Comerciante Ridan em frente ao seu restaurante na Estrada do Galeão, na Ilha do GovernadorReginaldo Pimenta/Agência O DIA
Publicado 02/02/2024 13:38 | Atualizado 02/02/2024 16:34
Rio - Com mais um dia de falta de luz em diversas ruas da Ilha do Governador, na Zona Norte, comerciantes alertam para os prejuízos causados pela queda de energia quase que diariamente. Durante a manhã desta sexta-feira (2), a Estrada do Galeão, uma das vias principais da região sofreu com novos apagões, incluindo nos sinais de trânsito. Segundo a Light, o trecho teve o fornecimento cortado devido a uma manutenção programada.


Além da principal, as ruas paralelas também foram afetadas com a falta de luz, como foi o caso da Rua Babaçu. Ao DIA, o proprietário de um dos restaurantes do local comentou sobre os transtornos sofridos nos últimos dias. De acordo com Glauco Ferreira Rocha, de 30 anos, o estabelecimento é de família e existe há 25 anos.

"Nunca passamos por isso dessa forma, não desse tamanho. Ontem não tinha nada planejado para nossa área e ainda assim faltou luz por volta de 11h/11h30, hora que eu abro o restaurante e já estava com tudo pronto, buffet todo montado. Eu trabalhei do jeito que deu, abrir as portas, fiquei esquentando água para esquentar o buffet, mas não fiz mais comida, o que estava pronto eu consegui vender e depois fechei as portas", disse.

Glauco explicou que a energia só retornou por volta das 17h, depois que o restaurante já havia fechado. Em relação a perdas, ele esclarece que seu maior prejuízo é na questão do serviço, de não poder abrir e atender os clientes.

"Eu fecho o portão para os clientes às 15h30, quando voltou a luz eu ainda tive que voltar pra cá para desligar o ar condicionado e fechar o caixa. Minha coifa queimou, estou correndo atrás de um eletricista. Em bem material até que eu perdi pouca coisa, porque eu tenho camara frigorifica, então assim que acaba a luz eu deixo tudo fechado para manter a temperatura. Agora em serviço eu perdi muito, porque foram dias sem trabalho", relatou.

Na última segunda (29), por exemplo, o estabelecimento não conseguiu funcionar novamente devido a falta de energia. "Faltou luz 1h e só retorno 11h, nesse dia eu também não trabalhei, eu cheguei aqui 7h e fui aguardando, mas nada. Aí ficou inviável! É problemático, aqui mesmo na esquina é uma área de grande fluxo", complementou.

Em relação ao trânsito na Ilha, em meio aos problemas com energia, o empresário reforçou que está difícil até mesmo sair da região. "Pra galera que trabalha fora da Ilha tá muito difícil, porque tem muito trânsito, meus pais foram sair essa semana e voltaram porque estava inviável e acaba ficando todo mundo literalmente ilhado aqui. A gente precisa de um gerador para os comerciantes. Esse é um problema da Light, são 40 anos de cabos sem manutenção", reforçou.

Próximo ao restaurante também funciona um Petshop, que teve os serviços completamente afetados por dois dias seguidos. Até às 9h30, a proprietária Kailane Caroline, de 20 anos, ainda conseguiu terminar um atendimento, mas logo depois a luz acabou. "Eu tinha muitos cachorros marcados para hoje. Está muito complicado, a gente precisa da luz para trabalhar. Quinta mesmo eu estava secando um cachorro grande e tivemos que entregar ele úmido e a gente tinha muito atendimento depois disso", contou.

Segundo Kailane, a equipe está tendo que remanejar os clientes o tempo inteiro, o que prejudica o atendimento. "Isso acaba sobrecarregando os outros dias, porque a gente acaba tendo que pegar os de ontem e passar pra hoje, passar pra amanhã. Fora que é um risco que a gente corre de perder o cliente, porque não sabemos que horas a luz vai voltar. Tem uma cliente que tá vindo de fora da Ilha e se faltar luz a pessoa não vai voltar de novo", disse.

A proprietária do estabelecimento reforçou ainda que fora todos os transtornos têm ainda os riscos que os animais sofrem se forem entregues molhados, podendo vir a sofrer com problemas de pele. Kailane já chegou a ficar tardes inteiras sem conseguir trabalhar por conta das quedas de energia. "Se fosse venda dava pra manter mas a gente precisa da energia para trabalhar", desabafou,

Ao lado do Petshop, o comerciante de uma loja de moto peças, Osvaldo Franklin, 48 anos, reforçou ainda que tem ficado até seis horas sem luz nos últimos dias. 

