Ex-secretário de Polícia Civil, Allan Turnowski é preso em operação do Gaeco
Candidato a deputado federal, ele foi detido por suspeita de envolvimento com o jogo do bicho. Delegados Antonio Ricardo e Maurício Demétrio também são alvos
Prisão do delegado Alan Turnowski, preso em operação do MP. Turnowski foi levado para o prédio da chefia de Polícia Civil, no Centro do Rio de Janeiro. - Reginaldo Pimenta/ Agência O Dia
Prisão do delegado Alan Turnowski, preso em operação do MP. Turnowski foi levado para o prédio da chefia de Polícia Civil, no Centro do Rio de Janeiro. Reginaldo Pimenta/ Agência O Dia
Rio - O ex-secretário de Estado de Polícia Civil, Allan Turnowski, foi preso na manhã desta sexta-feira (9), durante uma operação do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio (MPRJ), por suspeita de envolvimento com o jogo do bicho. A ação também cumpriu um mandado de prisão contra o delegado Maurício Demétrio, que está preso desde o ano passado. Os agentes ainda pretendem prender Marcelo José Araújo de Oliveira, que fazia pagamentos de propina da contravenção ao ex-chefe da Polícia Civil.
A operação ainda espera cumprir 22 mandados de busca e apreensão. Entre os alvos estão o delegado Antonio Ricardo Lima Nunes, ex-diretor do Departamento-Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa. Na casa dele, os agentes apreenderam quatro aparelhos celulares, sendo um de uso pessoal e outros três antigos. Allan Turnowski foi preso em sua casa, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, e chegou à corregedoria da Polícia Civil, por volta das 9h, para prestar depoimento.
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Na residência dele, os agentes do Gaeco apreenderam um fuzil, outras armas e celulares. Uma mandado de busca e apreensão também foi cumprido em seu escritório, no Centro do Rio. Candidato a deputado federal pelo Partido Liberal (PL), ele estava afastado do cargo de secretário desde início deste ano, por conta das eleições. Em 1º de abril, foi substituído por Fernando Albuquerque, que era subsecretário de Inteligência da pasta.
De acordo com o MPRJ, Turnowski recebeu propina do jogo do bicho e tem envolvimento em um plano para matar o bicheiro Rogério Andrade. Ele é acusado dos crimes de organização criminosa, corrupção e violação de sigilo funcional. A ação faz parte das investigações sobre um esquema de propina do delegado Maurício Demétrio, preso em 30 de junho 2021, por extorquir comerciantes de Petrópolis.
"Allan Turnowski atua como agente duplo na disputa entre os bicheiros. De modo dissimulado, aproveita seus vínculos com integrantes do grupo de Rogerio de Andrade, tais como Ronnie Lessa e Jorge Luiz Fernandes, o Jorginho, para repassar informações para seu comparsa Mauricio Demétrio, potencializando a atuação da dupla em benefício do grupo então liderado por Fernando Iggnácio. Os delegados de polícia mantinham rotina intensa de contatos e aconselhamento mútuo, na qual tratavam sobre recebimento de propina, vazamento de informações sobre investigações, estratégias para galgarem cargos estratégicos na corporação e necessidade de se protegerem mutuamente da atuação de investigadores", informa o MPRJ em nota.
Advogado de Turnowski diz que prisão é ilegal
Segundo o advogado de defesa de Turnowski, Fernando Drumond, a prisão do ex-secretário sem que a decisão do juiz fosse apresentada é ilegal: "O mandado de prisão não tem fundamento nenhum, não tem decisão do juiz que decretou a prisão. É Kafkaniano. É uma decisão nula. É ilegal. Você tem que saber pelo que você está sendo preso", afirmou Drumond, que já entrou com um pedido de habeas corpus para anular a prisão.
