Iate apreendido pelos policiais federaisDivulgação / Polícia Federal

Rio - O grupo empresarial alvo da Operação Sucata, deflagrada pela Polícia Federal e Receita Federal nesta quarta-feira (18), é composto por uma família do Rio de Janeiro. Há pelo menos dez anos, o Grupo Melo opera com um esquema de empresas de fachada e laranjas para sonegar impostos acumulados em R$ 5 bilhões, segundo a investigação. Para garantir o pagamento do valor devido, a PF e fiscais da receita apreenderam bens de luxo e dinheiro dos envolvidos. 
Para cumprir os dez mandados de busca e apreensão participaram da operação 58 policiais federais e 18 agentes da Receita Federal. Os endereços eram residenciais e comerciais localizados na Barra da Tijuca e Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, e em Caxias, na Baixada Fluminense. A contadora do grupo e membros da família foram alvos da ação, além de duas sedes de fábricas, que coincidem com endereços de empresas utilizadas pelo grupo. As embarcações foram apreendidas na Marina Verolme, em Angra dos Reis, na Costa Verde.
Os objetivos da operação foram arrecadar bens e demonstrar a organização do grupo para fraudar o pagamento de impostos. Uma decisão judicial obtida pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional determinou o bloqueio de todos os bens.
Entre os bens apreendidos, constam mais de 40 imóveis, avaliados em cerca de R$ 38 milhões, mais de 120 veículos, incluindo carros de luxo, um iate avaliado em R$ 14 milhões e dinheiro depositado em contas bancárias pertencentes aos envolvidos.

A empresa possui galpões onde produz insumos para a indústria a partir da reciclagem de sucata. O material recolhido é proveniente de catadores de lata, por exemplo, e transformado em materiais como fios de cobre, laminados, vergalhão e chapas. No site do grupo, a empresa afirma que atua há mais de 50 anos no mercado com "ética e transparência". 
"Composto por sete empresas que atuam de forma sinérgica e complementar - da coleta dos metais recicláveis à sua revalorização como produtos semiacabados - o Grupo Melo imprime um modelo de gestão que prioriza a transparência e faz da ética profissional uma constante, acima de tudo", diz em seu texto de apresentação.

O delegado Eduardo Gomes explicou que o grupo utiliza mais de 50 empresas para fraudar impostos. As investigações iniciadas no início deste ano conseguiram apurar o montante de R$ 5 bilhões de impostos sonegados desde 2012 pelo grupo.

"Não é recente que esse grupo vem fraudando o Fisco. São muitos anos. Tem mais patrimônio pra gente ir atrás. O grupo esconde patrimônio para não pagar tributo", disse o delegado federal Eduardo Gomes. 
"Eles tinham várias artimanhas de não demonstrar quem eram os devedores, ou seja, utilizavam laranjas e também principalmente empresas de fachada. Criaram mais de 50 empresas falsas ao longo de mais de 10 anos. Essas empresas quebravam, faliam, supostamente eram devedoras, davam prejuízo. Mas. na verdade, elas eram utilizadas só para fraude tributária", resumiu o delegado da PF. A fraude consistia em se passar por empresas incapazes de pagar impostos, o que não correspondia com a realidade do grupo, que apresenta atividade lucrativa.
A PF suspeita que o grupo detenha, inclusive, aeronaves e patrimônio em empresas nas Ilhas Virgens, no Caribe. "É uma atividade muito lucrativa e eles têm uma vida abastada", resumiu o delegado. "Durante as investigações, foram identificadas lanchas avaliadas em mais de R$ 14 milhões, lanchas menores, imóveis em condomínios de luxo em Mangaratiba, casas e mansões no Rio de Janeiro. As próprias fábricas têm muito valor e muitos veículos registrados", exemplificou o delegado.
Além de empresas, o grupo mantinha laranjas, em geral, pessoas próximas da família e de origem mais humilde para que a responsabilidade não incidisse sobre os empresários membros da família, apurou a investigação. A base do grupo fica no Rio de Janeiro, mas a polícia observou que os empresários mantém atividades e empresas conexas em vários outros estados.
Os alvos da operação são acusados de cometer os crimes de sonegação de impostos, associação criminosa, estelionato e lavagem de dinheiro, cujas penas máximas somam 23 anos de reclusão.
Neste momento, os suspeitos não tiveram a prisão decretada. Como trata-se de crime tributário, eles têm opção de fazer um acordo com a Receita Federal. "Nesse caso, eles assumiriam a autoria do crime e o inquérito ficaria suspenso. A depender da conduta deles, pode haver prisão ou outras medidas", explicou o delegado de Polícia Federal, Eduardo Gomes. 
Procurado pelo DIA, o Grupo Melo não se pronunciou. O espaço está aberto para manifestações.