Cerca de 50 pessoas ficaram presas em cinema após funcionários esquecerem última sessãoDivulgação
Publicado 01/02/2024 11:22 | Atualizado 13/02/2024 22:46
Rio - Os pedestres que passaram próximo ao número 35 da Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, na Zona Sul, escutaram os gritos de cerca de 50 pessoas vindos da Estação Net Rio, por volta das 23h40, do último sábado (27). O público entrou em desespero depois que os funcionários trancaram as portas do cinema, pois esqueceram que o filme "Os Rejeitados" ainda estava sendo exibido na sala 3.
De dentro do local, em meio a escuridão, Marcelo Alonso decidiu gravar um vídeo e contar o momento de tensão. Nas redes sociais, o homem disse que chamou o Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar. " Estamos presos. Os funcionários do cinema foram embora e deixaram todos nós trancados. Isso é absolutamente absurdo", disse Marcelo, indignado com a situação daquela noite.
Exatamente às 23h40, o quartel do Humaitá, do Corpo de Bombeiros, foi acionado pelo público que estava preso na Estação Net Rio, um dos mais famosos e remanescentes cinemas de rua do Rio de Janeiro. No entanto, 25 minutos depois, a corporação foi informada que o problema já havia sido resolvido. Procurada, a Polícia Militar afirmou que os funcionários retornaram e abriram o local, mas não houve registro de ocorrência no batalhão da área.
Também nas redes sociais, Ruth Kauffmann detalhou como tudo aconteceu. "Na platéia, aproximadamente 50 pessoas assistiam 'Os Rejeitados', um filme maravilhoso. Ao encerrar, todos dirigiram-se à saída da sala, mas estava tudo escuro. Um breu total. Tomamos todo o cuidado para não tropeçar nas escadas. Já achamos estranha a situação", escreveu.
Ruth, então, relatou o que fizeram quando perceberam que estavam trancados. "Chegando ao térreo, as grades da porta estavam muito bem trancadas com vários cadeados. Todos ficamos desesperados e começamos a gritar. Passaram-se uns 25 minutos e dois funcionários surgiram dizendo: 'Nós achamos que já não tinha mais ninguém no cinema. Desculpa, vamos abrir a porta para vocês'. Uma situação inconcebível e desesperadora", contou Ruth.
Pelo perfil oficial "Estação NET de Cinema" no Instagram, a diretora-executiva do Grupo Estação, Adriana Rattes, disse que estava pronta para tomar a "merecida ovada" dos clientes. "Quero pedir desculpas a todos que foram vítimas dessa situação absurda. Ser trancado em um cinema não é admissível e nunca aconteceu em 40 anos. Isso foi fruto de um erro da nossa gerente, que não fez ronda pelas salas antes de apagar as luzes e fechar a casa", afirmou. 
Ao DIA, Adriana disse quais as medidas foram tomadas diante do caso. "A direção do Circuito Estação Net está consternada com este episódio. Estamos, desde então, tentando achar as pessoas que passaram por este susto para pedir desculpas e buscar formas de compensá-los. Para cada um, vamos oferecer um kit de cortesias permanentes para 2024, sempre com acompanhante e pipoca, além de fazer uma pré-estreia especial só para eles. A gerente foi suspensa, enquanto apuramos todos os detalhes", explicou a diretora.
O despejo da Estação Net Rio 
No dia 10 de novembro de 2021, a Justiça do Rio determinou o despejo da Estação Net Rio. À época, a titular da 27ª Vara Cível, juíza Elisabete Franco Longobardi, explicou que a ação foi motivada por falta de pagamento de aluguéis atrasados do espaço, que pertence à tradicional família Severiano Ribeiro.
Na ocasião, o Grupo Estação não pagava os aluguéis desde março de 2020, quando a pandemia começou. "O Grupo Estação apresenta problemas em cumprir seus compromissos com o Grupo Severiano Ribeiro (GSR) desde 2014, quando em apoio ao cinema e a sua sobrevivência, o GSR abriu mão de um valor significativo de aluguel, respeitando seus parceiros e locatários", dizia a nota.
Em outubro de 2022, o Grupo Estação convocou um ato pela permanência do cinema e afirmou estar disposto a negociar. Nas redes sociais, a Estação Net de Cinema chamou cineastas, artistas e cinéfilos para o protesto.
No dia 10 de fevereiro de 2023, o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) suspendeu a sentença que determinava o despejo do tradicional cinema. Na decisão, os magistrados acompanharam, por unanimidade, o voto do relator, o desembargador Caetano Ernesto da Fonseca Costa, que determinou uma prova pericial para verificar o débito atualizado do Grupo Estação em relação aos meses de aluguéis não pagos.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Iuri Corsini

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