Michele será enterrada hojeArquivo Pessoal

Rio - A técnica de enfermagem Michele Pinto, que teve o corpo incendiado pelo ex-companheiro, vivia há oito anos em um relacionamento conflituoso com Edmilson Felix do Nascimento, de 44 anos. Nesta sexta-feira (12) a irmã da vítima, Carla Silva, contou que Michele tentou se separar do assassino diversas vezes e não conseguia. Os familiares também contestaram a conclusão do inquérito da Polícia Civil.
"Depois que a Michele viu mesmo que (o relacionamento) não ia dar certo, ela comprou a casinha dela no Jacaré, com toda a luta. Ele (Edmilson) foi lá e quebrou tudo, tudo novo, e minha irmã pagando tudo. Ela foi à polícia e estava com uma medida protetiva. É revoltante a gente ver essa impunidade, ver que a vida foi ceifada da maneira que foi", explicou Carla.

Michele morreu na última quarta-feira (10), no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, onde estava internada desde segunda (8), quando Edmilson, jogou gasolina e ateou fogo em seu corpo. Após deixar a filha deles na casa da ex-sogra, a técnica de enfermagem foi seguida pelo criminoso até a estação de trem Augusto Vasconcelos, na Zona Oeste, onde foi atacada.
Carla contou ainda que, dois dias antes do crime, Michele foi batizada e conseguiu o sonho de reunir os três filhos para celebrar o momento. "Foi um preparo. No momento que ela quis seguir a vida dela no evangelho, Deus tirou ele daquele momento, ao ponto de ela conseguir se batizar. Foi uma festa linda no sábado. No domingo, ela teve a despedida. Ela realmente conseguiu comprar uma mesa e reunir os três filhos". 
As crianças, duas meninas e um menino, estão sob os cuidados da família. Apenas uma delas é fruto da relação com Edmilson. 

Logo após o crime, ainda na noite de segunda-feira (8) o carro de Edmilson foi encontrado vazio, parado na Ponte Rio-Niterói. O delegado Jorge Maranhão, titular da 35ª DP (Campo Grande), afirmou que o corpo do homem foi localizado na Baía de Guanabara. Na ocasião, o Corpo de Bombeiros negou que havia encontrado o cadáver.

O caso foi encerrado na quarta-feira (10).

"Ficou apurado que (o autor) foi o ex-companheiro da vítima e remetemos o relatório à Justiça. Com a morte do Edmilson, o indiciamento dele foi extinto", afirmou o delegado ao DIA.

A família, no entanto, não se conforma com o desfecho. "A gente agora só quer as filmagens, né? Porque não tem corpo, não tem morte, né? Uma Ponte Rio-Niterói tem que ter câmera, tem que ver ele se jogando. A gente vai lutar na justiça, não vai acabar em pizza", concluiu a irmã da vítima. 
Michele será sepultada às 13h deste sábado, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte. Ainda pela manhã, acontece o velório na capela Santa Casa Card.
Feminicídios

Somente entre janeiro e fevereiro de 2024, 20 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado do Rio de Janeiro. A maioria dos casos aconteceu na capital fluminense, que registrou 7 ocorrências, segundo o Instituto de Segurança Pública.

Em relação ao mesmo período do ano passado, houve um aumento de quatro feminicídios.

O Instituto de Segurança Pública possui pontos de atendimento para mulheres vítimas de violência distribuídos pelo estado. Os endereços e números de contato podem ser consultados online.

Também é possível buscar ajuda através da Central de Atendimento à Mulher (180), que presta escuta e acolhida qualificadas às mulheres em situação de violência. A ligação é gratuita e o serviço funciona 24 horas por dia.