Missa e distribuição de doces no dia de São Cosme e Damião na Paróquia São Cosme e Damião no AndaraíPedro Ivo/ Agência O Dia

Rio - Festas, distribuição de doces, muita fé e alegria marcaram o Dia de Cosme e Damião, celebrado nesta quarta-feira (27) no Rio. Em diversas ruas da cidade, crianças foram vistas em grupo com saquinhos na mão e mochila nas costas em busca de doces. Durante a manhã, fiéis ainda foram à Paróquia Cosme e Damião, no Andaraí, na Zona Norte, e relataram muita fé nos dois irmãos. No Engenho de Dentro, na mesma região, um evento gratuito espera reunir cerca de 3 mil crianças.

Na porta da paróquia, famílias chegaram cedo para garantir seus doces e agradecer pelas bênçãos. Sentada na porta da igreja em volta de muitas bolsas, Elis Regina de Oliveira, 55 anos, moradora de Seropédica, na Região Metropolitana do Rio, chegou no local por volta das 5h30 trazendo grande parte da família, incluindo oito crianças.

"Eu vinha com meus filhos e agora venho com meus netos. É um dia de alegria, cheguei aqui 5h30, minhas amigas dormiram aqui, a gente espera o ano todo por isso, ficamos ansiosos. Eu tenho muita fé, eu fiz uma promessa para os meus filhos, pra minha netinha que nasceu com problema e hoje em dia está aí bem com três meses. Tudo é a fé. No mundo que a gente está vivendo, tem que ter fé", contou.


Nem mesmo o sol e a sensação térmica passando dos 40°C foram capazes de diminuir a diversão da criançada. A vendedora Andressa Ferreira, 28 anos, que estava acompanhada do filho e do sobrinho, de quatro e seis anos, contou que a fé em Cosme e Damião passa de geração em geração.

"Aqui é minha paróquia, fiz casticismo e fui batizada aqui, meu filho foi batizado aqui. Desde que ele era pequeninho eu vinha com ele, eu vinha muito. Eu tive um parto muito difícil e coloquei minha fé toda em São Cosme e Damião e deu tudo certo", contou.

A auxiliar de produção Patrícia Santos, 35 anos, moradora do bairro Cavalcante, na Zona Norte, também esteve com os filhos na igreja e relatou que esse é um costume de todo ano.

"Todo ano eu levo eles pra pegar doce, minha mãe e minha tia faziam isso comigo, aí eu faço com eles também. Então todo ano que dá e que eu não trabalho, estou levando eles. Cheguei aqui umas 8h e sempre fica cheio. Esse ano até que está vazio, já pegamos bastante doce, pretendo ficar só mais um pouquinho e depois ir pra casa, porque o sol tá muito quente", contou.

No mesmo local, Lidiana de Oliveira Nascimento, de 39 anos, também acompanhava os filhos pequenos para pegar os doces. "A gente vem pra apresentar eles (Cosme e Damião) para as crianças. É bom também por causa das festinhas, então quando chega esse dia eles se sentem felizes. Eu faço isso todo ano com eles. Sou do Nordeste, mas quando estou aqui sempre trago eles, isso tem 17 anos", disse.
A maioria das mães que acompanhavam seus filhos, pegar doces é uma tradição da família, como é o caso da assistente administrativa Sabrina Ambrosio.

"É uma tradição, desde que eu sou pequena eu pego doces, minha mãe me levava e agora eu trago minha filha. Já tem mais de três anos que venho e ela está gostando. São Cosme e Damião significam muita fé mesmo, porque eles eram médicos, ajudavam as pessoas", contou.

Distribuição e entrega de saquinhos

Logo no início da manhã, o comerciante Alexei Gabeto, 52 anos, foi uma das pessoas que levou os saquinhos no carro para distribuir para as crianças. "São 10 anos que eu faço isso. São Cosme e Damião significa muita paz e saúde pra gente, e é isso que a gente precisa. Isso é importante pra gente!", disse, enquanto terminava a entrega.

Ainda durante a manhã, o motorista Edson Silva, 58 anos, e o comerciante José Henrique Nunes, 57, comentaram sobre a alegria de poder agradar as crianças e a fé nos santos.

