A manicure Suely Andrade com os fihos, Eros e AgathaArquivo pessoal

Neste Dia das Mães, mais do que celebrar, é tempo de refletir. A maternidade não vem com manual, e cada época impõe seus próprios desafios. No entanto, algo permanece atemporal: a necessidade de cuidado mútuo e mais. No mundo moderno, a mulher não é apenas mãe. É dona de casa, profissional e muitas vezes provedora. Isso sem falar que ela também gosta de estar com a aparência em dia. Afinal, as mães também querem estar bem diante do espelho.
E como a mulher faz com tantas atribuições pela vida na atualidade? Ser mãe nos anos 90 e 2000 era diferente. Havia menos acesso à informação, menos cobranças externas e, muitas vezes, uma rede de apoio mais próxima, feita de avós, vizinhos, escolas e até da TV, que ocupava um papel importante no cotidiano das famílias com programas infantis. Hoje, as mães enfrentam um cenário de múltiplas exigências em realidades muitas das vezes mais complicadas, seja ela solo ou não.Para a neuropedagoga e especialista em Educação Infantil, CEO da Petit Kids Cultural Center, Fernanda King, são muitas as diferenças entre a forma como as mães dos anos 90 educavam seus filhos e como as mães de hoje lidam com a criação. "Eu sempre costumo usar um provérbio que diz que é preciso uma aldeia inteira para criar uma criança. Falo por experiência própria que rede de apoio é fundamental, porque eu mesma não tive. Sou uma carioca que foi morar em São Paulo, com mãe e sogra vivendo no Rio. Tive que aprender a me virar na selva de pedra, sem muitos amigos, sem ninguém. Eu percebo que cada vez mais, especialmente nos grandes centros, as pessoas estão isoladas em seus próprios mundos. E isso afeta demais a mãe recente, aquela que ainda não se acostumou com a maternidade. O sentimento de solidão é imenso!" .
Segundo a  profissional, isso só vem piorando com o passar do tempo pois nos anos 90, ainda sem celulares, se trocava ideia com os vizinhos, se reunia mais de forma presencial. "Hoje isso vem diminuindo exponencialmente, infelizmente. Eu acredito que o ser humano é um ser social, acima de tudo. E as mães precisam desse contato, dessa troca, deste afeto com outras mães, especialmente no início da maternidade", relata. King conta que a tecnologia, que é apenas uma das transformações da maternidade contemporânea, substituiu a antiga TV em muitos lares. Além disso, a forma de criar e educar mudou: há uma pressão maior por excelência, desenvolvimento precoce, presença constante. 
"O uso da TV por crianças é certamente menos prejudicial que o uso do celular. Não é o ideal, mas é menos ruim. Na TV o estímulo é visual e auditivo, com menos variação de conteúdo. Enquanto no celular o estímulo é intenso, com som, imagem rápida, toque e feedback constante. Isso faz com que o nosso cérebro fique ultra conectado nestes aparelhos, como se todos os nossos sentidos estivessem muito focados apenas ali, sem ver nada do mundo ao redor. Já o celular é altamente viciante, com gatilhos de dopamina em jogos, notificações e vídeos curtos. Para equilibrar o uso de tecnologias na infância, o ideal é controlar o tempo de uso e a qualidade do que é consumido. Jogos e aplicativos que estimulem o raciocínio são mais produtivos do que assistir vídeos ou dancinhas”, explica King.

A psicoterapeuta da UFRJ Sandra Salomão é professora de psicologia da PUC-Rio e especialista em terapias de casais e famílias com cursos no Rio de Janeiro e no exterior também fala sobre o assunto.
"As telas não começaram agora. Quando eu era criança, já se discutia o tempo que as crianças passavam na frente da televisão. A TV já exercia a distração. Só que a televisão não tinha os riscos que algumas telas oferecem. Não são mais só programas: são milhares de vídeos, conteúdos na internet. E o desafio é que todos esses meios se tornaram impossíveis de serem completamente vigiados. Difícil aqui na contemporaneidade é a performance: as mães têm que desempenhar bem os papeis como mães, como mulheres, como profissionais… E uma alternativa que os pais acabam encontrando é o uso das telas como substituição ao brincar, como alternativa à interação. O que a gente precisa observar é o problema do exagero. O excesso. E pensar em como retomar a conexão real, mesmo diante de tanta sobrecarga", explicou.

