Familiares e amigos se reuniram para a despedida no Cemitério de Ricardo de AlbuquerqueAnna Clara Sancho / Agência O Dia
Publicado 29/03/2024 12:39
Rio - O cantor de pagode Jefferson Caick de Oliveira, de 30 anos, que morreu depois de ficar mais de um mês internado,após ser baleado em uma invasão na comunidade do Catiri, na Zona Oeste, foi velado na manhã desta sexta-feira (29), no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte. O velório começou às 10h na Capela A, a mesma em que a avó foi sepultada em janeiro de 2023. Já o sepultamento aconteceu às 15h. 
O velório foi marcado por um clima leve e tranquilo. A mãe do rapaz, Ana Alice Gonçalves de Oliveira, falou sobre a dor de perder um filho. "Eu como mãe, perder um filho não é bom, ele era meu filho mais velho, ele deixou três irmãos, uma mãe, dois filhos e uma esposa e amigos. É difícil demais e uma dor que não sei nem explicar, não desejo isso para ninguém. Infelizmente, não tem culpado porque a justiça não vai pegar ninguém porque não está preparada para isso. Meu filho morreu por infecção, uma das causas da morte. É o que o Rio de Janeiro está se tornando, uma infecção generalizada. Ele era um bom filho, ótimo marido, bom pai, brincava, se divertia, ele era cantor de pagode, farrista. A mulher dele que sabe o sofrimento que era ser mulher de pagodeiro. Infelizmente, nada vai trazer meu filho de volta", lamentou em entrevista ao DIA. Os filhos do músico não compareceram ao velório. 
Viúva da vítima, Tatiane Gomes de Mattos disse que o importante foi que aproveitou a vida. Ela costumava  acompanhar o marido nos pagodes: "O que me deixa feliz é saber que ele viveu. Muito, muito mesmo. Foi embora feliz, apesar da pouca idade. O pedido dele foi que queria todo mundo chorando no velório e queria pagode. Daqui a pouco isso aqui vai estar lotado, vai ter música, fizemos camisa, esse era o pedido dele, todo mundo junto chorando, mas com pagode e cerveja. Ele queria que fosse assim". 
Jefferson estava internado no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste do Rio, até a última quarta-feira (27) quando teve a morte confirmada. Ele deu entrada na unidade em 19 de fevereiro após ser baleado em uma invasão de criminosos na comunidade do Catiri. De acordo com as investigações, a vítima estava em uma festa quando traficantes da Vila Kennedy, integrantes do Comando Vermelho (CV), tentaram invadir a comunidade e a Vila Aliança, locais dominados pela facção rival Terceiro Comando Puro (TCP).
O músico Derek Corrêa era amigo de longa data de Jefferson. Juntos, participaram de diversas rodas de samba e viveram momentos que vão ficar na memória. "Ele frequentava minha casa, já não éramos mais amigos e sim irmãos, estávamos sempre juntos, na minha casa, na casa dele, saíamos juntos. Tínhamos uma proximidade muito grande e perder um irmão assim é muito triste. Ele era um menino bom, só queria viver, ele curtiu muito a vida dele e sempre foi intenso. Infelizmente, isso aconteceu de uma forma trágica e poderia acontecer com qualquer músico porque tocamos muito em favelas. A gente fica triste por perder um irmão, ele era um moleque novo e perdeu a vida tocando e trabalhando", ressaltou Derek.
Tatiane contou ainda que o cemitério sugeriu que a família fizesse o velório em um lugar pequeno, do lado de fora, e que durasse 20 minutos. Como Jefferson gostaria do pagode, a família pagou um pouco mais por uma capela maior e tempo prolongado: "Moramos em Realengo, tem um cemitério do lado, mas quis trazê-lo para cá para fazer o pagode. Por coincidência, foi onde a avó dele também foi sepultada".
Considerado brincalhão e alegre por todos os amigos e parentes, o músico era aquela pessoa que animava todos os lugares. "Ele era uma pessoa muito alegre, ele chegava sempre brincando e a minha filha de 12 anos era muito apegada, ela está sofrendo demais e não dormiu a noite toda. Ele fazia muita brincadeira e contagiava todo mundo que estava no lugar. Era um menino trabalhador e foi uma perda muito grande. Ele era alegre demais e vai fazer muita falta", disse Anna Cecília Silva, que considerava o rapaz como um irmão.  
Jefferson Caick foi baleado na barriga e na coxa. Conforme disse um funcionário de Jefferson na época, o local onde ele estava era utilizado por pessoas da comunidade e estava cheio: "A gente chegou lá por volta das 16h e na hora de ir embora, umas 23h30, a facção rival entrou e saiu atirando. Não queriam saber em quem ia pegar. Foi quando meu patrão foi baleado com dois tiros. O lugar estava muito cheio, é um lazer pro pessoal da comunidade, tinha criança, idoso e várias famílias. No final, só morreu gente inocente", afirmou.
Invasão deixou outros dois mortos
Além do cantor, outros dois DJs, Lorran Oliveira dos Santos e Alex Mattos Adriano, foram baleados durante a festa. Eles foram socorridos e encaminhados para o mesmo hospital que Jefferson, mas, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), deram entrada já sem vida.
Uma mulher, identificada como Jéssica Monteiro da Silva, que também foi baleada, deu entrada por meios próprios no mesmo hospital. A SMS informou que a vítima foi atendida e recebeu alta hospitalar.
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