Abraçados, pai e filho de Michele caminham com camisa em homenagem à vítimaReginaldo Pimenta / Agência O Dia
Publicado 13/04/2024 16:28
Rio - Sob forte comoção, familiares e amigos se despediram de Michele da Silva Pinto neste sábado (13). A técnica de enfermagem, que morreu na quarta-feira (10) após ter 90% do corpo queimado pelo ex-companheiro, foi enterrada no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio.

As pessoas presentes no velório vestiram uma camisa com a foto de Michele, declarando "saudades eternas" e que ela estará "para sempre em nossas vidas". No verso, pediam por justiça, afirmando que "a maior epidemia do Brasil é o feminicídio".
Wagner Monzato, primo da vítima, contou ao DIA que foi ao Instituto Médico Legal (IML) fazer o reconhecimento do corpo de Michele. "Ela estava irreconhecível, só deu para identificar a tatuagem que tinha no braço direito", lembrou.
A Polícia Civil deu o caso como encerrado na última quarta, após concluir que Edmilson Felix do Nascimento, de 44 anos, responsável pelo crime, está morto. Segundo investigações, a Polícia Rodoviária Federal encontrou o carro do assassino vazio na Ponte Rio-Niterói. Inicialmente, informações concluíram que o corpo foi achado na Baía de Guanabara, na noite do crime.
Porém, o Corpo de Bombeiros afirmou que o cadáver ainda não foi encontrado, e que as apurações seguem em andamento. Carla Silva, irmã da vítima, declarou indignação com o decorrer do caso. "Nós não recebemos nenhuma prova de que ele está morto. Queremos a gravação que mostre ele se jogando da ponte. Esse tipo de coisa sempre tem registro, e um caso tão bárbaro como esse não tem nada. Eu quero justiça, não vamos descansar", afirmou.
Wagner também ressaltou que a família acredita que Edmilson forjou sua morte para fugir. "Ele fez tudo premeditado, trocou a escala no trabalho para poder ficar na casa da mãe na segunda, sabendo que Michele iria deixar a filha deles lá. Esse assassino é manipulador, um perigo para a sociedade. Não teve compaixão nem com a mãe da própria filha", acusou.
O primo de Michele destacou, ainda, que a vítima terminou o relacionamento em fevereiro, mas o ex não aceitou. Mesmo sob medida protetiva, ele perseguiu a técnica de enfermagem até a estação em que cometeu o crime.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que "as buscas pelo autor continuam", e que "a investigação foi concluída e encaminhada à Justiça".
Relacionamento conflituoso
Nesta sexta-feira (12), a irmã da vítima contou que Edmilson chegou a quebrar a casa para onde a técnica de enfermagem se mudou após o término.

"Depois que a Michele viu que [o relacionamento] não ia dar certo, ela comprou a casinha dela no Jacaré, com toda a luta. Ele [Edmilson] foi lá e quebrou tudo. É revoltante a gente ver essa impunidade”, desabafou Carla Silva.
Ela também relembrou que, dois dias antes do crime, a irmã foi batizada na igreja, com os três filhos reunidos. "Ela quis seguir a vida dela no evangelho, e Deus tirou ele [Edmilson] daquele momento, ao ponto de ela conseguir se batizar. Foi uma festa linda no sábado", finalizou.
A técnica de enfermagem deixa duas meninas e um menino, sendo apenas uma delas fruto da relação com o assassino.
O crime aconteceu na segunda (8), na estação de trem Augusto Vasconcelos, Zona Oeste. Na ocasião, segundo testemunhas, o homem jogou gasolina em Michele, ateou fogo e fugiu pelos trilhos. Ela morreu após dois dias internada no Hospital Pedro II, em Santa Cruz.
O Instituto de Segurança Pública tem pontos de atendimento para mulheres vítimas de violência distribuídos pelo estado. Os endereços e números de contato podem ser consultados online.

Também é possível buscar ajuda por meio da Central de Atendimento à Mulher (180), que presta atendimento qualificado às mulheres em situação de violência. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia.
*Reportagem do estagiário Gabriel Rechenioti, sob supervisão de Larissa Amaral
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