Exames de sangue nos doadores foram realizados no PCS Lab Saleme, em Nova Iguaçu Renan Areias/Agência O Dia

Rio - O laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme), investigado por suspeita de errar os resultados de testes de HIV para processo de transplante, foi contratado por licitação no valor de R$ 11 milhões pelo Governo do Rio e prestava serviço para unidades de saúde estaduais, municipais e privadas.
O laboratório prestou serviços para o Estado do dia 1º de dezembro de 2023 até 12 de setembro deste ano. No dia 20 de setembro, após a Secretaria de Estado de Saúde (SES) tomar conhecimento do incidente sem precedentes, o laboratório foi interditado. 
Nesta sexta-feira (11), a Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu (Semus) disse que o contrato com a PCS Laboratório Saleme foi encerrado em fevereiro deste ano, passando a ser administrado pelas OS responsáveis pela rede de atenção básica do município. Já o contrato entre o PCS e a OS foi encerrado nesta quinta-feira (11), assim que a Semus recebeu a notificação sobre a interdição cautelar feita pela Anvisa.
A Prefeitura de Nova Iguaçu informou que vai também vai abrir sindicância contra a clínica. "Qualquer paciente do SUS que tenha feito algum exame no PCS Saleme pode voltar à unidade de saúde que solicitou o teste para requisitá-lo novamente. Até o momento, não há registro de pacientes contestando resultados de exames", disse a prefeitura do município.
Para evitar a interrupção do serviço prestado aos pacientes de Nova Iguaçu, que estão com exames agendados, um novo laboratório está sendo contratado emergencialmente.
A Unimed Nova Iguaçu também rompeu com o laboratório, nesta sexta-feira (11). "O Laboratório de Patologia Clínica Dr. Saleme Ltda. – PCS Saleme, localizado no município de Nova Iguaçu, não faz mais parte da rede de prestadores desta cooperativa a partir da presente data".
A reportagem de O DIA esteve no endereço do PCS Lab Saleme, no Centro de Nova Iguaçu, na tarde desta sexta-feira, e encontrou pelo menos 10 pessoas tentando obter informações sobre seus respectivos exames. Entre eles estava um pai que tentava pegar o resultado do exame de HIV da filha, que está grávida. "Eu não consegui contato com o laboratório por telefone, então eu vim aqui. Consegui agora baixar o resultado pelo celular. Deu não reagente para HIV", disse. Na porta do laboratório há um aviso de que o estabelecimento está em manutenção e que os resultados de exames de pacientes devem ser acessados somente pela internet.
Entenda o caso 
A Secretaria de Estado de Saúde do Rio (SES) investiga a contaminação de seis pessoas por HIV, após receberem transplantes de órgãos. Nenhum deles estava infectado antes e o primeiro caso foi descoberto há um mês, quando um dos pacientes testou positivo para o vírus. Todos os exames de sangue dos doadores foram realizados pelo PCS Lab Saleme e apresentaram falso negativo.
A situação foi descoberta no último dia 10 de setembro, segundo revelou a BandNews, quando um paciente transplantado foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve resultado para HIV positivo. Logo depois, amostras dos órgãos doados pela mesma pessoa foram analisadas e outros dois casos confirmados. Há uma semana foi notificado que mais um receptor de órgãos teve o exame de HIV positivo, após o transplante. Até o momento, estão confirmados seis casos.
Cremerj e Ministério da Saúde apuram o caso
O Conselho Regional de Medicina (Cremerj) abriu uma sindicância para apurar o caso. "A falha teria acontecido na realização de exames de detecção do vírus HIV por um laboratório credenciado pela SES", diz a nota. O procedimento corre em sigilo.
De acordo com o Ministério da Saúde, além dos seis pacientes que receberam os órgãos, foi confirmada também a infecção por HIV de dois doadores. A pasta ordenou a retestagem do material de todos os doadores de órgãos feitas pelo PCS Lab, para identificar possíveis novos casos de falso-positivos. Também foi determinada que a testagem de todos os doadores de órgãos do Rio voltasse a ser feita exclusivamente pelo Hemorio, usando o teste NAT, produzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro informou que também vai investigar a contratação em questão, encaminhando o caso para os promotores de Justiça de Cidadania. A investigação abarcará a análise do dano pelo serviço não prestado adequadamente e possíveis irregularidades na licitação, em decorrência dos vínculos mencionados.
O que diz o PCS Lab
O laboratório PCS Lab disse que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados ocorridos no estado do Rio de Janeiro. "Trata-se de um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969", iniciou a nota.
Segundo a empresa, o laboratório informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado.
"Nesses procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso", garantiu a empresa.
Castro reforça que situação é sem precedentes
Por meio de nota, o governador do Rio, Cláudio Castro, disse que esta é uma situação inadmissível e sem precedentes no serviço de transplantes no estado. "Determinei total rigor e celeridade nas investigações. Desde o início, tomamos todas as medidas necessárias e vamos até o fim para que este erro jamais se repita", disse.
Castro garantiu suporte aos transplantados afetados. "Quero assegurar apoio irrestrito aos transplantados afetados. O estado tem o dever de assumir sua responsabilidade no caso. Reitero meu compromisso em preservar a segurança do sistema estadual de transplantes, que já salvou as vidas de mais de 16 mil pessoas", disse.