência O Dia
Rio – Em julho de 2012 o Rio de Janeiro recebeu o título de Patrimônio Mundial como Paisagem Cultural Urbana, a primeira cidade do mundo a ganhar a chancela da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), sendo reconhecido o valor universal da sua paisagem. Passados 11 anos, a metrópole, que tem em seu DNA a exuberância da natureza, conta com mirantes capazes de revelar este cenário e mostrar que o Rio está à altura de merecer a alcunha.
As paisagens culturais são os ambientes que apresentam elementos naturais, que não são resultados da ação humana, e elementos produzidos pela sociedade, como escolas, prédios e ruas, sendo uma soma da beleza natural da cidade com a intervenção do homem.
A imponência do Rio, que nasceu e cresceu entre o mar e a montanha em uma utilização intencional da natureza, pode ser espiada do alto de vários ângulos diferentes. E é no inverno, quando o sol está mais baixo, as nuvens mais altas e a atmosfera mais seca, influenciando na formação das paletas de cores do entardecer, que há os pores-do-sol mais bonitos do ano. Que tal contemplar também esse espetáculo da natureza de um dos pontos de observação da cidade?
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A guia de turismo italiana Sabina Forgiarini, de 69 anos, que mora e trabalha no Rio, concorda que as vistas panorâmicas da cidade coroam os espaços que a tornam excepcional. "A única maneira de alguém entender porque o Rio de Janeiro é um patrimônio da Unesco é dos pontos mais altos. O melhor é o Cristo Redentor, o Pão de Açúcar vem em segundo lugar, mas tem muitos outros mirantes que temos vistas espetaculares, como o Morro Dois Irmãos, no Vidigal, que dá no final da praia do Leblon. Sem a vista panorâmica não se entende o porquê de o Rio ser Patrimônio Mundial, pois só de cima vemos a cidade com seus bairros e favelas ocupando o espaço quase que harmonicamente com a natureza. Eu sou apaixonada pelo Rio, e acho que a maioria das pessoas se apaixona pela vista", diz a guia, que levava turistas espanhóis ao mirante do Mosteiro de São Bento, no Centro.
Não à toa que o carioca Reinaldo Gaia, que atualmente mora na Holanda, sempre vai a pontos de observação quando está na cidade. Acompanhado por sua namorada, a holandesa Anke Hoogsteen, o músico apreciava a imagem que se oferta à beira do mirante da Vista Chinesa, no Parque Nacional da Tijuca, para mostrar à estrangeira o que o Rio tem de melhor e mais bonito.
"A conexão da cidade com a natureza e a forma clara como se vê onde estão os pontos do Rio me atraem nos mirantes. E agora no inverno, como não tem muita chuva e nem muita nuvem, é possível perceber as melhor as posições dos pontos turísticos e como a natureza faz a diferença neste ambiente que é bem maçante com muitas construções. Esse período exalta a combinação entre natureza e a manifestação do homem. Sempre que estou aqui corro para a natureza e para os mirantes. Já escalei o Pico da Tijuca, a Pedra da Gávea, a Pedra Bonita e aguardo por outras", diz o músico.
A interação entre o esbanjamento da natura e do urbanismo, no Rio, também é observado por Thiago Mourão, guia de turismo especializado em natureza, que optou pela profissão devido às belezas naturais da cidade. "O Rio tem a singularidade de ser uma das poucas cidades com construções, natureza, montanha, praia, floresta, tudo misturado, e o mirante é o lugar de ver isso de forma harmônica", comenta.
O seu colega de trabalho, Pietro Mendes, complementa que essa estação do ano é a mais adequada para ter um espetáculo diante dos olhos.
"No inverno, a contemplação é melhor, porque não tem tantas nuvens, o céu está mais claro e o degradê do final do dia, aquela mistura de cores no céu, fica mais atenuante do que no verão. Só quem presta atenção nos pequenos detalhes que percebe", afirma.
