Evento foi realizado na sede da Firjan, no CentroErica Martin
Na manhã de terça-feira, Mauro Viegas Filho, presidente do Conselho Empresarial de Infraestrutura da Firjan, abriu a conferência destacando a importância da cooperação entre diversos segmentos para a construção de um futuro verde. “A falta e o excesso de água podem causar muitos transtornos. Diante disso, os governos locais, o setor privado e a sociedade civil organizada devem unir esforços para desenvolver soluções inovadoras, a fim de balizar melhor as cidades e reduzir suas vulnerabilidades. É fundamental que haja uma gestão eficiente dos recursos hídricos, dos sistemas de drenagem e dos resíduos sólidos para evitar situações de emergência e desastres”, disse Viegas.
Diretor-executivo do Instituto Onda Azul e coordenador-geral do Cidades Verdes, André Esteves explicou que a preparação para a maior edição da história do Cidades Verdes teve início em março. “O trabalho começa com o texto base que permite a realização de um evento que proponha mudanças para um futuro próximo. Como dizia Alfredo Sirkis, as cidades são a natureza transformada para o bem e para o mal. Que esse evento contribua para o bem”, disse Esteves.
O vice-governador e secretário de Ambiente e Sustentabilidade do Rio, Thiago Pampolha, que também participou da mesa inaugural, ressaltou a relevância do debate e reforçou a necessidade de um trabalho integrado. “É um evento muito oportuno, que traz o tema que deve ser central em qualquer governo e na iniciativa privada. Falamos do planeta olhando para o Rio de Janeiro, estado cercado de recursos hídricos. Estamos na década da ação, no momento de arregaçar as mangas para atingir as metas a médio e longo prazo”, disse Pampolha.
A mesa de abertura do evento contou, ainda, com as presenças do presidente da Cedae, Aguinaldo Ballon; da socióloga e pesquisadora de Colégio de Altos Estudos da UFRJ, Aspásia Camargo; e do presidente da Agência Reguladora de Energia e Saneamento Básico do Estado do Rio de Janeiro (Agenersa), Rafael Menezes.
O FUTURO DA ÁGUA
O primeiro dia do Cidades Verdes foi totalmente dedicado aos debates sobre 'O Futuro da Água', com painéis que abordaram a gestão integrada de recursos hídricos, a universalização do acesso à água e os impactos das mudanças climáticas nesse recurso indispensável.
Mediado pela jornalista Amélia Gonzalez, o primeiro painel, “No planeta água, a água é para todos?”, reuniu Aspásia Camargo; Antônio Marcos Barreto, vice-presidente da Associação Nacional de Municípios e Meio Ambiente (ANAMMA); e Luiz Firmino, pesquisador do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da Fundação Getúlio Vargas. “A cidade destrói a vegetação, ela enche o espaço de impermeabilidade. Em uma cidade como o Rio, com 13 milhões de habitantes, fica muito difícil a convivência entre a natureza e o ser humano. Queremos pensar nos nossos ancestrais, no momento em que natureza e cultura não eram incompatíveis”, disse Aspásia Camargo, destacando o impacto das mudanças promovidas a partir da Revolução Industrial e ressaltando que a transição que se faz necessária é muito desafiadora.
Com atenção ao impacto da crise climática nas cidades e nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), os especialistas debateram os objetivos, as metas, os desafios e as oportunidades da Agenda 2030, plano de ação assinado pelos 193 países-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) em prol de um mundo mais sustentável. Barreto ressaltou que os problemas e as soluções estão nos municípios, o que torna imperativa a atuação dos atores locais envolvidos diretamente nas decisões e compromissos que podem permitir que o recurso indispensável para a vida seja mais democrático e unânime. A urgência de um trabalho integrado entre governos, sociedade civil organizada e setor privado foi reiterada diversas vezes ao longo do Cidades Verdes.
Na segunda mesa, “Gestão Integrada de Recursos Hídricos”, os especialistas explicaram que o uso adequado dos recursos hídricos depende da coordenação entre diferentes setores, como agricultura, indústria e abastecimento doméstico, envolvendo a aplicação coordenada do uso do recurso em zonas rurais e nas comunidades da cidade.
Ana Asti, subsecretária de Recursos Hídricos e Sustentabilidade do Estado do Rio de Janeiro; Daniel Okumura, diretor de Saneamento e Grande Operação da Cedae; Leonardo Righetto, diretor-presidente do Rio+Saneamento; Estela Neves, professora do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento da UFRJ; José de Arimatéia, professor da IFRJ - Instituto Federal do Rio de Janeiro e Diretor do Comitê de Bacias do Médio Paraíba do Sul; e o mediador Danilo Maeda, jornalista especializado em Gestão de Sustentabilidade; debateram questões como o trabalho da Cedae e das concessionárias do Rio para promover um serviço que contemple toda a sociedade, especialmente no que diz respeito à universalização do saneamento básico, já que água potável e esgoto coletado e tratado significam maior qualidade de vida, preservação do meio ambiente e melhoria dos índices de saúde. Todos convergiram no sentido de que também é de fundamental importância a conscientização de todos os cidadãos para a prevenção de uma crise hídrica, bem como a cobrança dos resultados prometidos pelas concessionárias e pela Cedae.
“É um contrassenso a gente não ter a universalização da coleta e do tratamento de esgoto, porque no final do dia ele vai para os rios, mares e solo, prejudicando diretamente a saúde da população. Avançar nessa agenda significa ter cidades mais sustentáveis, com preservação de todo o ecossistema. A concessão do saneamento aqui no estado vem com a diretriz de cumprir as metas do marco do saneamento”, disse Righeto, ressaltando que o Rio está mais avançado que outros estados neste processo.
