Publicado 13/10/2024 09:07
Rio - A jovem que teve o registro profissional usado em um dos laudos do PCS Lab Saleme afirmou estar chateada por ter sido associada ao erro em testes de HIV. O laboratório é investigado por falhas nos exames, que provocaram a infecção pelo vírus em seis pacientes transplantados. Um dos resultados foi assinado por uma funcionária da empresa, com os dados da biomédica.
PublicidadeEm entrevista ao 'Jornal Nacional' da TV Globo, Júlia Moraes de Oliveira Lima contou que se formou em Biomedicina no Recife, capital de Pernambuco, onde mora atualmente. A jovem trabalhava em São Paulo, na coleta domiciliar de DNA para testes de paternidade, e nunca atuou em laboratório e com análises clínicas. Há três anos, ela teve o registro cancelado pelo Conselho Regional de Biomedicina e já não exerce mais a profissão.
Depois de saber que seu registro havia sido usado pelo laboratório, Júlia lamentou ter sido envolvida no caso. "Eu fiquei muito chateada, porque é uma coisa tão séria, tão triste. Tanta gente está passando por consequências gigantescas e é horrível saber que eu estou sendo vinculada a uma história dessa que eu, literalmente, não tenho nada a ver", desabafou.
O laudo, de maio deste ano, foi assinado por Jacqueline Iris Bacellar de Assis, que não consta como biomédica no Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região, conforme O DIA verificou. Na ocasião, o documento apontou que o paciente não tinha HIV, mas pessoas que receberam seus órgãos foram contaminadas com o vírus.
De acordo com o Conselho Federal de Biomedicina (CFBM), o PCS Lab não possui inscrição no Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região, jurisdição a qual pertence o estado do Rio de Janeiro, e também não há registro de anotação de responsabilidade técnica de profissional biomédico pelas atividades do laboratório nos assentamentos do Regional.
Segundo o laboratório, o registro profissional de Jacqueline Iris é um dos pontos que está sendo investigado pela sindicância aberta. O caso também é alvo de investigações da Secretaria de Estado de Saúde (SES), das Polícias Civil e Federal, dos Ministérios Público do Rio (MPRJ) e da Saúde, bem como do Conselho Regional de Medicina (Cremerj).
Laboratório não presta mais serviços à Saúde do Rio
Neste sábado (12), a secretária de Estado de Saúde, Claudia Mello, anunciou que a PCS Lab Saleme não presta mais serviços à nenhuma unidade assistencial da rede. Desde a interdição do laboratório, que fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, na última quinta-feira (10), todos os exames agora são feito por outros laboratórios. No ano passado, a empresa e a Fundação Saúde assinaram contratos de mais de R$ 17,5 milhões.
Segundo a SES, foi um aberto novo processo para contratação de laboratório para atender à rede estadual de saúde, com exceção do serviço de transplantes, que continuará sendo atendido pelo Hemorio. Após a descoberta do caso, em 10 de setembro, a pasta determinou o rastreio e reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório. Após a suspensão dos serviços, os testes passaram a ser realizados pelo Hemorio.
Além de atender as unidades da rede estadual, a Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu (Semus) também tinha contrato com a empresa que, segundo a pasta, foi encerrado em fevereiro deste ano, passando a ser administrado pelas OSs responsáveis pela rede de atenção básica do município. Já o contrato entre o laboratório e a OS foi encerrado nesta quinta-feira, assim que a Semus recebeu a notificação sobre a interdição cautelar feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Apesar de, até momento, nenhum paciente da cidade ter contestado resultados de exames, a Prefeitura de Nova Iguaçu também vai abrir uma sindicância. "Qualquer paciente do SUS que tenha feito algum exame no PCS Saleme pode voltar à unidade de saúde que solicitou o teste para requisitá-lo novamente", alertou a nota do muncípio. Na rede privada, a Unimed Nova Iguaçu também rompeu com o laboratório.
O que diz o PCS Lab
O laboratório PCS Lab disse que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados ocorridos no estado do Rio de Janeiro. "Trata-se de um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969", iniciou a nota.
Segundo a empresa, o laboratório informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado.
"Nesses procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso", garantiu a empresa.
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