Léo Motta, 43, já morou nas ruas e vai palestrar pela terceira vez na Bienal do LivroDivulgação / Arquivo pessoal

Rio - O escritor Léo Motta, de 43 anos, é ex-dependente químico e viveu, durante 6 meses, nas ruas do Rio de Janeiro. Nesta 21ª edição, a Bienal do Livro convidou o autor para palestrar pela terceira vez no festival. Desta vez, no estande "Paixão de Ler", Léo vai contar sobre uma trajetória de derrotas e vitórias, desde a experiência na rua até o lançamento de livros no maior evento literário do país.
Ao DIA, o escritor relatou algumas de suas vivências. "Quero mostrar que uma história triste não impede um final feliz. Eu entrei na escola aos 14 anos, fui vítima da dependência química e meu filho, com apenas 5 meses, foi assassinado pela mãe. Tive uma overdose na frente da minha mãe e, por isso, fui para as ruas. Na palestra, vou contar como sai daquela situação", disse.
Em 2019, o escritor lançou seu livro "Há vida depois das marquises" na Bienal e, com isso, se tornou o primeiro ex-morador de rua a palestrar no evento. Já em 2021, publicou o "Há vida depois das marquises: sonhos" e também foi convidado pelo festival. 
No seu primeiro livro, o homem traça uma história cronológica desde quando chegou às ruas até sair delas. Já na segunda obra literária, Léo escreve sobre o reencontro com seu pai após 38 anos e como a pandemia afetou as pessoas em situação de rua. "Vou lançar o meu terceiro livro ano que vem e me tornar o primeiro ex-morador de rua no mundo a produzir uma trilogia literária", revelou.   
Descalço e com um cobertor no ombro. É assim que Léo vai palestrar no estande "Paixão de Ler", às 16h, desta sexta-feira (8). "Eu vou entrar nos pavilhões deste jeito para mostrar às pessoas, que eu era um homem que tentava a vida do lado de fora e hoje estou aqui". 
Além de dois livros publicados, Léo Motta também criou o projeto "A Rua é a Casa de Muitos", onde o escritor leva café da manhã para mais de 200 pessoas em situação de rua. Ele também é embaixador de um projeto cultural chamado "Menina, Moça, Mulher". Neste, cerca de 300 livros ficam dentro de uma geladeira e qualquer mulher, que vive nas ruas, pode pegar para ler.
Léo Motta é pai de quatro filhos, largou as drogas em 2016 e, hoje, quer espalhar esperança para as pessoas que estão mergulhadas na dependência química. "Quem está nas ruas pode sair e dar a volta por cima. Sonho que um dia a Bienal abra as portas para essa galera: eles não têm acesso a internet, mas muitos lêem e me pedem livros", explicou.
Dentre as tantas dificuldades que passou nas calçadas do Rio de Janeiro, o escritor destacou duas. "Fui pedir um pão na padaria e a mulher cuspiu no meu rosto. Quando pedi água em um restaurante, o segurança me botou para fora e me deu um copo com água e sal. Mas, na Bienal, vou contar sobre como o amor me tirou das ruas, depois que fui acolhido por uma instituição. Hoje, tenho dois livros, um documentário, dois clipes musicais e alguns projetos sociais". 
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini