Praça Barão de Drumond após ataque a tiros que deixou quatro mortosReginaldo Pimenta
Publicado 19/08/2024 12:05
Rio - Familiares das vítimas do ataque a tiros que deixou quatro mortos e outros feridos na Praça Barão de Drumond, uma das principais e mais movimentadas de Vila Isabel, na Zona Norte, estiveram no Instituto Médico Legal (IML) na manhã desta segunda-feira (19) e destacaram as cenas de terror em meio ao tiroteio, além da violência no bairro. Para os moradores da região, a guerra entre criminosos tem afetado toda a população, que fica constantemente em meio ao fogo cruzado.
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Com medo, os parentes preferiram não se identificar, mas reforçam que há inocentes em meio às vítimas.
"Os traficantes são todos integrantes do Comando Vermelho (CV), ex-bandidos do Morro dos Macacos. Eles chegaram atirando, estava tendo um pagode, já tinha um menino sentado e saiu outro da moto atirando em todo mundo, em inocentes. Eles deram tiro em um menino que estava com a filha no colo. É uma impunidade sem tamanho, a polícia saiu e aconteceu tudo isso", disse.

Ao DIA, a familiar de um dos mortos questionou ainda onde toda essa violência vai parar. "A gente quer paz, Justiça, tinha umas quatro ou cinco pessoas baleadas que não tinham envolvimento. Tem quatro inocentes que eu conheço. Eles chegaram atirando sem querer saber se tinha criança, inclusive tinha criança no pula-pula na hora. Essa guerra está respingando para todos os lados, está sobrando para morador, inocente que não tem nada a ver. Vamos ver até onde vai essa guerra, e pelo que eles falam não vai acabar nem tão cedo", lamentou.

Nas redes sociais, testemunhas também relataram os momentos de pânico durante o ataque. "Eu estava na praça com minha sobrinha de 5 anos, minha irmã e marido, próximo ao bar após os trailers. Entramos correndo no bar, pessoas foram pisoteadas, a garçonete caiu e bateu com o rosto no chão. Foi um verdadeiro cenário de guerra, que se perdurou posteriormente. Conseguimos sair porque o carro estava bem próximo ao bar e fomos na contramão, para não pegar o redor da praça que estava tendo intenso tiroteio", comentou uma moradora da região.

"Eu estava na hora e foi uma coisa horrível gente. Estava com uma idosa lanchando, covardia dessas pessoas, não quiseram saber se tinham crianças", relatou outra.

"Vi ontem dois homens serem executados diante de mim. Desci à Praça Sete, onde moro, para tomar uma caipirinha e levar um yakisoba. De repente, duas motocicletas. Rajadas de metralhadoras. Dois caem na praça. O povo, cena apocalíptica, corre para todos os lados. Todos deitados no chão. Guerra que já dura pelo menos 20 anos. Queremos que a Vila Isabel volte só a dar samba", explicou outro.
Segundo a Polícia Civil, as vítimas que não resistiram foram identificadas como: Gabriel Pereira Candido, de 24 anos, Pedro Henrique Pereira dos Santos, 18, Pedro Henrique Barbosa da Conceição, também de 18 anos; e o adolescente T. M. L, de 17 anos. Outras três pessoas continuam internadas. A perícia foi feita no local e diligências estão em andamento para apurar a autoria e a motivação do crime.
De acordo com a direção do Hospital do Andaraí, dentre os feridos, Wallace de Oliveira Cláudio, de 35 anos, e Daniel Carvalho de Souza, 33, seguem em estado grave. Enquanto Juan Victor Pereiras tem quadro de saúde estável.
Na ocasião, equipes do 6º BPM (Vila Isabel) reforçaram o policiamento no local e estiveram nas unidades de saúde para onde as vítimas foram levadas.
Ainda durante a manhã desta segunda-feira (19) quem passavam pela praça se deparava com marcas de sangue e projéteis pelo chão. Segundo moradores, o local é um ambiente familiar que reúne muitas crianças aos fins de semana.
Para Raquel da Silveira, que reside há 30 anos no bairro, a guerra entre os criminosos tem impedido o direito de ir e vir da população.

"Domingo sempre tem pula-pula, colocaram trailer agora. Isso é muito triste para as crianças, para os adultos que trazem as crianças para brincar, lanchar e agora ter que passar por uma situação dessa. Só peço forças a Deus para os moradores, para gente ter tranquilidade, direito de ir e vir porque isso impede. Até porque domingo é um dia de lazer, e isso é uma chacina, uma guerra, isso não pode existir", lamentou.

Mãe de três filhos, a moradora contou também o susto que levou com os tiros durante a noite. "Tranquei a porta e coloquei as crianças para dormir, porque moro no alto. Sempre levo meus filhos ali, tem uns brinquedinhos. A gente nunca imaginou acontecer isso aqui embaixo. Imagino ontem eu aqui, e você fica pensando se pode acontecer com você, com uma mãe conhecida, um amiguinho do seu filho. A guerra está passando dos limites. Não quero que chegue ao ponto de atingir minha família e nem mais ninguém. As crianças passam aqui, ficam brincando e não tem a noção do perigo que estamos passando", disse.
Disputa de território
A região de Vila Isabel, em especial o Morro dos Macacos, vem sendo palco de uma constante guerra pelo controle territorial entre o Terceiro Comando Puro (TCP), que domina atualmente a comunidade, e o Comando Vermelho (CV). Desde o início desse ano, a região sofre com tentativas de invasões de traficantes do Morro São João, no Engenho Novo, controlado pelo CV.
No último dia 5, uma dessas invasões causou a morte de G. S. D. A., de 13 anos, e de Luiz Gabriel Costa de Jesus, de 20. O adolescente voltava para casa após uma festa e o jovem retornava do seu trabalho, quando foram baleados durante um tiroteio.
Na ocasião, devido as mortes, moradores da região realizaram protestos com pedaços de madeira, pneus, caçambas e sacos de lixo que foram colocadas na entrada do Túnel Noel Rosa, que ficou interditado por cerca de uma hora. Além disso, ruas da região também foram fechadas.
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