Ex- secretário da Policia Civil, Allan Turnowski foi candidato a deputado federal, em 2022Arquivo / Agência O Dia
Publicado 07/05/2025 08:16
Rio - O ex-secretário de Polícia Civil do Rio, Allan Turnowski, se entregou após o Supremo Tribunal Federal (STF) restabelecer sua prisão preventiva. O delegado se apresentou na Corregedoria Interna da instituição, no Centro do Rio, na noite desta terça-feira (6). Ele é réu por associação criminosa, acusado de receber propina e colaborar com contraventores do jogo do bicho, e respondia em liberdade.
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De acordo com o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ), um mandado de prisão foi expedido pelo juízo da 1ª Vara Criminal Especializada, depois da decisão da 2ª Turma do STF por maioria, que revogou o habeas corpus concedido a Turnowski. Os ministros Edson Fachin, Gilmar Mendes e André Mendonça votaram a favor de prender o ex-secretário, enquanto Kassio Nunes Marques e Dias Toffoli foram contra. 
A reportagem do DIA tenta contato com a defesa de Allan Turnowski. O espaço está aberto para manifestação. 
Delegado foi preso por envolvimento com bicheiros e denunciado por obstrução de justiça
O delegado foi preso em setembro de 2022, em uma operação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), por envolvimento com o jogo do bicho. A ação também teve como alvo o ex-delegado Maurício Demétrio, que já estava preso. À época, as investigações apontaram que o então secretário recebeu propina da contravenção e participou de um plano para matar o bicheiro Rogério Andrade. Ele é réu por organização criminosa, corrupção e violação de sigilo funcional.
Segundo o Gaeco, Turnowski atuava como agente duplo na disputa entre bicheiros e aproveita seus vínculos com integrantes do grupo de Rogério de Andrade, como Ronnie Lessa, para repassar informações para Demétrio, em benefício da quadrilha liderada por Fernando Iggnácio. Os delegados ainda tratavam sobre recebimento de propina, vazamento de informações sobre investigações, meios de chegarem a cargos estratégicos na corporação e necessidade de se protegerem mutuamente da atuação de investigadores.
Na ocasião em que foi preso, o delegado era candidato a deputado federal pelo Partido Liberal (PL) e já havia sido afastado do cargo de secretário de Polícia Civil, por conta das eleições daquele ano. A poucos dias do pleito, o ministro Nunes Marques concedeu liberdade a Turnowski e substituiu a prisão preventiva por medidas cautelares. Antes, a Justiça já tinha negado três pedidos de habeas corpus apresentados pela defesa dele.
Em novembro do mesmo ano, a Justiça aceitou a denúncia do MPRJ por obstrução de justiça, por ele atrapalhar as investigações contra uma organização criminosa que cobrava propina de comerciantes da cidade de Petrópolis, na Região Serrana no Rio, da qual o ex-delegado Maurício Demétrio foi preso acusado de ser líder. As investigações apontaram indícios de que a dupla adotava técnicas e rotinas cuidadosas para evitar o rastreamento de conversas de conteúdo sensível. Os diálogos foram encontrados no celular de Maurício Demétrio. Contudo, o aparelho do ex-secretário nunca foi localizado
De delegado a secretário de Polícia Civil
Allan Turnowski estava há 27 anos na Polícia Civil quando foi preso, em 9 de setembro de 2022. Em sua passagem, ele foi diretor de Polícia da Capital e Especializada, além de titular das delegacias de Roubos e Furtos de Carga (DRFC); Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Ele também foi delegado da Corregedoria Interna e da 16ª DP (Barra da Tijuca), além de várias distritais do interior do estado.
Entre 2010 e 2011, durante o governo de Sérgio Cabral, Turnowski foi chefe da Polícia Civil, mas deixou a pasta depois que uma investigação da Polícia Federal apontou que ele teria vazado uma operação. O delegado chegou a ser indiciado por quebra de sigilo funcional, baseado na gravação de uma conversa com um inspetor da instituição preso pela PF na Operação Guilhotina. Entretanto, o MPRJ arquivou o inquérito, depois de concluiur que não havia comprovação de que ele tinha conhecimento prévio sobre a ação.
Em 2020, o delegado foi nomeado secretário de Estado de Polícia Civil, cargo que ocupou até março de 2022, quando se licenciou para concorrer nas eleições pelo Partido Liberal (PL). Em sua gestão, a instituição deu início à uma força-tarefa de combate à milícias, que prendeu mais de mil criminosos e causou prejuízo de cerca R$ 2,5 bilhões a grupos paramilitares. Também na chefia dele, a instituição realizou a operação mais letal da história do Rio, na favela do Jacarezinho, Zona Norte, que terminou com a morte de 28 pessoas, entre elas, um policial civil.
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