Fechado desde 2020, Castelinho do Flamengo sofre com graves problemas estruturais Marcos Porto / Agência O Dia
Grandes rachaduras, vazamentos que alagam os salões, pichações, além de tetos e paredes infiltradas. Estes são alguns dos principais problemas estruturais que assolam o tradicional Castelinho. Desde que as portas foram fechadas, em 2020, os moradores do Flamengo e artistas que admiram o Centro Cultural clamam pela reabertura segura do espaço, que é gerido pela Prefeitura do Rio há 48 anos.
Em 2018, a prefeitura realizou um "pregão" para revitalizar o espaço. O termo expôs, através de fotos, a urgência do restauro. Na parte de "Levantamento Arquitetônico e Fotográfico, Prospecções Arquitetônicas e Mapas de Danos", a Prefeitura do Rio elencou 9 tópicos a serem estudados para a revitalização. Mesmo com os levantamentos e estudos reunidos no documento de 18 páginas que o DIA teve acesso, nada foi feito.
A Secretaria Municipal de Cultura afirmou que a reabertura do Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho será feita em 2024, por meio do programa Cultura do Amanhã. Além disso, o órgão informou que "designou servidores públicos para elaboração de laudo sobre a estrutura" e que, "a partir desse trabalho, será concluído o termo de referência para licitação, que contemplará as reformas necessárias".
Publicado dia 20 de setembro no Diário Oficial, o despacho, assinado pelo atual secretário de Cultura, Marcelo Calero Faria Garcia, determinou a primeira medida para a revitalização. Os servidores públicos Henrique Alves, Luiz Carlos Tostes Filho e Amaury Surcin foram designados para serem os "responsáveis pelo acompanhamento, fiscalização e atestação do documento fiscal, bem como da elaboração do Laudo Técnico de Avaliação Estrutural".
A reportagem também conversou com uma ex-funcionária, que preferiu não se identificar, que relatou sobre as condições de trabalho no Centro Cultural Oduvaldo Vianna Filho. Segundo ela, até dinheiro próprio eles usavam para comprar água, papel higiênico e lâmpadas. Além disso, de acordo com o relato, os profissionais da limpeza eram designados a recolher os pombos mortos no topo do castelinho.
"Tinham problemas gravíssimos. A prefeitura não tinha condições de manter o Castelinho. Mesmo com três andares, não tínhamos praticamente nada de estrutura para funcionar. Os banheiros não eram preservados e as instalações elétricas ficavam aparentes, o que nos deixava inseguros. O topo da torre era infestado de pombos. Havia uma orientação para que o pessoal limpasse, mas eles se recusavam, até porque pombos transmitem doenças. A gente comprava, com nosso dinheiro, águas, papeis higiênicos e lâmpadas. Fizeram orçamentos para revitalizar, mas eu não vi se concretizar", contou a funcionária.
Em 1° de dezembro de 2021, o então secretário de Cultura, Marcus Faustini, liberou R$ 12.860 para a contratação de uma empresa especializada na instalação de redes de proteção. Segundo os moradores, as telas foram colocadas para impedir a circulação de dezenas de pombos que moravam no topo do castelo.
Veja as imagens obtidas pelo DIA, que mostram a degradação interna e externa do local:
Em seu trabalho final da faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Bráulio Gomes se debruçou em entender a história e as nuances estruturais do Castelinho do Flamengo. Em 2018, o arquiteto participou de um projeto, onde pôde realizar levantamentos estruturais e observar as degradações internas. Ao DIA, Bráulio explicou sobre as patologias estruturais que encontrou no Centro Cultural.
Em meio aos altos prédios do bairro e diante da deslumbrante paisagem para a Baía de Guanabara, o Castelinho foi palco de peças teatrais e exposições artísticas em seus três andares, que comportam até 200 pessoas. No centenário, em 2018, a mostra "Castelo da Memória" reuniu fotos, plantas, maquetes, curtas, documentários e histórias em quadrinhos.
Grasiela Müller é atriz, musicista e participou de projetos artísticos no imóvel. Com atrizes uruguaias e cariocas, Grasiela fez o teatro exposição chamado "Elas se Viram", que foi realizado com materiais reutilizados, em 2018. Segundo ela, mesmo com as exposições acontecendo, os problemas estruturais já existiam.
Mesmo tombado em 14 de novembro de 1983 pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade (IRPH), o Castelinho do Flamengo foi ocupado por moradores em situação de rua e até ameaçado de demolição. Procurado, o IRPH informou que o imóvel está vinculado à Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e não emitiu posicionamento sobre o atual estado do prédio.
Em agosto de 2022, os moradores do Flamengo fizeram uma manifestação na porta do Castelinho contra o "descaso" com o imóvel. Nestes 105 anos de história, o local passou por duas restaurações. No final da década de 1950, a Construtora Silva Cardoso Ltda. pintou e fez uma limpeza geral. Já em meados de 1990, a Prefeitura do Rio revitalizou a parte interna e externa.
Desapropriado pela prefeitura em 1975, o edifício chegou a ser ameaçado de demolição para "possibilitar a redução do raio de curva da rua Dois de dezembro com a Praia do Flamengo". Em 2 de dezembro de 1982, com a sentença do Juiz da 9ª Vara Cível, que expediu mandado de emissão de posse do imóvel em favor da prefeitura, os moradores em situação de rua que ocuparam o local foram despejados e a demolição teve início. Ao mesmo tempo, iniciou-se uma intensa mobilização popular para evitar a destruição do imóvel.
À frente deste movimento estavam a Associação de Moradores e Amigos do Flamengo, a Associação de Moradores e Amigos do Centro, o Instituto de Arquitetos do Brasil. Com isso, o então prefeito Júlio Coutinho determinou a suspensão da demolição e convocou uma reunião extraordinária para examinar a proposta de tombamento do imóvel.
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