Aparecida Guimarães ao lado do filho, Davi Geovane, de 8 anosArquivo pessoal
Publicado 08/09/2024 14:22
Rio - "Está correndo tudo bem, ele deve acordar na segunda-feira". O relato aliviado é de Aparecida Guimarães, mãe de Davi Geovane Guimarães, de 8 anos, que teve o braço amputado durante um acidente de ônibus que deixou outras 26 pessoas feridas em São Cristóvão, na Zona Norte. O menino passou por uma cirurgia para reimplantar o membro na sexta-feira (7) e se recupera no hospital, em coma induzido. 
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Apesar de ter tido uma leve infecção, Davi segue com quadro de saúde estável no Hospital Quinta D’ór. Segundo Aparecida, a circulação do sangue no braço transplantado está normalizando aos poucos.
"O sangue começou a escorrer, sabe? Está correndo tudo bem, ele só está com uma infecçãozinha mas eles (os médicos) estão cuidando disso. Amanhã provavelmente o Davi vai acordar. Não vejo a hora de acabar isso tudo, a minha cabeça está a mil. Pede a todo mundo para orar, pede uma corrente de oração pelo meu filho", disse a mãe.

A cirurgia só foi possível após o menino ser socorrido pelo mototaxista Diego Mendes, que passava no local no momento do acidente. O rapaz levou mãe e filho até o hospital mais próximo e depois retornou ao ônibus para buscar os pertences da família, momento em que encontrou o braço da criança, que havia sido colocado em uma mochila de entregas, com gelo, por equipes do Corpo de Bombeiros.

"No hospital atenderam a criança da melhor forma possível, mas eu tive que voltar porque tinha os pertences da mulher, documentação, e eles tinham um cachorrinho, um poodle que ficou lá dentro do ônibus. Aí quando eu cheguei lá, os bombeiros já tinham colocado o braço dele dentro de uma 'bag' com gelo, na mesma hora meti o pé voado e entreguei para os médicos", explicou o motoboy.
Ao DIA, o médico especialista em ortopedia e traumatologia João de Oliveira Camargo Neto explicou que o reimplante de um membro, nesse caso do membro superior, é uma cirurgia delicada e de longa duração. "Trata-se de uma microcirurgia para religar os vasos (veias e artérias), nervos, tendões e fixação do osso. Pode-se utilizar placas e parafusos ou pinos para a fixação da parte óssea atingida", explica o especialista.
Questionado sobre o processo de recuperação, o médico disse que, assim como qualquer cirurgia de reimplante, o procedimento pode não ter um desfecho favorável, pois envolve a necessidade de revascularização do membro amputado. "Nem sempre os vasos conseguem levar o sangue da maneira adequada para a extremidade e pode ocorrer a necrose do membro reimplantado. Outros fatores também afetam o prognóstico como o tempo decorrido entre a amputação e o reimplante, o nível da amputação e a gravidade das lesões", disse.
Ainda segundo o especialista, dificilmente um membro reimplantado recupera suas funções por completo, mas que isso varia muito de caso para caso. O contexto de como e quando o braço chegou ao Hospital Quinta D'or pode ajudar na corrida contra o tempo. "Lesões muito graves, com muita contaminação e tempo muito longo, acima de 6 horas, podem impossibilitar a tentativa de reimplante em razão do sofrimento tecidual por isquemia e alta chance de falha do procedimento", explica o especialista.
Agora, Davi permanecerá internado e em observação. "Os cuidados pós operatório imediato são medicamentos para controle da dor e infecção, anticoagulantes, curativos e reabilitação", esclarece o médico.
O acidente
O ônibus, que fazia a linha 476 (Méier - Leblon), tombou nas imediações do Campo de São Cristóvão, altura da Rua Senador Alencar, na Zona Norte, na noite de sexta-feira (6). Segundo passageiros, o motorista estava em alta velocidade.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), das vítimas, seis permanecem internadas em hospitais da rede municipal. Um paciente está em estado grave, porém estável, e os demais apresentam quadro de saúde estável.
O caso está sendo investigado pela 17ª DP (São Cristóvão). A perícia foi realizada no local e testemunhas foram ouvidas.
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