João Vinicius Ferreira Simões morreu após sofrer uma descarga elétrica durante festival de músicaReprodução / Redes Sociais
Publicado 14/03/2024 17:14
Rio - O jovem João Vinicius Ferreira Simões, de 25 anos, que morreu após sofrer uma descarga elétrica em um evento no Riocentro, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, tocou no food truck energizado após se desequilibrar ao tentar levantar do chão onde estava sentado, segundo uma testemunha que conversava com a vítima no momento do incidente. Um vídeo mostra a fiação dos carrinhos dentro de poças d'água sem cobertura contra chuva.
A estagiária Juliana Oliveira, de 23 anos, disse que foi até o food truck, antes de João, para pedir que um funcionário enxugasse seu óculos para que ela pudesse enxergar melhor na chuva e encontrar com seus amigos. Quando o atendente foi pegar o óculos de suas mãos, ambos tomaram um leve choque, que foi justificado pelo funcionário pelo trailer está energizado.
"Quando eu fui entregar o meu óculos, nesse trailer, eu tomei um choque. Eu e o menino que estava dentro do trailer tomamos um choque. Eu estranhei, olhei para ele e disse para que a gente tomou um choque e ele 'Haha, eletricidade', meio que dando uma disfarçada. Eu não sabia exatamente que o trailer estava dando choque. Aí, depois que eu entreguei o meu óculos por uma parte que não era condução de energia, ele pegou meu óculos com um papel e limpou. Nisso que eu entreguei, ele me entregou de volta da mesma forma. Ele disse que o trailer estava energizado porque era tudo de metal", contou.
Após o episódio, João se aproximou do food truck para tentar se abrigar da chuva e tomou um leve choque ao tocar no carro. Depois, ele se sentou em um caixote e ambos começaram a conversar. O jovem deu seu lugar para Juliana após ela contar que estava sentindo dores nas costas devido a sua posição. Foi aí que a jovem percebeu que tinha cabos de energia passando no meio de poças d'água. Um vídeo mostra a fiação, ligada a uma extensão, sem cobertura no momento da chuva.
"Antes dele por a mão, eu falei 'cuidado que está dando choque'. Nesse meio tempo, ele encostou o braço e tirou porque tomou um choque. Ele se afastou e sentou em um caixote um pouco do lado do trailer, ainda protegido da chuva. Ele estava tentando entrar em contato com o pessoal do ônibus, do transporte que ele foi. Pelo o que eu tinha entendido, ele não estava com ninguém. Eu deduzi que ele estava sozinho. A gente começou a conversar e eu contei que estava com dor nas costas por causa da posição que estava, tentando proteger minha mochila. Então, ele me colocou sentada no caixote. Nisso, eu comecei a observar mais em volta. A grama estava toda molhada, tinha uma parte do meio-fio que tinha cabos de energia passando e estava cheio de água, como se fosse uma vala, com os fios ali", explicou.
De acordo com Juliana, João sentou no gramado do local pois ele já estava molhado e a conversa continuou. Quando ele foi tentar levantar para se abrigar em outro lugar, o jovem se desequilibrou e tocou novamente no food truck, recendo uma descarga maior do que a da primeira vez. A testemunha contou que o corpo do estudante de Educação Física caiu encostado no carrinho e ela começou a gritar.
"Ele tentou levantar, meio que se desequilibrou, e encostou com o braço. Nisso, o braço dele todo molhado, eu vi que ele tomou uma descarga muito maior. Ele caiu de costas para mim. Eu fui tentar pôr a mão nele, mas o ombro dele encostou no trailer. Eu percebi que também tomaria a descarga elétrica. Eu vi que a mão dele entortou, ele ficou todo torto. Eu comecei a gritar por ajuda e o pessoal do trailer também começou a gritar. Algumas pessoas tentaram vir para por a mão e eu falei que não porque seria muitas pessoas sofrendo o mesmo acidente. Quando desligaram o disjuntor, eu consegui puxar ele e foi quando eu vi como estava o estado dele. Ele estava com a língua roxa e o olho dele estava já ficando sem brilho. Foi quando o cara começou a fazer massagem cardíaca nele", completou.
O caso é investigado pela 32ª DP (Taquara). Segundo Roberta Ferreira, mãe de João, os agentes receberão todas as pessoas que tomaram choque no evento e que tiveram contato com o jovem. Os policiais apuram se houve imperícia e negligência dos organizadores do evento. Testemunhas, familiares da vítima e pessoas da equipe do evento já foram chamados para depor.
Na terça-feira (12), os investigadores estiveram no Riocentro para realizar uma perícia complementar. No local, o food truck responsável pela descarga elétrica que atingiu a vítima foi encontrado vazio e limpo.  Durante a perícia, os agentes encontraram ainda fios dentro de um bueiro com água.
João, que era apaixonado pelo Flamengo, foi sepultado no domingo (10) no Cemitério Municipal de Maricá, na Região Metropolitana do Rio. O jovem estava no sétimo período do curso de Educação Física e tinha o sonho de se tornar professor. Ele já trabalhava como personal em uma academia em Niterói, também na Região Metropolitana do Rio.
O que diz a organização do evento?

Por meio do perfil nas redes sociais do festival I Wanna Be Tour, a empresa 30e, produtora do evento, disse que está apurando junto às autoridades sobre o que aconteceu com o jovem. A empresa afirmou que as informações obtidas até o momento atestam para a conformidade de operação do food truck, onde João Vinícius recebeu uma descarga elétrica. A produtora lamentou o ocorrido e informou que está prestando solidariedade à família da vítima.

Confira a nota completa:

"Na noite deste sábado, 9 de março, uma forte chuva atingiu o Rio de Janeiro enquanto o evento I Wanna Be Tour era realizado no Riocentro e o público se dirigiu para a marquise coberta, seguindo os protocolos de segurança.

Neste momento, lamentavelmente, ocorreu um incidente na área descoberta próxima a um food truck terceirizado: o jovem João Vinícius Ferreira Simões foi atingido por uma descarga elétrica. O sistema de segurança foi acionado no mesmo instante para atendimento e para as providências de socorro.

Apesar do pronto atendimento e de todos os esforços realizados pelas equipes médicas do evento e no hospital, o jovem não resistiu e, infelizmente, veio a óbito.

A 30e, produtora do evento, lamenta profundamente e está apurando o ocorrido junto às autoridades. Até então, informações obtidas atestam para a conformidade da operação food truck. A produtora já estabeleceu um primeiro contato com a família do jovem para prestar solidariedade e dar toda assistência necessária."

Já o Riocentro lamentou profundamente o ocorrido e informou que o jovem foi imediatamente socorrido pela equipe de socorro contratada pela organizadora do evento e responsável pela infraestrutura, que o encaminhou ao hospital. "A administração do centro de convenções está acompanhando o caso de perto junto à organização, para que a família receba toda assistência necessária", disse em nota.
Publicidade
Leia mais