Rio - A secretária de Estado de Saúde do Rio (SES-RJ), Claudia Mello, informou, neste sábado (12), que a PCS Lab Saleme não presta mais serviços à nenhuma unidade assistencial da rede. O laboratório, que fica em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, é investigado por falhas em testes de HIV de doadores de órgãos, que provocaram a infecção pelo vírus em seis pacientes transplantados. O estabelecimento está interditado desde a última quinta-feira (10).
De acordo com a secretária, após a interdição, todos os exames antes realizados pela PCS Lab, agora são feito por outros laboratórios. "O laboratório Patologia Clínica Saleme não mais presta serviço a nenhuma unidade assistencial da rede SES. Ele já foi interditado e todos os exames das nossas unidades já são realizados por outros laboratórios, não há nenhuma ação mais desse laboratório citado", declarou Claudia Mello. No ano passado, a empresa e a Fundação Saúde assinaram contratos de mais de R$ 17,5 milhões.
Segundo informações do Portal da Transparência, os acordos eram para a realização de exames de análises clínicas e anatomia patológica. Dois foram firmados com dispensa de licitação e um por meio de pregão eletrônico. O laboratório foi escolhido para atuar nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Bangu, Campo Grande e Realengo, na Zona Oeste; no Hospital Estadual Ricardo Cruz (Hercruz), em Nova Iguaçu; e nas unidades sob gestão da Fundação Saúde, entre eles a Central Estadual de Transplantes do Rio (RJ Transplantes).
Depois da descoberta do caso, em 10 de setembro, a SES determinou o rastreio e reavaliação de todas as amostras de sangue armazenadas dos doadores, a partir de dezembro de 2023, data da contratação do laboratório e, após a suspensão dos serviços, os testes passaram a ser realizados pelo Hemorio. Claudia Mello disse também que, em caso de não conformidade nos exames realizados pelo laboratório, o corpo clínico pode repetir os testes. "Caso haja alguma não conformidade, em relação ao exame e ao caso clínico desse paciente, essa equipe avalia, monitora e repete esse exame, se necessário".
A pasta também determinou a abertura de uma sindicância para identificar e punir os responsáveis. "A gente vem de novo esclarecer que todo esse caso está sendo avaliado na sindicância, com todo o rigor devido vai ser apurado", reforçou a secretária. Confira abaixo. Além da secretaria, o caso também é investigado pelas polícias Civil e Federal, bem como pelos Ministérios Público do Rio (MPRJ) e da Saúde, e o Conselho Regional de Medicina (Cremerj).
Secretária diz que laboratório que errou em testes de HIV não presta mais serviços à Saúde
Além de atender as unidades da rede estadual, a Secretaria Municipal de Saúde de Nova Iguaçu (Semus) também tinha contrato com a empresa que, segundo a pasta, foi encerrado em fevereiro deste ano, passando a ser administrado pelas OSs responsáveis pela rede de atenção básica do município. Já o contrato entre o laboratório e a OS foi encerrado nesta quinta-feira, assim que a Semus recebeu a notificação sobre a interdição cautelar feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Apesar de, até momento, nenhum paciente do município ter contestado resultados de exames, a Prefeitura de Nova Iguaçu também vai abrir uma sindicância. "Qualquer paciente do SUS que tenha feito algum exame no PCS Saleme pode voltar à unidade de saúde que solicitou o teste para requisitá-lo novamente", informou. Na rede privada, a Unimed Nova Iguaçu também rompeu com o laboratório.
Em 2011, dois sócios do laboratório já haviam sido condenados pelo Tribunal de Justiça do Rio (TJ-RJ), por falso resultado positivo para o vírus. Na ocasião, Márcia Nunes Vieira e o médico Walter Vieira eram donos da PCS LAB Farroula Analises Clinicas LTDA. e tiveram de indenizar a paciente em R$ 10 mil, conforme constam nos autos do processo. O caso aconteceu em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, onde o estabelecimento funcionava. Após o pagamento do valor, o processo foi arquivado.
Sócios de laboratório são parentes de ex-secretário
Parentes do deputado federal e ex-secretário de Saúde do estado do Rio Dr. Luizinho são sócios do PCS Lab Saleme. A empresa foi contratada pela Fundação Saúde, empresa pública do Governo do Rio, no mesmo período da gestão do parlamentar. Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira é primo de Luizinho e Walter Vieira, casado com a tia do político. O mesmo é médico ginecologista concursado do município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, e foi afastado do cargo.
Em nota, Dr. Luizinho afirmou que conhece o laboratório há mais de 30 anos e que ele foi dirigido, inicialmente, pelo pai de Walter Vieira. Ele também lamentou o ocorrido e desejou ao fim das investigações "punição exemplar para os responsáveis por esses gravíssimos casos de contaminação". Sobre o laboratório prestar serviços durante a sua gestão, o ex-secretário de Saúde garantiu que manteve a mesma equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e que nunca participou da contratação deste ou de qualquer outro Laboratório.
O que diz o PCS Lab
O laboratório PCS Lab disse que abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso envolvendo diagnósticos de HIV em pacientes transplantados ocorridos no estado do Rio de Janeiro. "Trata-se de um episódio sem precedentes na história da empresa, que atua no mercado desde 1969", iniciou a nota.
Segundo a empresa, o laboratório informou à Central Estadual de Transplantes os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação de Saúde do Governo do Estado.
"Nesses procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O PCS Lab dará suporte médico e psicológico aos pacientes infectados com HIV e seus familiares; e reitera que está à disposição das autoridades policiais, sanitárias e de classe que investigam o caso", garantiu a empresa.
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