Composta por Sérgio Bessermann, presidente do Instituto de Pesquisa do Jardim Botânico; Jorge Peron, gerente de Sustentabilidade da Firjan; Larissa Costa, assessora especial de Cidades Resilientes; e Luciano Paez, secretário do Clima de Niterói, com mediação da jornalista Sônia Araripe, a primeira mesa da tarde debateu como as mudanças climáticas afetam no uso da água.
Com as secas e inundações cada vez mais frequentes, os especialistas defenderam uma readaptação no tratamento do problema. Uma das saídas apresentadas para o enfrentamento ao problema é o investimento em tecnologia.
Terminando o ciclo de debates sobre a água, o saneamento básico voltou ao centro do debate com as presenças de Aguinaldo Ballon, presidente da Cedae; Leonardo Soares, da Iguá Saneamento; Márcio Santa Rosa , da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade; e Bruno Sansson, diretor do Instituto Rio Metrópole. Com mediação do jornalista e membro da Comissão de Meio Ambiente da Associação Brasileira de Imprensa, Emanuel Alencar, o debate evidenciou que os problemas atuais não podem ser solucionados sem um olhar para o passado.
Diante do fato de que o Brasil ainda tem 35 milhões de pessoas sem acesso a água tratada, os especialistas defenderam o desenvolvimento de novas infraestruturas e políticas públicas, assim como mais investimentos e fiscalização para ampliar o acesso ao saneamento básico.
"A exclusão social deve permear nossas discussões sempre, em todo e qualquer planejamento. A coleta de resíduos pode ser seletiva em um ponto de uma cidade, mas em outros sequer há coleta de lixo, condições de saneamento. Se a gente quer pensar em um ambiente sustentável e em cidades verdes, precisamos ter uma sociedade mais justa. A Cedae precisa de um ambiente sustentável para captar água de qualidade”, disse Ballon, presidente da Cedae.
O FUTURO DA ENERGIA
Hoje (18), o evento foi voltado aos debates sobre "Energia e Mobilidade", com destaque para a revolução do hidrogênio verde e as mudanças nos transportes públicos para reduzir emissões de carbono. Com a expectativa de que as usinas nucleares desempenhem um papel ainda mais importante com o processo de transição energética, a Eletronuclear foi um dos destaques do segundo e último dia do Cidades Verdes.
A transição energética voltou a ser debatida no terceiro painel do dia, que contou com Henrique Silveira, coordenador de Desenvolvimento Socioeconômico do Instituto Pereira Passos; Amanda Schutze, professora da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas e Coordenadora do FGV Clima; Andrea Lopes, especialista em Sustentabilidade da Firjan; e Roberto Kishimani, coordenador sênior de Energia no Instituto Clima e Sociedade. Ao longo do debate, mediado pelo jornalista Aziz Filho, a urgência em agilizar a transição energética de combustíveis fósseis para fontes renováveis foi o ponto central. A adoção em larga escala de fontes renováveis com energia solar, eólica, hidrelétrica, biomassa e geotérmica foi apresentada como essencial para a garantia de um futuro sustentável, com a ponderação de que a transição precisa ser elaborada de forma integrada em todos os atores envolvidos para evitar traumas.
A mesa de encerramento foi voltada para o fator que é imprescindível na implementação de todas as ações propostas durante a conferência, o financiamento, já que a transição energética demanda custos. Políticas governamentais, como tarifa de energia renovável, subsídios, incentivos fiscais, e leis de eficiência energética, banco de fomento, foram apresentados como possíveis soluções imediatas, mas os especialistas ponderaram que tais medidas podem afastar do debate uma sociedade já cansada de impostos.
Mediado pelo jornalista Dal Marcondes, o debate, que mostrou a integração fundamental entre governo e iniciativa privada para a solução da problemática, reuniu Gustavo Naciff, superintendente da Empresa de Pesquisa Energética; Nelson Rocha, ex-secretário de Fazenda do Estado do Rio de Janeiro; Luan Santos, professor da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Coordenador do Grupo de Finanças e Investimentos Sustentáveis.
O encerramento da 8ª edição da Conferência Cidades Verdes foi feita por Ilan Cuperstein, diretor para a América Latina do C40 Cities (Grupo de Grandes Cidades para Liderança do Clima). Após parabenizar todos os conferencistas pelos produtivos debates, Ilan comentou alguns aspectos fundamentais, como a proteção da Amazônia. “O Brasil tem 12% da água doce do mundo, e isso é um ativo não só econômico a nível de mercado, mas é o que permite que possamos viver em cidades como o Rio, por exemplo, por conta de toda a massa hídrica que vem, pelo ar, da Amazônia para o Sudeste. Ou seja, existe um triângulo do Centro Oeste para o Sul, onde mais se produz alimentos no Brasil, e isso só é possível pela Amazônia. Quando desmatamos, estamos interferindo na nossa capacidade de viver onde estamos hoje”, disse Ilan, ressaltando que a essencial contribuição da Amazônia já é consenso na comunidade científica.
Ilan manifestou a preocupação com o fato de que os subsídios do Fundo Monetário Internacional (FMI) aos combustíveis fósseis atingiram um recorde de US$ 7 trilhões (R$ 34,17 trilhões) em 2022, justamente quando é necessário investir em fontes renováveis e limpas.
Assim como muitos participantes do Cidades Verdes, Ilan também demonstrou indignação com a exclusão social no Brasil e ressaltou que “é incompatível a falta de serviço de saneamento básico com o nivel de desenvolvimento do país”. O especialista destacou, ainda, que o Brasil perdeu muito espaço nas discussões mundiais ao longo dos últimos anos, mas que está pronto para recuperar o protagonismo que teve no passado na temática ambiental.
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