O radialista Edivergenes Cardoso, o Buca, vive há cinco anos no RetiroMarcela Ribeiro/Agência O Dia
Apesar da excelente infraestrutura oferecida aos moradores, a instituição, presidida há mais de 20 anos pelo ator Stepan Nercessian, opera mensalmente com um déficit mensal de 30%.
Segundo Cida Cabral, administradora do retiro há 22 anos, o custo mensal para manter toda a estrutura em pleno funcionamento é alto e chega a quase R$ 200 mil. Por isso, a instituição, que possui pouco mais de 100 doadores mensais não consegue alcançar o valor necessário para pagar todas as despesas.
"A gente não arrecada isso nunca. O Retiro vive exclusivamente de doações. A gente não recebe nenhum tipo de ajuda federal, municipal, estadual, nada disso. Então, a gente depende, da vontade das pessoas que, graças a Deus, têm um carinho muito especial pelo Retiro. As pessoas comuns e mais alguns artistas que, de fato, colaboram com a gente. Então, a gente continua precisando aumentar essa carteira de doadores, que atualmente está muito pequena", explica.
A ideia, segundo ela, é chegar a 500 colaboradores fixos mensais. Para isso, o Retiro conta com a voz de grandes artistas, como Gloria Pires, que costuma pedir ajuda em suas redes sociais. Ela completou 60 anos recentemente e pediu que o presente fosse feito em forma de doações para a instituição.
Artistas renomados vivem no Retiro
Dentre os artistas famosos que moram atualmente no Retiro estão o compositor Sérgio Natureza, com mais de 250 músicas gravadas por grandes artistas como Paulinho da Viola e Elis Regina. De atores conhecidos da TV estão: Rui Resende, Jaime Leibovitch e Paulo César Pereio, 82 anos, consagrado por papéis marcantes na TV, que vive desde março de 2020 no local. Ele não costuma conceder entrevistas e é mais reservado, preferindo ficar dentro da própria casa.
É o que revela Jaime Leibovitch, 75 anos, morador do Retiro há três, que pode ser visto atualmente no ar na reprise de 'Cúmplices de um Resgate', do SBT, exibida pela primeira vez em 2015.
"Acordo sempre às três horas da manhã. Aí eu ligo o Canal Brasil. É quando eu vejo muitos dos colegas que eu quase não vejo aqui. Eu vejo, por exemplo, o Paulo César Pereio dando um show de interpretação. Eu vejo ele mais no Canal Brasil do que aqui. Aqui ele costuma ficar mais em casa", explica.
Leibovitch decidiu deixar a quitinete no Flamengo, na Zona Sul, há três anos, já que, segundo ele, a aposentadoria só dava para pagar o aluguel ou o plano de saúde. A perda do filho único, Andrei, de 43 anos, em um acidente há cinco anos, também pesou em sua decisão.
"Foi a coisa mais sábia que fiz. Depois de uma certa idade, sobretudo depois da pandemia, eu tive que decidir o que eu ia fazer da velhice que restava. Eu chamo de minha roça, gosto de ler, estudar, aqui tem uma biblioteca excelente, cuido das plantas, coisa que nunca fiz na vida e eu sempre quis viver em comunidade e aqui eu consigo", conta.
Jaime explica também que no Retiro ele tem liberdade para sair, fazer alguns trabalhos, viajar. Para aqueles que não têm limitações de saúde, existe essa possibilidade de se deslocar e voltar quando quiser.
"Fazer teatro é a minha paixão. Eu tenho alguns convites, algumas propostas para teatro. Então, eu vou ter que conciliar, no momento em que eu tiver que ensaiar, com o fato de que aqui é muito longe. Provavelmente vou passar meus tempos lá. O Retiro me permite, porque aqui é um grande condomínio. Aqui não é um asilo. Porque tem gente que não conhece, que tem essa impressão, aqui eu posso viajar, trabalhar", afirma.
Os residentes moram em casas geminadas em uma rua tranquila do espaço, cercado de área verde e em clima de cidade de interior. Recebem seis refeições por dia, têm as roupas limpas na lavanderia, plano de saúde e atendimento médico semanal, técnicos de enfermagem diariamente, fisioterapia e atendimento psicológico. A contribuição para viver lá varia conforme a renda de cada um e, segundo relata Cida, como a maioria recebe um salário mínimo de aposentadoria, costumam contribuir mensalmente com R$ 200 ou R$ 300, pois eles também têm outras despesas pessoais.
As casas são compostas por sala, quarto, banheiro e uma varanda, no qual alguns artistas gostam de passar à tarde descansando. É o caso do radialista aposentado Edivergenes Cardoso, conhecido como Buca, 88 anos, que trabalhou como repórter esportivo em diversas rádios.
OS 105 anos serão celebrados com uma feijoada beneficente, que acontece neste domingo, às 13h no Nox Louge, na Estrada dos Bandeirantes, 7.205, com ingressos a R$ 60. Todo o valor arrecadado será doado para o Retiro dos Artistas.
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Telefonemas diários e fila de espera
Das 50 casas, apenas duas estão livres por causa de falecimentos recentes de seus residentes. Uma delas, pertencia a Leny Andrade, que morreu aos 80 anos, no dia 24 de julho.
Cida Cabral explica que diariamente recebe ligações de pessoas interessadas em viver no Retiro, de artistas e não artistas, mas a instituição só atende pessoas ligadas à classe artística.
"E essa fila a gente anda com ela. Assim, infelizmente, quando acontece o óbito, libera o espaço. Então vamos até essas pessoas que vão nos ligando e vamos tentar, dentro de uma pesquisa, com essa equipe técnica, entender quem está com a maior necessidade. E não necessariamente atender naquela ordem de chegada. A ordem, na verdade, é de quem está precisando mais naquele momento", diz.
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