A operação no Sistema Guandu foi interrompida após uma espuma branca aparecer no manancial de captação da unidade nesta segunda-feira (28)Pedro Ivo/Agência O Dia
Publicado 29/08/2023 16:27 | Atualizado 29/08/2023 16:45
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Rio - Os surfactantes, compostos presente nos detergentes, responsável pela espuma branca que paralisou a captação de água por 14 horas na Estação de Tratamento de Água (ETA) do Guandu, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, nesta segunda-feira (28), foram despejados de forma irregular no Rio Queimados, segundo a Companhia de Água e Esgotos do Rio (Cedae).
O Rio Queimados possui 12,5 km de extensão e está localizado no município de Queimados, também na Baixada Fluminense. Ele tem os rios Camorim e Abel, que também passam pela cidade, como seus formadores.
O rio ainda faz parte da Bacia do Rio Guandu, pertencente à Região Hidrográfica II do Rio de Janeiro. O Rio Queimados é um dos principais afluentes do Rio Guandu, localizado ao braço leste das águas que compõem a ETA. 
Apesar da identificação do local onde o surfactante foi despejado de forma irregular, ainda não há uma confirmação sobre o autor do despejo considerado como crime ambiental. O caso está sendo investigado pelo Instituto Estadual do Meio Ambiente (Inea) e pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA).
De acordo com a Polícia Civil, a investigação segue em andamento para identificar a origem do material.
MPRJ cobra explicações
Nesta segunda-feira (28), o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) oficiou os órgãos e entidades responsáveis pela preservação e monitoramento do manancial em que está localizado o sistema Guandu, responsável pelo abastecimento de água potável, para dar explicações sobre o assunto. O prazo para o documento ser respondido é de 24h devido a urgência sobre o tema.
A ação, segundo o MPRJ, visa verificar as medidas concretas a serem adotadas para corrigir problemas identificados no sistema de abastecimento de água que atende grande parte da região metropolitana do Rio de Janeiro e evitar sua recorrência.
Foram oficiados pelo Grupo Temático Temporário voltado para a garantia da Segurança Hídrica (GTT-SH) do MPRJ e pela Promotoria de Nova Iguaçu o Inea, a Cedae, o Comitê das Bacias Hidrográficas do Guandu, a Agenersa e a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, para que prestem informações sobre o ocorrido.

"O MPRJ busca apurar se há riscos ao meio ambiente e à saúde da população, se o Plano de Contingência foi acionado adequadamente, qual a origem da 'espuma branca', se foram coletadas amostras e encaminhadas para análise laboratorial, se a população está sendo adequadamente cientificada acerca do problema e seus impactos, o prazo para a normalização do abastecimento, entre outras informações", informou o órgão.
A Cedae informou que recebeu o ofício e irá responder dentro do prazo estipulado. O órgão ressaltou que, logo que foi identificada a presença do material, foi adotado o protocolo de contingência, paralisando imediatamente a operação da estação com o objetivo de garantir a segurança hídrica da população.
Segundo a Polícia Civil, a DPMA já respondeu ao Ministério Público com a cópia do Inquérito Policial. Procuradas, a Agenersa, o Inea e Comitê das Bacias Hidrográficas do Guandu ainda não responderam. O espaço está aberto para manifestação.
Relembre a paralisação
A ETA do Guandu, em Nova Iguaçu, voltou a operar com 100% da capacidade na madrugada desta terça-feira (29). O funcionamento da unidade foi interrompido no início da manhã de segunda-feira (28), por conta da presença de surfactantes - composto presente em detergentes -, que provocou uma espuma branca no Rio Guandu. A Cedae retomou a produção de água ainda na noite de ontem, após 14 horas de paralisação, mas a captação só foi totalmente normalizada às 4h17 de hoje.
De acordo com a Cedae, a água com surfactante não foi, em momento algum, distribuída para a população, já que, assim que foi constatada a presença do composto, a captação foi interrompida e a água que estava no interior da estação foi descartada. A água que ainda chega nas casas está dentro dos padrões de potabilidade e é segura para consumo. Apesar da retomada da operação na ETA, o abastecimento pode levar até 72 horas para ser normalizado nos oito municípios atendidos pelo Sistema Guandu, que é responsável por 80% da água potável da capital e Região Metropolitana. A interrupção afetou 11 milhões de pessoas.
Por conta do impacto no abastecimento, a Secretaria de Estado de Educação informou que hoje, o Colégio Estadual Rodrigo Otávio Filho, em Vaz Lobo, na Zona Norte, terá aulas em horário parcial. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, ontem as unidades da rede funcionaram normalmente, mas, nesta terça-feira, devido ao tempo necessário para a completa normalização do abastecimento, oito escolas estão fechadas e outras 26 em funcionamento parcial.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) divulgou um comunicado informando que, devido à perspectiva de retorno gradual do abastecimento na capital e na Baixada Fluminense, a Reitoria decidiu pela suspensão das aulas nas unidades do Rio e de Duque de Caxias. A Universidade Federal do Estado do Rio (Unirio) também não terá atividades em todos os campi, nos turnos da tarde e noite. "Apenas os procedimentos de heteroidentificação do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), agendados para hoje e amanhã, estão mantidos".
Segundo a Águas do Rio, com o processo de normalização acontecendo de forma gradual, ainda há falta d'água em diversos pontos da região sob influência da ETA, que compreende mais de 300 bairros e sub-bairros das cidades do Rio, Nova Iguaçu, Nilópolis, Duque de Caxias, São João de Meriti, Belford Roxo, Queimados e Mesquita, principalmente pontas de rede e áreas mais elevadas.
A Rio+Saneamento informou que voltou a abastecer, desde o final da noite de ontem, os 21 bairros da Zona Oeste atendidos pela empresa, mas algumas localidades ainda podem sentir o impacto. "A concessionária orienta aos consumidores que utilizem água de forma consciente e adiem tarefas não essenciais ou que exijam grande consumo de água até a efetiva normalização do sistema".
Em nota, a Iguá disse que após o restabelecimento da ETA Guandu, o fornecimento de água começou a ser gradativamente retomado na madrugada desta terça-feira (29), mas os 18 bairros da capital fluminense atendidos por ela ainda sofrem impacto. A empresa esclarece que, até que a operação seja totalmente reestabelecida, pode haver intercorrências, incluindo baixa pressão e falta d’água. "A concessionária reforça a necessidade de consumo consciente da água durante esse período (...) A Iguá lamenta quaisquer transtornos causados e, caso necessário, disponibilizará caminhões-pipa para locais emergenciais como hospitais, clínicas e UPAs, entre outros".
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