Os dois guias, que fazem trilhas com frequência, concordam que o momento de contemplação do visual no mirante é a razão principal da caminhada. Conhecedora das montanhas da região, a dupla cita o Parque Estadual do Grajaú como um exemplo na cidade de oferecer, além de um cenário da Zona Norte de tirar o fôlego – ainda mais depois de uma escalada -, um bom suporte para os visitantes. Eles consideram que, no geral, a estrutura de visitação dos parques precisa melhorar, como a oferta e as condições dos banheiros. Já a marcação das trilhas é um ponto positivo reconhecido por ambos.
O luto pela morte da avó fez com que o bombeiro René Santos, de 27, buscasse o contato com a natureza como antídoto contra a ansiedade, em 2019. Desde então, escala pedras do Rio com amigos, e juntos criaram o grupo Pegada de Trilheiros. "A minha paixão por trilha cresceu de acordo com o que eu ia conhecendo de meio ambiente da cidade, pois natureza acalma e traz renovo e refrigério que não tem igual", conta.
Lugar com natureza acessível e perto das pessoas, é fácil nutrir paixão pelo cenário do Rio. O militar Nicolas Rodrigues da Costa, 24, sempre faz trilhas por conta da vista do alto, a cereja do bolo da atividade, e diz que gosta de ir para lugares que ainda não explorou.
"Eu vou para mirantes com frequência, pois gosto de fazer trilhas e tirar fotos bonitas, e é totalmente gratificante chegar ao topo e pegar o visual, ainda mais agora no inverno, que é mais bonito. Já fui na Pedra Bonita, no Mirante Dona Marta, no Morro Dois Irmãos, no Pico da Pedra Branca, na Tijuca, que é mais difícil".
Mirante do Mosteiro de São Bento
Com 432 anos de história, o Mosteiro de São Bento possui um mirante com visão completa do Museu do Amanhã, no Píer Mauá, da Ponte Rio-Niterói e da Baía de Guanabara. O monge Dom Gabriel Alves, há mais de 30 anos no mosteiro, chegou a acompanhar as obras da instituição através do observatório.
"O espaço do mirante é um edifício dos monges, onde funcionam nossos departamentos pessoais, mas com a construção do museu, adquiriu-se o cenário e o termo 'mirante'. Muitas pessoas dizem que é a vista mais bonita do museu, a grande beleza é que ela é de cima do ícone arquitetônico, e no entardecer não há nada mais bonito. Vem muita gente no pôr do sol. Porém, durante o dia é bem legal também, para contemplar o antigo (a igreja) e o novo (o museu)", conta.
Mirante do Rato Molhado, em Santa Teresa
Conhecida por sua cena artística e arquitetura integrada à natureza, o bairro da Região Central, proporciona uma das vistas mais deslumbrantes do Centro. Situado no alto de Santa Teresa, na Praça Napoleão Muniz Freire, do ponto vê-se, entre as folhas das árvores, o Aeroporto Santos Dumont, a Ponte Rio-Niterói, o Museu de Arte Moderna (MAM) e o bairro da Glória. Tendo disposição para subir as ladeiras, é possível ir a pé. Caso contrário, o acesso por carro é sem dificuldades.
Mirante do Pasmado, em Botafogo
Fica no Parque Yitzhak Rabin, na Zona Sul, a menos de dois quilômetros do Pão de Açúcar, um dos maiores cartões-postais da cidade. Do sossegado mirante do Pasmado, estrategicamente localizado no Morro do Pasmado, de onde uma favela de mesmo nome foi removida nos anos 50, os visitantes ficam pasmados com a vista privilegiada para a Enseada de Botafogo, o Morro da Urca, o Pão de Açúcar e o Corcovado.
O local ainda abriga, desde janeiro, o Memorial às Vítimas do Holocausto, o novo espaço museológico da cidade. O acesso deve ser feito pela Rua General Severiano, subindo a rampa do Túnel do Pasmado por Botafogo.
Parque Natural Municipal da Catacumba, na Lagoa
Às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, o parque conta com ampla área verde – reflorestada na década de 70 -, esculturas e mirantes. Após uma tranquila trilha de 600 metros, chega-se ao mirante do Sacopã, onde é possível ter uma bonita vista da Lagoa Rodrigo de Freitas e do Jardim Botânico, além da praia de Ipanema, da Pedra da Gávea e do Morro Dois Irmãos.