"Fazemos isso todo ano, temos um terreno em Belford Roxo, eu venho assistir à missa e depois fazemos festa. No sábado, vamos dar 500 saquinhos, roupas, brinquedo. Todo ano todos os filhos de santo dão três roupas de menino e de menina, aí a gente chega no ponto de ter mil peças de roupa novas, temos muita fé", disse Edson.

O amigo, que doou os doces para festa, contou que foi à igreja agradecer pela vida do seu filho. "Eu vim agradecer a graça que me foi dada, meu filho se encontra internado e eu vim agradecer a São Cosme e Damião porque tive aqui na igreja, fiz um pedido e estou sendo agraciado. Pela minha minha fé e fé nos orixás que eu acredito, meu filho vai sair dessas. Então espero que ano que vem ele esteja aqui comigo entregando o doce para as crianças, e assim que ele sair do hospital vai ser batizado aqui", contou.

José disse ainda que essa é uma oportunidade das crianças se divertirem. "Eu faço sempre as festinhas deles dentro das minhas possibilidades na comunidade onde eu moro, na Mangueira. Dou brinquedo para as crianças, é um dia diferente na comunidade porque elas não têm espaço, o poder público não tem espaço pra elas", disse.

Festa no Engenho de Dentro

A Rua Doutor Bulhões, no Engenho de Dentro, foi fechada para uma festa com brinquedos, música, barraquinhas e doces e distribuição de água e refrigerante para amenizar o calor.

Segundo o empresário Alexandre Souza, 49 anos, que organizou o evento, esta é a 29ª edição da festa. "Eu parei por três anos por causa da pandemia e agora estou retornando. A parte que eu fico mais feliz é de ver as crianças felizes e a gente faz com segurança, interditamos uma via para as pessoas poderem transitar nos brinquedos. Hoje temos aqui carrocinha de churros, algodão doce, pipoca e uma deliciosa feijoada no almoço, a gente proporciona um sorriso no rosto da criança, ficamos muito felizes com isso", disse.
Área de lazer no Dia de São Cosme e Damião, na Rua Doutor Bulhões, no Engenho de Dentro - Pedro Ivo/ Agência O Dia
Área de lazer no Dia de São Cosme e Damião, na Rua Doutor Bulhões, no Engenho de DentroPedro Ivo/ Agência O Dia


Os festejos estão previstos para acontecerem até às 18h desta quarta-feira (27). O local conta com segurança da Polícia Militar e apoio da Guarda Municipal no trânsito.

Famílias reunidas de crianças aproveitaram a festa desde as primeiras horas do dia. "É minha primeira vez aqui, mas sempre pegamos doce, é uma tradição, é sempre uma festa, as crianças ficam ansiosas, no dia anterior nem dormem. A gente veio de Piedade pra cá", disse Rosicleide Alves, 45 anos, que estava acompanhada dos filhos e sobrinhos.

"Todo ano a gente vem, ficamos o dia todo, umas casas a gente já sabe que dá doces, ano passado só minha filha pegou 30 saquinhos. Sempre corri atrás com minha mãe e está indo de geração em geração", contou a professora Adriana Alves, 46 anos, que também participava da festa.
"Estou sempre aqui, a festa é muito boa. Desde pequena pego doce e meu filho, que tem três anos, está começando desde pequeno também. É tradição", complementou Mariana Emília de 38 anos.

Fé e esperança

Ainda na Paróquia de São Cosme e Damião, a moradora do bairro do Andaraí, Solange da Fonseca, 85 anos, contou sobre a importância da data e sua fé. "Esse dia é muito importante por causa da energia das crianças, eu sou da Umbanda que reverencia muito essa data. É uma das datas mais importantes da Umbanda, pela fé, como eles eram médicos a gente pede pela saúde das pessoas. Todo ano eu venho", disse.
Fiéis acendem vela para São Cosme e Damião  - Pedro Ivo/ Agência O Dia
Fiéis acendem vela para São Cosme e Damião Pedro Ivo/ Agência O Dia


A aposentada Jussiara dos Santos, 65 anos, veio de Maricá, na Região Metropolitana, para agradecer as bênçãos alcançadas e pedir pela vida da família.

