Parentes do menino Kaio Luiz dos Santos morto no Morro do Juramento estiveram no IML, nesta Sexta-feira (22).Pedro Ivo/Agência O Dia

Rio - "Não tenho nem o que falar, a dor é tão grande”, disse Leonardo Reis, pai de Kaio de Souza Santos, de 15 anos, após a liberação do corpo no Instituto Médico Legal (IML), no Centro do Rio, na manhã desta sexta-feira (22). O jovem foi morto após ser baleado durante confronto entre criminosos, na tarde desta quinta (21), no Morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, na Zona Norte.

"O que eu tenho para falar é que eu quero justiça, mataram uma criança inocente. Eu não queria subir lá em cima para ver o corpo do meu filho que nem cachorro, jogado. Uma criança que só estava pegando um passarinho e foi morta cruelmente", lamentou Leonardo.

Jorge Luiz Filho, tio de Kaio por parte de mãe, disse que o adolescente era acostumado a brincar pelas ruas e matas da comunidade.

"O meu sobrinho, acostumado a brincar em comunidade, geralmente ele caçava passarinho na mata. Só que teve uma invasão, a facção rival baleou meu sobrinho. Foi uma fatalidade mas isso tirou a vida do meu sobrinho inocente", disse.

Jorge Luiz também explicou que foi o pai do menino, junto com outros familiares, retirou o corpo de dentro da mata. "Quando acalmou o tiroteio, tiraram o corpo. O pai dele, junto com a família e mais um pessoal que ajudo", revelou.

Segundo ele, Kaio era um menino brincalhão. "Ele soltava pipa, brincava, mas infelizmente não medida para onde ia. Uma criança quando vai brincar, não mede o que está fazendo, vai brincar, vai se distrair. A infância dele é essa", afirmou.

O relato foi reforçado pelo pai do menino, que disse que os moradores da comunidade do Juramento estavam de luto pela morte. "Ele jogava futebol, tinha a escola dele, todo mundo gostava dele da comunidade. Está todo mundo parado, de luto. Todo mundo adorava ele", disse, emocionado.

Na hora em que foi atingido pelo disparo, o jovem estava acompanhado do irmão mais novo, que conseguiu correr e se salvar. De acordo com o tio, a mãe está muito abalada.

"A minha irmã está que 'só Jesus'. Ela não teve nem condições de estar aqui hoje. O que eu peço é que as autoridades tomem providências, porque a vida dos jovens está indo embora. Como foi com meu sobrinho, poderia ser outra outra criança. E não vai dar em nada. Mais um que vai e não vão resolver nada”, falou.

Isabel dos Santos, tia do menino, muito abatida, reclamou sobre a violência desenfreada que assola o Rio de Janeiro, que tem vivido constantes episódios de guerra entre traficantes.

"Ele estava domingo com a minha mãe e hoje a gente está aqui fazendo enterro. Meu sobrinho não merecia. Meu sobrinho não é bandido. Meu sobrinho é uma criança. Onde é que vamos parar com essa violência toda? A gente não pode ir e nem vir. O que é isso gente?", desabafou.

Em meio as lágrimas, Isabel falou sobre os sonhos de vida do menino, que era apaixonado por animais. "O sonho do Kaio era ser veterinário. Podem ir na casa da minha mãe que vão ver os passarinhos dele, os bichinhos dele todos lá. Realmente, é de magoar saber que hoje eu estou aqui enterrando meu sobrinho. É muito triste", confessou.

O velório do jovem está marcado para este sábado, às 16h, no Cemitério de inhaúma, na Zona Norte do Rio.
Professora se manifesta
Uma das professoras do jovem usou as redes sociais para se manifestar sobre a violenta morte. O menino era aluno da Educação de Jovens e Adultos e estudava na Escola Municipal Cecília Meireles, em Vila Kosmos.
"Hoje um aluno nosso perdeu a vida nessa guerra insana. Uma criança!!  Mais uma criança!!! Meu Deus, é muito cansativo, dói tanto... Ontem saí da escola e ele estava andando de bicicleta, hoje ele estava estirado morto. Não consigo parar de chorar, porque a primeira referência que a mãe dele teve foi ir até a escola, no ato de desespero, para contar que o filho tinha sido atingido. A vida do K. acabou. Da Viviane [mãe] também. E a minha esperança no que eu mais amo fazer está indo junto. Quantos mais? Quantos mais?", desabafou.
Publicação da professora, feita por meio das redes sociais - Reprodução
Publicação da professora, feita por meio das redes sociaisReprodução


Disputa pelo controle do tráfico

O confronto que resultou na morte do adolescente teria começado no fim da manhã, quando criminosos rivais, supostamente da favela da Serrinha, tentaram invadir o Juramento por área de mata. A intensa troca de tiros assustou moradores e fez com que a PM reforçasse o policiamento na região. Equipes do 9º BPM (Rocha Miranda) e 41º BPM (Irajá) atuam no local e em ruas do entorno com blindados desde o início da tarde.