O estudante João Marcos Ferreira, de 18 anos, fazia trilha no local com amigos, na última quinta-feira.
"Adoro caminhar pela natureza para conhecê-la melhor, e ter a vista de tudo no final é bem bonito e interessante. Chegar ao topo e ter a visão panorâmica, enorme do Rio e da Lagoa, ponto turístico da cidade, é lindo. Hoje, então, o tempo está limpíssimo", conta admirado.
O parque fica na Avenida Epitácio Pessoa, 3000 - Lagoa e funciona de terça a domingo, das 8h às 17h.
Vista Chinesa, no Parque Nacional da Tijuca
O famoso mirante, construído entre 1902 e 1906, tem uma espécie de pagode (um tipo de torre com múltiplas beiradas, comum em algumas partes da Ásia) em estilo oriental, uma homenagem aos chineses que trouxeram o cultivo do chá para o Brasil no início do século XIX. Do local, se descortina uma deslumbrante paisagem de praticamente toda a zona sul da cidade, incluindo a Lagoa Rodrigo de Freitas.
Joao Marcelo Diniz, 35, de Belo Horizonte, está no Rio com a filha Estela, de 6. Eles vêm tradicionalmente juntos à cidade no mês de julho, para comemorar o aniversário de pai e filha. Ele quis mostrar para a menina os pontos turísticos onde já viveu algumas histórias. "Acho mirante interessante pela visão panorâmica da cidade. Como tenho lembranças do Rio de Janeiro, consigo apontar os bairros e regiões, a Lagoa, o Jockey, e contar um pouco da minha relação com o Rio para a minha filha, os mirantes facilitam isso. Celebramos nosso aniversário no Rio, e como é em uma estação com temperatura mais amena, temos a oportunidade de ter o céu mais límpido, com menos insetos. O visual é muito lindo, comentei com a Estela sobre a Vista Chinesa, ela ainda não tinha vindo e ficou interessada, e está curtindo muito", conta.
O mirante funciona diariamente das 8h às 17h.
Mirante Dona Marta, no Parque Nacional da Tijuca
Outro local capaz de oferecer uma visão panorâmica e bela da enseada de Botafogo pontilhada por embarcações, além do Pão de Açúcar e do Cristo Redentor, bem perto na visão traseira. Também no Parque Nacional da Tijuca, é possível visitar o mirante sem dificuldades, apenas tendo que encarar uma sequência de degraus com pouca elevação até o platô, se for a pé.
Funciona diariamente das 8h às 17h.
Mirante do Roncador, na Prainha, Recreio dos Bandeirantes
Revitalizado em julho passado, o espaço da Zona Oeste ganhou um balanço de eucalipto, para os visitantes tirarem fotos, e pintura das mesas, novos bancos de concreto e piso, uma cerca de eucalipto e bancos de madeira. Do local, é possível contemplar as praias do Recreio dos Bandeirantes e da Barra da Tijuca, ambas na Zona Oeste, com a cadeia de montanhas apelidada de 'Gigante Adormecido', por lembrar a silhueta de um gigante dormindo –a cabeça é a Pedra da Gávea e os pés são o Pão de Açúcar.
Mirante do Caeté, no Recreio dos Bandeirantes
Dentro do Parque Natural Municipal da Prainha, uma trilha ecológica de nível fácil, em meio à Mata Atlântica, leva ao mirante do Caeté, com vista para o mar da Prainha, e para as praias da Macumba, do Secreto e do Recreio, todas na Zona Oeste. Mas há um ponto de cuidado que deve ser citado: do lado esquerdo do mirante, há uma pedra para o lado de fora do deck de madeira, onde visitantes costumam acessar para tirar fotos. O local, porém, é perigoso e tem risco de queda. Fique apenas no deck de madeira do ponto de observatório.
O parque fica na Avenida Estado da Guanabara, 58, e funciona diariamente das 8h às 17h.
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