Outro alvo da operação do MPRJ, o ex-diretor e delegado Antônio Ricardo estava licenciado das suas funções para concorrer à deputado estadual, pelo partido Podemos. A advogada do candidato, Adriana Galucio, esteve na corregedoria na manhã desta sexta e relatou que ainda não teve acesso a inquéritos ou processos. De acordo com a defensora, os agentes disseram apenas que a ação tem ligação com uma investigação contra Demétrio. Entretanto, ela reforçou que o candidato não tem ligação com o preso.
"Ele não tem a menor ideia do que seja, porque ele não tem nenhum acesso a esse delegado, não tem amizade, não é amigo, sequer trabalharam juntos (...) Podem vasculhar a vida dele toda, quebra de sigilo, pode ficar à vontade. Ele está à disposição, toda a vida dele está disponível para fazer qualquer investigação, porque ele não deve nada, não tem nada a temer", afirmou a advogada. Segundo Galucio, a operação não atrapalha a candidatura do Antônio Ricardo, porque ele está na condição de investigado, mas a defesa suspeita de perseguição política.
"O doutor Antônio Ricardo tem 23 anos de delegado sem uma mácula na sua ficha. É muito suspeito, em véspera de eleição, já que ele está vindo candidato a deputado, aparecer uma busca e apreensão na casa dele, onde nada de ilícito foi encontrado e isso vai ficar provado no decorrer do processo, assim que eu tiver ciência do que ele está sendo acusado (...) Nós suspeitamos que seja alguma perseguição de viéis político, porque é muito estranho, as vésperar da eleição, aparecerem um mandado de busca e apreensão de um processo que ele nunca foi intimado para responder, para depor em nada. É bem suspeito", disse Galucio.
A Polícia Civil informou que a Corregedoria-Geral (CGPOL) ainda não recebeu cópia da denúncia para poder se manifestar sobre a ação. A nota ressalta que "foi na atual gestão do Governo do Estado do Rio de Janeiro que os três chefes das principais facções da contravenção, Rogério Andrade, Bernardo Bello e José Caruzzo Escafura, o "Piruinha", foram investigados e tiveram os pedidos de prisão solicitados à Justiça".
De delegado a secretário de Polícia Civil
Allan Turnowski estava há 27 anos na Polícia Civil. Em sua passagem pela instituição ele foi diretor de Polícia da Capital e Especializada, além de titular das delegacias de Roubos e Furtos de Carga (DRFC); Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA). Ele também foi delegado da Corregedoria Interna e da 16ª DP (Barra da Tijuca), além de várias distritais do interior do estado.
Entre os anos de 2010 e 2011, durante o governo de Sérgio Cabral, Turnowski foi chefe da Polícia Civil, mas deixou a pasta depois que uma investigação da Polícia Federal apontou que ele teria vazado uma operação. O delegado chegou a ser indiciado por quebra de sigilo funcional, baseado na gravação de uma conversa com um inspetor da instituição preso pela PF na Operação Guilhotina.
Entretanto, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) decidiu não denunciar o ex-chefe e arquivou o inquérito, depois que concluiu que não havia comprovação de que ele tinha conhecimento prévio sobre a realização da operação. Em 2020, o delegado foi nomeado secretário de Estado de Polícia Civil, cargo que ocupou até março deste ano, quando se licenciou para concorrer nas eleições de 2022 pelo Partido Liberal.
Em sua gestão, a Polícia Civil deu início à uma força-tarefa de combate à milícias, que já prendeu mais de mil criminosos e ocasionou um prejuízo de aproximadamente R$ 2,5 bilhões a grupos paramilitares. Foi também durante a chefia de Turnowski que a instituição realizou a operação mais letal da história do Rio de Janeiro, na favela do Jacarezinho, na Zona Norte, que terminou com a morte de 28 pessoas, entre elas, um policial civil.
No ano de 2012, o ex-chefe teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) apreendida depois de se recusar a fazer o teste do bafômetro em uma blitz da Lei Seca, na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio. Ele acabou multado em mais de R$ 950 e perdeu sete pontos, infração considerada gravíssima. O veículo do delegado só foi liberado após um condutor habilitado ter se apresentado.
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