"Eu tenho mais de 12 mil pedaços de moto espalhados aqui dentro e além da gente precisar saber o preço de cada um a gente precisa saber a localização. E por mais que a gente esteja sete anos trabalhando aqui, não dá pra gravar tudo isso na cabeça, quando é coisa mais básica tudo bem, mas isso é extremamente complicado, fora o calor", disse.

Desde 2017 no local, Osvaldo esclarece que nunca viu nada parecido. "Está uma loucura, nunca vi essa situação na vida, faltar luz quando tá chovendo ok, mas agora quando você fica seis horas sem luz não dá. Desde quando começou essa bagunça umas cinco vezes já tivemos que fechar de manhã ou de tarde”, contou.

Ainda de acordo com o comerciante, em alguns momentos, para não perder a venda, os vendedores anotam no papel o que vendem sem saber o preço para depois passar para o sistema. "São vendas dessa forma que estamos conseguindo, mas isso é um terço do que produzimos com a luz funcionando. Uma falta de luz de 30/40min é plausível, agora assim não, a gente precisa produzir. A gente tem que contabilizar esses dias para cobrar de alguém, são muitas horas sem funcionamento. Se fosse só uma vez, ok, mas isso já aconteceu mais de cinco vezes", disse.

Do outro lado da rua, na Estrada Galeão, Ridan Maia, 42 anos, dono de um restaurante que funciona há 14 anos na região, contou já ter perdido diversos eletrodomésticos. Durante a manhã desta sexta (2), sua energia não havia sido cortada como aconteceu no dia anterior, mas ainda assim o sentimento de revolta era o mesmo.

"Estamos trabalhando de forma reduzida que não compensa abrir, falta luz por volta das 11h, com a comida pronta pra trabalhar e o que dá eu vendo, mas já tive bastante prejuízo. Perdi dois freezer e uma geladeira. Fora que sem ar-condicionado as pessoas não ficam dentro do restaurante porque está muito quente", disse.

Ridan garante que o problema de luz na Ilha acontece todo verão, mas que dessa vez está pior. "Agora todos os dias tem trechos sem luz, estão revezando. Por exemplo, ontem não tinha luz aqui, hoje tem, mas da esquina pra lá não tem. Aqui é só comércio, é uma rua principal da Ilha, comércio em toda rua e os comerciantes estão desesperados. Não sou só eu. Está uma bagunça total", frisou.

Na noite desta quinta (1º), a Light já havia informado que dando continuidade ao trabalho de recuperação e renovação do sistema de fornecimento de energia elétrica da Ilha do Governador e Paquetá seria realizada uma nova manutenção programada em partes de ruas dos bairros Jardim Guanabara e Galeão, das 8h às 18h.

As ruas afetadas seriam as seguintes: Cel. Júlio Coimbra, Cinquenta e Dois, Bocaiúva, Cambaúba, Colina, Des. Martinho Garcês, Gregório de Castro Mora, Luis Belart, Luis Vahia Monteiro, Rui Vaz Pinto, Estrada do Galeão, Estrada do Caricó e Estrada do Morro do Inglês; além de trechos de ruas adjacentes. A energia tem o prazo de ser restabelecida até às 18h.

Apesar disso, os serviços essenciais, como unidades de saúde e segurança, e pacientes dependentes de equipamentos vitais, cadastrados na rede da Light, serão mantidos por geradores.
Problemas frequentes
Na quinta (1º) a Ilha sofreu com um apagão geral. De acordo com o Subprefeito, Rodrigo Toledo, o motivo foi um problema na subestação da Light. Com a queda de energia, semáforos também ficaram sem funcionar ao longo da tarde.
Os relatos de problemas com a energia na região têm surgido quase que diariamente na Ilha do Governador desde o dia 11 de janeiro. Por conta disso, o prefeito Eduardo Paes afirmou, em sua conta no X (antigo Twitter), que entraria com uma ação contra a concessionária: "Hoje, mais uma vez, a Ilha do Governador sofre com um apagão completo! Até diálogo tem limite. Determinei a procuradoria do município que entre com medida judicial contra a Light para garantir o fornecimento de energia na cidade do Rio", disse.
Publicidade
Leia mais