"Hoje eu estou aqui porque tirei um filho da rua, faz 43 anos, peguei ele e coloquei dentro da minha casa. Todo mundo me critica, mas é meu filho, carreguei por 9 meses, eu crio um desde que nasceu e tenho dois netos fora do brasil que vivem doentes. Estou sempre pedindo a São Cosme e Damião. Já pedi pela minha no momento do parto, peço pelo meu filho que vai fazer 43 anos e há pouco eu descobri pela subprefeitura da Barra da Tijuca que ele estava debaixo da Linha Amarela. Minha fé em Cosme e Damião é muito grande, eles sempre atendem às minhas preces", disse.

Jussiara ainda distribuiu alguns doces para crianças na igreja. "Eu moro em Maricá e lá tem a capelinha de Cosme e Damião, mas minha irmã falou pra eu vir aqui. Ela veio de Santa Cruz e disse pra eu levar um docinho. Minha mãe me criou crente em Cosme e Damião e Nossa Senhora da Conceição Aparecida", contou.

Ainda na entrada da paróquia, a moradora de Vila Isabel, também na Zona Norte, Jéssica Campos, 34 anos, acendeu uma vela para os gêmeos e agradeceu pela vida. "Eu sou devota já tem um tempo, não me pergunte o porquê, simplesmente me apeguei. É uma festa que gosto muito, sempre me emociono, faz mais de cinco anos que faço isso. A gente também dá nossos docinhos, hoje vamos fazer uma festinha lá em casa para as crianças, tudo muito simples, mas com muito amor sempre. Eu venho mais pra agradecer do que pra pedir, porque eles nunca me desamparam", relatou.

Além da fé, milagres também são atribuídos a São Cosme e Damião. A aposentada Jane Rodrigues, de 69 anos, moradora de São Gonçalo, na Região Metropolitana, contou que chegou a desacreditar dos santos após o falecimento de sua irmã e que sua filha, ainda criança, a fez voltar a ter fé.

"Quando criança sempre peguei doce. Um dia perguntei pra minha mãe se eu podia dar doce e ela disse que sim. Eu tinha uma irmã que tinha muita fé em Cosme e Damião, um dia ela passou mal, teve um aneurisma e eu fiz uma promessa para que ela melhorasse. Ela faleceu e eu fiquei muito mal. Quando minha filha tinha 4 anos, em um mes de setembro, acordou chorando pedindo guaraná (bebida oferecida nos festejos da data) e eu tinha uma vizinha que falou pra eu comprar bala e dar a ela. Eu pedi pro meu filho mais velho dar doces nas ruas e, quando eu olhei, tinham sete crianças. Aí eu chorei. No fim, meus filhos não tiveram nada, hoje são casados e eu prometi que nunca mais deixaria de dar doces", contou.

História

Nas religiões de matriz africana, os irmãos representam os orixás Ibejis, com a comemoração no dia 27. Também gêmeos, as divindades se tornaram médicos para curar todas as crianças, de forma gratuita. Em troca, recebiam brinquedos e doces. Algumas religiões ainda acreditam que eles tinham um trigêmeo, chamado Doum, que teria morrido ainda criança. Assim, os outros irmãos se tornaram médicos para curar todas as crianças, de forma gratuita. Doum é considerado o protetor das crianças de até 7 anos.

"Dentro da Umbanda, chamadas ibejadas, são as crianças incorporadas por seus médiuns, são curadoras de doenças e problemas. O passe de uma criança é uma energia muito forte e condensada. Através da alegria e das brincadeiras, elas fazem coisas imagináveis", explica Marcelo Varanda, presidente da Tenda Espírita Filhos de Iemanjá, na Tijuca, Zona Norte do Rio.

Na tradição católica, Cosme e Damião também eram irmãos gêmeos e médicos. Eles exerciam a profissão sem nenhum custo para a população. Missionários, foram perseguidos pelo imperador romano Diocleciano. Eles foram acusados de serem inimigos dos deuses romanos e usar artifícios para disfarçar as curas, e por volta de 300 d.C, foram decapitados. A Igreja celebra a data em 26 de setembro.