Agentes fizeram perícia em pilastra que desabou e matou meninaArquivo Pessoal

Rio - O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio (Crea-RJ) informou que a obra realizada no condomínio onde uma menina de 7 anos morreu não foi conduzida por um profissional habilitado. A irregularidade foi constatada durante uma fiscalização na reforma do Espaço Relax, nesta quinta-feira (6), no condomínio Puerto Madero, no Recreio dos Bandeirantes. Foi nesse local que uma pilastra desabou, causando a morte de M.L.O.
O presidente do Crea-RJ, o engenheiro civil Miguel Fernández, determinou a abertura de um auto de infração contra o condomínio, que será notificado. O síndico, Luciano Bonfim de Azevedo, também poderá responder por exercício ilegal da profissão, uma vez que a obra foi realizada sem a supervisão de um engenheiro responsável. Ele prestou depoimento na 42ª DP (Recreio) no início da tarde desta quinta.
"O Crea fiscaliza o exercício profissional. Então, nós fomos a campo verificar e confirmar que não houve engenheiro responsável técnico pela obra de reforma naquele ambiente. Então, esse foi o nosso trabalho hoje de vistoria, uma ação de fiscalização. Não foi uma perícia, isso é importante ser ressaltado. A perícia cabe à Polícia Civil, que está fazendo a investigação para chegar a uma avaliação de culpa. O Crea faz uma ação de fiscalização sobre os profissionais", disse Miguel Fernández em coletiva na sede do Conselho, no Centro do Rio.
Crea-RJ fez vistoria nesta manhã
Na manhã desta quinta (6), fiscais do Crea-RJ fizeram a vistoria do local onde caiu a pilastra que matou a menina. Eles foram recebidos por um subsíndico e um engenheiro amigo do síndico, que não estava no local. Durante 40 minutos, os fiscais fotografaram o local, mas não puderam se aproximar do pilar destruído porque a área está interditada pela Polícia Civil.
Os fiscais examinaram a planta do condomínio, mas não foi localizado o projeto do Espaço Relax, onde há uma cobertura de madeira, além de duas redes sustentadas por quatro pilares. Um deles caiu, resultando na morte da menina. Conforme apurado pelo Conselho, a obra do condomínio foi entregue em 2009 com o Espaço Relax previsto na planta. O local foi submetido a uma reforma recente, mas sem a atuação de um profissional de engenharia.

O presidente lembrou que determinou no ano passado uma campanha educativa, informando os síndicos que devem fazer obras apenas com a contratação de engenheiros registrados e habilitados junto ao Conselho.
"Toda obra, mesmo que possa parecer simples, se não tiver um engenheiro avaliando o risco, você corre o risco de ter alguma situação mais problemática que no olhar de um leigo não seja identificada, e pior, você vai mascarar a real periculosidade do ambiente. Eu uso o exemplo de uma parede que possa ter uma rachadura. Se você não tiver um engenheiro responsável habilitado para verificar se aquela rachadura representa ou não risco estrutural para aquela edificação, você, ao pintar, pode estar escondendo um risco iminente de queda", destacou Fernández.
O profissional reforçou que tanto os síndicos como os moradores devem aumentar sua consciência sobre a necessidade de segurança das obras e reformas em suas casas e condomínios. "O que eu quero chamar a atenção é que você síndico, você cidadão, que vai fazer uma obra onde você não contrata um engenheiro, você assume uma responsabilidade que não deveria ser sua. E, principalmente, um risco que você muitas vezes não sabe nem avaliar adequadamente ao qual você está se colocando", concluiu.
Ele também ofereceu apoio técnico ao Ministério Público do Rio (MPRJ), que deverá acompanhar o caso.
Relembre a tragédia
A menina de 7 anos estava brincando no playground com as amigas quando a coluna despencou, na noite de terça-feira (4). De acordo com moradores, o espaço teria sido reformado recentemente. "O síndico colocou duas redes, que o pessoal chama de esteiras, aquelas mais largas, fixadas em quatro colunas de concreto no play, para as pessoas sentarem e conversarem. Essa menina estava balançando quando uma dessas colunas, que não estava bem fixada no chão, despencou e caiu em cima da cabeça dela", disse uma testemunha ao DIA.
Em imagens obtidas pela reportagem, é possível ver o momento em que a vítima e mais cinco crianças brincavam no espaço. Enquanto quatro estavam no balanço, outras duas empurravam. Com a queda da coluna, as meninas ainda tentaram socorrer a amiga e depois correram desesperadamente em busca de ajuda.
O caso foi registrado na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes). De acordo com a Polícia Civil, a perícia foi realizada. Os agentes estão ouvindo testemunhas para esclarecer os fatos. De acordo com o delegado Alan Luxardo, responsável pelas investigações, todas as pessoas envolvidas na situação foram intimadas a prestar depoimento.
"O que está sendo analisado é qual tipo de erro houve, se é um erro de projeto, execução, ou manutenção, porque algum erro teve. Todos aqueles que podem ter contribuído para esse erro serão indiciados e responsabilizados por homicídio culposo", disse
O velório da menina aconteceu na manhã desta quinta (6) no Cemitério da Penitência, no Caju, na Região Central do Rio. O corpo foi cremado. Na noite de quarta (5), moradores prestaram homenagens a criança. Na ocasião, dezenas de pessoas soltaram balões brancos e aplaudiram a memória da vítima.
A reportagem não conseguiu contato com o condomínio. O espaço está aberto para eventuais manifestações.