Rio – Uma operação deflagrada na manhã desta segunda-feira (12) resgatou 22 trabalhadores paraguaios em situação análoga à escravidão em uma fábrica clandestina de cigarros, em Vigário Geral, Zona Norte. Cinco homens, que não tiveram os nomes revelados, foram presos em flagrante por atuar como gerentes e supervisores do local.
Fábrica clandestina descoberta teria ligação com o bicheiro AdilsinhoReprodução
A investida, que tinha como objetivo desmantelar a fabricação clandestina de cigarros no estado, foi realizada em parceria entre a Polícia Federal, a Polícia Civil e o Ministério Público Federal, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Os agentes suspeitam que a fábrica onde os paraguaios resgatados atuavam tenha elo com o bicheiro Adilson Oliveira Coutinho Filho, o Adilsinho.
Em entrevista coletiva à tarde, porém, o delegado da PF Felipe Monte, da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas (Delepat), foi cauteloso ao responder sobre o principal nome por trás do empreendimento ilegal: "A investigação sobre a responsabilidade pela fábrica está sob sigilo, então não podemos comentar o que está sendo apurado. Mas a operação teve um resultado positivo, no aspecto humano, com o resgate dessas pessoas".
Segundo a PF, a fábrica possuía alta capacidade de produção e servia como ponto de partida para distribuição de cigarros em todo o território fluminense - a exportação para o Paraguai, por ora, está descartada. O delegado Leandro Artiles, da Secretaria de Estado de Polícia Civil, ressaltou, entretanto, que os desdobramentos das investigações poderão proporcionar uma noção maior: "A gente conseguiu constatar que a fábrica deve ter uma produção muito grande por causa da quantidade de maquinário, de pessoas trabalhando e de cigarros encontrados. Mas ainda estamos em diligências no local. As máquinas serão retiradas e analisadas, e só assim vamos ter uma estimativa melhor da capacidade de produção dessa fábrica".
Ambiente insalubre
Sobre os resgatados, o delegado Artiles descreveu as condições nas quais os trabalhadores vinham vivendo e trabalhando: "Uma circulação de ar péssima, um ambiente fechado, claustrofóbico, muito quente. O maquinário funcionando e fazendo muito barulho. Uma situação muito ruim".
O delegado Felipe Monte complementou: "Estavam em uma situação degradante, em condições insalubres. Sem as mínimas condições de moradia".
De acordo com os delegados, ainda não é possível assegurar se eles chegaram ao Brasil já cooptados para trabalhar na fábrica ou se foram aliciados já em solo brasileiro. Agora, após o resgate, o Consulado Paraguaio já tomou ciência do caso e vai cuidar de questões como acolher os resgatados, por exemplo. Quanto ao futuro deles, Felipe Monte explicou: "Eles têm opção de requerer moradia no Brasil ou retornar ao Paraguai".
À população, os delegados alertaram sobre a compra de cigarros clandestinos: "As pessoas que consomem esses cigarros estão colaborando e estimulando a atividade ilícita. E quem compra sabe que algumas marcas podem operar aqui, e outras, não. E mesmo assim consomem. As pessoas precisam ajudar as forças de segurança nesse trabalho", pediu Artiles.
"Há algum tempo, foi estipulado o preço de um maço de cigarros em R$ 5. Qualquer valor abaixo disso, pode ter certeza de que o material é de origem ilícita.", acrescentou Felipe Monte.
Em nota, o MPF informou que seguirá apurando os fatos e que os responsáveis poderão responder pelos seguintes crimes: tráfico internacional de pessoas, submissão a trabalho escravo, formação de organização criminosa, crime contra a saúde pública, falsificação, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro e corrupção.
Os agentes encaminharam os cinco detidos e os estrangeiros resgatados à Superintendência Regional da PF no Rio para diferentes procedimentos, como a lavratura dos autos de prisão em flagrante. Os itens apreendidos - dentre eles uma van de transporte de passageiros - durante a ação serão levados ao Depósito da Receita Federal, onde permanecerão acautelados para perícia.
Quem é Adilsinho
Dono de uma distribuidora de cigarros e charutos, Adilsinho, patrono do Salgueiro, é apontado como líder de um grupo que monopolizou a venda de cigarros em diferentes pontos da Região Metropolitana. Investigações indicam que, apenas setembro de 2019 e fevereiro de 2020, por exemplo, seu grupo teve um lucro de mais de R$ 9 milhões.
Em 2024, a Polícia Civil pediu a prisão preventiva de Adilson por suspeita de ter mandado matar o miliciano Marco Antônio Figueiredo Martins, conhecido como Marquinho Catiri, e o seu comparsa, Alexsandro José da Silva, o Sandrinho. O crime aconteceu na comunidade da Guarda, na Zona Norte, em 2022.
Segundo a Polícia Civil, o homicídio foi motivado por uma disputa na contravenção. Catiri, que controlava a milícia que atua em comunidades de Del Castilho e Inhaúma, na Zona Norte, estava ligado ao rival de Adilsinho, Bernardo Bello.
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