Família de crianças mortas a marteladas fazem protesto silencioso na 34ª DP (Bangu)Cléber Mendes/Agência o Dia
Publicado 04/10/2023 16:44
Publicidade
Rio - Nayla Maria Gonçalves, mãe de Luísa Fernanda, de 5 anos, morta a marteladas pelo pai, prestou novo depoimento na 34ª DP (Bangu), na tarde desta quarta-feira (4) no inquérito que investiga as agressões físicas, sexuais, morais e psicológicas cometidas por David Souza Miranda, seu ex-companheiro e apontado como autor dos homicídios - Ana Beatriz, de 4 anos, sobrinha de Nayla também foi morta na ação. David cometeu o crime no último dia 22 de setembro, em Senador Camará, na Zona Oeste, e está sendo investigado também pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
Nayla voltou a relatar as agressões sofridas ao longo dos nove anos de relacionamento. Segundo ela, a filha apanhava constantemente do pai e não conseguia comer na presença dele, pois vomitava de medo. Também disse às autoridades que David a batia na frente da criança e a ameaçava para que não contasse nada a terceiros. 
Nayla e David começaram a se relacionar quando tinham 16 e 32 anos, respectivamente. Durante os nove anos de namoro, a mulher diz que David a impedia de sair de casa sozinha e que foi obrigada a parar de estudar. Ela também não podia ter celular e nem redes sociais por causa de ciúme. 
Em depoimento, ela ainda revelou que era obrigada a ter relações sexuais com David e que no ano passado foi estuprada por ele e pelo filho de David, Christian Miranda, de 18 anos. O jovem negou as acusações em um vídeo publicado nas redes sociais logo após a prisão do pai. 
Do lado de fora da delegacia, familiares fizeram um protesto silencioso pedindo celeridade e justiça nos processos que envolvem David. Parentes levaram cartazes com fotos das crianças e também da tia delas, Natasha Maria Silva Gonçalves de Albuquerque. A mulher foi queimada e torturada no dia do crime por David, mas sobreviveu e está internada em estado grave. Ela está internada no Hospital Municipal Pedro II.
Alexander Gomes, primo de Nayla, diz que a família ainda não conseguiu viver o luto, pois precisa se manter forte por Natasha, que corre risco de vida. "Não foi só a morte das crianças, mas a Natasha também está internada e foi uma vítima. Nem os médicos sabem como ela conseguiu sobreviver porque não foram apenas queimaduras, mas ela também sofreu com marteladas na cabeça", afirma.
O familiar também conta que só começou a perceber as atitudes suspeitas de David após a tragédia. "Eu vi poucas vezes o David, já que ele mantinha ela em cárcere privado. A gente, hoje, se sente mal por não ter visto ela pedindo socorro e isso vale como um alerta para as outras famílias. A Nayla está viva, mas perdemos praticamente três pessoas, já que a Natasha está em um estado muito grave".
Ainda segundo o primo de Nayla, David parecia ser uma "boa pessoa" e um "homem tranquilo" durante as reuniões em família. "Hoje percebemos detalhes, como por exemplo o fato dele nunca deixar a Nayla sozinha, nem nas idas ao banheiro. Nosso maior propósito aqui hoje é para que ele não saia da cadeia. A gente só pede justiça", desabafou.
Na saída da delegacia, a advogada de Nayla, Helen Castillo, apontou que a Justiça deveria ter autorizado medida protetiva para todos da família das vítimas, já que David já havia os ameaçados anteriormente. "Ele falou "se eu não pegar você eu pego a sua familia", e mesmo assim só foi deferido medida protetiva para Nayla e foi orientado que a Natasha fizesse a mediação da visita. Foi uma decisão muito prematura da Justiça", diz a advogada. 
Relembre o caso
No dia 22 de setembro, Natasha Maria Silva Gonçalves de Albuquerque, mãe de Ana Beatriz e irmã de Nayla, levou a sobrinha Luísa até à casa do pai para uma visita de rotina. Ao chegarem ao local, as vítimas foram amarradas e Natasha foi torturada. Depois, ele deu marteladas nas duas meninas e ateou fogo na casa para fugir com o carro da ex-companheira.
Natasha conseguiu se soltar e levou os corpos das crianças até o portão, quando foi socorrida por vizinhos, que acionaram a Polícia Militar. Luiza e Natasha foram socorridas para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo. A menina morreu ao dar entrada na unidade. Já Ana Beatriz foi levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde já chegou sem vida. Posteriormente, Natasha, em estado grave, foi transferida para o Hospital Pedro II, onde permanece sob cuidados médicos.
De acordo com a Polícia Civil, Davi dirigiu do local do crime até cair com o carro na linha férrea na altura da Mangueira, na Zona Norte da cidade. Moradores da região foram ao local do acidente e viram um celular tocando no meio do mato. Uma pessoa que atendeu foi informada de que Davi havia acabado de matar duas crianças e então a polícia foi acionada. Davi fugiu a pé do local do acidente e foi capturado por policiais do Segurança Presente na Rua Conde de Bonfim, em frente ao Tijuca Tênis Clube, na Zona Norte.
Natasha está internada no Hospital Municipal Pedro II desde o dia do crime e seu estado de saúde é considerado grave. David está preso preventivamente e aguarda o andamento das investigações.
Publicidade
Leia mais