Familiares se despediram de Kaleb Gabriel Lisboa, de 2 anos, no Cemitério de Inhaúma, na Zona NorteLucas Cardoso / Agência O Dia
Publicado 20/07/2024 16:59
Rio - O menino Kaleb Gabriel da Cruz Lisboa, de 2 anos, que morreu devido a um traumatismo na região do abdômen, foi enterrado, na tarde deste sábado (20), no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. Uma parte da família suspeita que a vítima tenha sido agredida. Já a mãe e o padrasto, que não compareceram à cerimônia por estarem sendo ameaçados, alegam que ele caiu da cama.
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A criança deu entrada na última quarta-feira (17) na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ricardo de Albuquerque, também na Zona Norte, já sem vida. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) constatou que a morte aconteceu devido a um traumatismo na região do abdômen. Segundo o documento, houve uma lesão no pâncreas por ação contundente, como uma pancada e não uma queda de cama.
Durante o sepultamento, Érika Lisboa, tia do menino, pediu justiça sobre o caso. De acordo com ela, um dos irmãos de Aline Júlia da Conceição, mãe de Kaleb, contou que a criança era agredida por ela e pelo padrasto. A hipótese de maus-tratos está sendo investigada pela Polícia Civil.
"Esse último adeus foi muito triste e comovente. Era uma criança de 2 anos. A despedida está sendo mais dolorida pelas circunstâncias. Eu quero pedir só a verdade. A minha mãe já perdeu um filho. Agora estou perdendo um sobrinho. Eu quero justiça mesmo que seja da parte da Aline ou do Matheus. Quero que o hospital seja responsabilizado porque o meu sobrinho realmente tinha umas marcas suspeitas no corpo. Eu quero justiça e quero que os culpados, seja o hospital ou a UPA, respondam pelo o que aconteceu com meu sobrinho", comentou a tia.
Um parente, que preferiu não ser identificado, contou que Kaleb tinha marca de agressão quando morreu. "Ele está com as perninhas cheia de marcas de arranhões porque ela batia. Cansamos de ver ela batendo nele de mão fechada. Além disso, a cama nem era alta", disse o familiar.
Mãe e padrasto não compareceram
Aline Júlia da Conceição, mãe do Kaleb, e o seu companheiro não compareceram à cerimônia, pois, segundo ela, estariam sendo ameaçados pelas redes sociais e por vizinhos. A versão do casal aponta que o menino estava brincando com o irmão mais novo na cama e caiu no chão.
"A única coisa que tenho para falar é que não houve agressão. Eu e meu marido não agredimos meu filho até porque eu como mãe nunca aceitaria isso. Ele estava brincando com o irmão na cama e caiu", garantiu a mãe em entrevista ao DIA nesta sexta-feira (19).
No cemitério, Alexsandra da Cruz, mãe de Aline e avó de Kaleb, também negou que a filha e genro batiam na criança. De acordo com a avó, Kaleb costumava ficar de castigo sem ver desenho nem mexer no celular, mas não era agredido.

"O meu filho falou para a tia do Kaleb [Erika] que a minha filha batia e meu genro batia, mas isso é uma mentira. Eles nunca bateram nele desde que começou a morar com a minha filha. Nunca presenciei. Meu filho, tio do Kaleb, nunca conviveu com eles, então não tem como dizer isso. O que nós víamos era o Kaleb sendo repreendido e de castigo. Sem ver desenho e celular, mas nunca chegou ao ponto de bater. Meu neto chamava até o padrasto de pai. Ele fazia todas as vontades da criança, então nunca vi dar um beliscão. Castigo eu vi, como disse, mas bater não", alegou.
Para Alexsandra, a hipótese do neto ter caído da cama é válida, pois ele era um menino levado que gostava de ficar pulando de um local para o outro.
"Ele caiu porque sempre pulava do sofá. Pulando de um para o outro. Eu até reclamava com ela dizendo que ele iria cair. Era uma criança levada, de 2 anos e que fazia muita arte. Era levado. Para mim foi um acidente, não tem isso de espancamento. Se eu visse eles batendo, eu iria falar", completou.
A avó ainda lamentou a ausência da filha no sepultamento do neto devido às ameaças. "Minha filha hoje não está vindo no enterro porque está sendo ameaçada. É muito triste isso. Uma mãe não poder se despedir do próprio filho e não vir no velório. Ela me ligou chorando ontem. Sou mãe e já perdi um neto. Não quero perder minha filha", finalizou.
Atendimento em unidades de saúde
Kaleb deu entrada na UPA de Ricardo de Albuquerque na última terça-feira (16) devido a suposta queda. Na unidade, os pais foram orientados a procurar o Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, na Zona Oeste. 
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde (SES), responsável pela UPA, informou que Kaleb deu entrada na unidade levado pelo padrasto e pela mãe, devido a uma queda sofrida pela criança, que apresentou vômitos.
"Eles foram orientados a permanecer na unidade para que a criança fosse encaminhada com prioridade para exame de tomografia, mas optaram por sair à revelia, ou seja, por conta própria, sem alta dada pela equipe médica", informou a direção da unidade.
Já a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) destacou que não há registro em prontuário de informações dos responsáveis da criança sobre dor abdominal. De acordo com a pasta, o paciente foi levado à unidade com relato de queda da cama e trauma no crânio, apresentando sinais e sintomas compatíveis a este histórico. A SMS disse, ainda, que ele foi atendido conforme relato do ocorrido e sintomas apresentados, e recebeu alta.
Já na manhã de quarta-feira (17), a mãe encontrou o filho gelado e voltou a levá-lo à UPA, mas o mesmo já estava sem vida.
O caso está sendo investigado pela 31ª DP (Ricardo de Albuquerque). As hipóteses de negligência de unidade de saúde e de maus-tratos estão sendo investigadas. Agentes da distrital ouvem testemunhas, levantam informações e realizam buscas para esclarecer a morte. A mãe e o padrasto do menino devem ser ouvidos na próxima semana.
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