Bruno de Carvalho do Vale, pai de Wesley, foi ao IML para realizar a liberação do corpoPedro Ivo / Agência O Dia

Rio - O adolescente Wesley Barbosa de Carvalho, de 17 anos, morto após ser baleado, neste domingo (17), na localidade Buraco da Cidade Alta, em Brás de Pina, na Zona Norte do Rio, era considerado pela família um menino carinhoso, amável e tinha o sonho de ser motoboy. O jovem estava dormindo quando ouviu os disparos, saiu de casa para ver o que estava acontecendo e foi atingido.
Familiares de Wesley estiveram no Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, nesta segunda-feira (18), para realizar a liberação do corpo.
De acordo com o pai do jovem, Bruno de Carvalho do Vale, criminosos entraram na comunidade e passaram atirando. "A gente estava saindo para ir trabalhar e se deparou com um rapaz de moto que passou pela gente. Ele foi e voltou. Nisso, ele falou 'perdeu'. Achei que fosse um assalto. Foi quando ele fez os disparos. Estava eu, meu filho e o outro rapaz que trabalha com a gente. O Wesley acordou com os tiros pensando que eu tinha sido baleado. Quando ele saiu de casa, os bandidos atingiram ele. A gente pode ter sido confundido com bandido, mas a redondeza sabe que somos trabalhadores, ninguém é do mal ali", relatou. 
Wesley foi atingido no tórax, abdômen e na perna direita. Ele chegou a ser socorrido pelos familiares e encaminhado ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha. No entanto, não resistiu aos ferimentos e morreu na unidade. Quando viu o filho baleado, Bruno afirma que perdeu as forças e precisou de ajuda para socorrê-lo. "Não tinha nem como pegar ele, eu estava fraco. O irmão dele pegou ele, colocou na kombi e fomos pro hospital. Aí a tarde veio a notícia que ele não resistiu", explicou. 
Horas depois do ocorrido, um ônibus da Viação Vera Cruz, da linha 560L (Caxias x Méier) foi incendiado na Rua Aniquira, em Cordovil, também na Zona Norte do Rio. A PM afirma que moradores da Comunidade da Tinta atearam fogo no veículo em protesto. No entanto, a motivação da manifestação não foi informada.
De acordo com a designer de unhas Ana Carla Hadassa, prima de Wesley, além de ajudar o pai na feira de domingo, o jovem também trabalhava no lava jato da família. "Ele era trabalhador e tinha tantos sonhos, mas infelizmente foram interrompidos. Todos amavam ter ele por perto, era um menino carinhoso, amável e educado. Triste demais, vai deixar saudades", lamentou. 
Bruna Barbosa dos Santos, mãe de Wesley, contou que estava dormindo quando ouviu os disparos. "Eu vi eles correndo e gritando, foi um desespero ver meu filho com três tiros", disse emocionada. 
Em agosto, Wesley completou 17 anos e seu presente foi a entrada em um consórcio para, no futuro, adquirir uma moto. "Eu fiz um consórcio para ele porque quando ele fizesse 18 anos, tiraria a carteira e compraria uma moto. O sonho dele era ser motoboy", lembrou o pai do rapaz. 
Após a morte do adolescente, familiares querem procurar outro lugar para morar. "'Tô' doido para ir embora daquele lugar, é uma guerra sem fim. Os trabalhadores ficam a mercê e a gente não tem nada a ver com isso. Se querem fazer guerra, fazem com quem quer guerra. A gente quer paz, deixa a gente viver em paz", ressaltou Bruno. 
De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, 37 adolescentes (entre 12 e 17 anos) foram baleados na Região Metropolitana do Rio. Desses, 19 morreram e 18 ficaram feridos.
O caso foi registrado na 38ª DP (Brás de Pina) e encaminhado a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). De acordo com a Polícia Civil, agentes estão em diligências e coletando informações para identificar a autoria do crime e esclarecer os fatos.