Esse contraste entre épocas pode ser percebido no relato de uma mãe que criou dois filhos entre os anos 90 e 2000 e viveu de perto o desafio de ser mãe na era pré redes sociais e internet. Rosangela Maria Duarte, 58, moradora de Duque de Caxias, é mãe de dois filhos, uma de 27 anos e outro de 34. "Antigamente era mais fácil controlar as crianças, mesmo trabalhando fora. Quando estava em casa, deixava eles assistindo desenho ou programas de criança. Claro que tinha muita coisa estranha naquela época, mas hoje é bem pior, pois não é só a questão da internet, ou deixar a criança fazer e ver o que quer, mas também a questão da violência, o que torna a educação ainda mais desafiadora", conta.
No cenário atual, o maior desafio talvez seja estar presente — de verdade — mesmo quando o tempo é curto. Como garantir uma educação baseada no afeto, no limite saudável e na escuta ativa, quando o dia parece não ter horas suficientes? "Na minha época, a famosa frase você não é todo mundo reinava nessas horas! E não deixa de ser uma grande verdade, afinal, cada um tem a sua realidade. Por isso as mães atualmente ficam muito divididas entre não querer que o filho se sinta excluído ou poupar um pouco dos perigos da internet. Acredito firmemente que o segredo seja o equilíbrio. Não proibir, mas sim promover um uso consciente da tecnologia. Com diálogo aberto sobre os perigos das telas: explicar desde os vícios on-line até os grupos com presença de adultos disfarçados em avatares infantis. Tudo tem que ser falado abertamente", orienta Fernanda.

Para a filha de Rosangela, Luane Duarte, 27, que é mãe de Isaac, de 6 anos, os desafios são outros, mas a correria é maior. "Ser mãe hoje é equilibrar mil tarefas ao mesmo tempo, sempre com culpa por achar que não está fazendo o suficiente. A tecnologia ajuda, mas também assusta. O mais difícil é tentar estar presente de verdade, mesmo quando o tempo é curto. Criar filhos em um mundo tão acelerado exige paciência, escuta ativa e muito jogo de cintura. Cada dia é um novo desafio, e a gente vai aprendendo no caminho", conclui.
Cuidar-se é fundamental
O fato é que hoje as mulheres também precisam, além de cuidar dos filhos e da casa, se manterem com os cabelos escovados, as unhas feitas e impecável quando trabalham fora. A manicure Suely Andrade, freelancer no bairro do Flamengo, mãe de dois filhos, vai na casa das clientes, mas nem sempre consegue vaga na agenda para atender a todos que a procuram. " Precisamos elevar aautoestima pois nós que somos mães não temos tempo para nada sem uma rede de apoio então quando sobra um tempo (se sobrar) a gente tenta cuidar do cabelo,unha, fazer uma sobrancelha cuidar do rosto pois é a primeira coisa que às pessoas notam" .E ela continua - "se nós mães não tivermos amor próprio, como vamos ensinar aos nossos filhos a amarem eles mesmos então por isso que a estética ajuda a recuperar essa nossa beleza que muitas das vezes nem sabemos que existe, e consequentemente educar nossos filhos indiretamente, porque os filhos se espelham principalmente na mãe então com essa autoestima vem o amor próprio" , diz a manicure.

Pensando nessa falta de tempo, o português Miguel Alves Ribeiro, e a esposa, a brasileira Karly Ribeiro, e o moçambicano Shakil Satar criaram o aplicativo sheerME, em 2021, em Lisboa. Há cerca de dois anos, a plataforma chegou ao Rio de Janeiro. Nele, os consumidores encontram serviços de beleza, estética, fitness e bem-estar, agendam e pagam pelo aplicativo ou site.Segundo Miguel, a análise do uso do aplicativo aponta que 60% dos agendamentos são feitos depois do horário de fechamento dos salões, quando o consumidor tem tempo para pensar em si.
"O app aumenta em 46% os agendamentos on-line, em 31% o valor médio gasto e em 25% a frequência de agendamentos, trazendo eficiência, conforto, benefícios e cashback aos clientes e levando mais negócio aos salões. Nossa missão é justamente essa: ajudar nossos parceiros a crescer e conectar consumidores a experiências que valorizem o cuidado pessoal", afirma Miguel, que seguiu a ideia da esposa. Ela observou que, apesar de desenvolverem plataformas digitais para diversos setores, ainda era extremamente difícil marcar um simples serviço de manicure pela internet.