Lygia SantosReprodução / Facebook

Morreu neste domingo (1º), aos 91 anos, a escritora, museóloga e pesquisadora Lygia Santos. Filha do compositor Donga (1890-1974), autor de "Pelo Telefone", e da cantora erudita Zaíra de Oliveira (1881-1952), a intelectual destacou-se na em prol da preservação das raízes do samba e pela valorização da cultura popular.

Formou-se professora pelo Instituto de Educação, na Tijuca, na década de 1950, mesma época em que participou com sua família da fundação do Renascença Clube. Anos depois, graduou-se em Direto pela UFRJ e, em museologia, pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio).

Na década de 1970, era presença constante nos bastidores do Teatro Opinião, em Copacabana, na Zona Sul, onde Donga, um dos pioneiros da história do samba, apresentou-se nas lendárias "Noitadas de Samba", às segundas-feiras. Em 1979, ao lado de Sérgio Cabral, Martinho da Vila, Clara Nunes, Gisa Nogueira e outros nomes, acompanhou a fundação do Clube do Samba, sob a liderança de João Nogueira.

Em parceria com Marilia Trindade Barboza, escreveu o antológico livro "Paulo Portela: Traço de União entre Duas Culturas (1980)". A obra, premiada pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), continua servindo até hoje como referência para estudos e trabalhos sobre samba e carnaval.

Foi diretora-geral de Difusão Cultural da Secretaria Municipal de Educação e Cultura do Município do Rio, além de diretora do Departamento de Dinamização de Museus da Fundação de Artes do Estado do Rio de Janeiro (Funarj). Participou, ainda, da administração do Museu da Imagem e do Som (MIS), na gestão de Nilcemar Nogueira.

A pesquisadora também foi presidente de honra do Clube da Maior Idade, entidade dedicada aos direitos do idosos.

Teve sua trajetória eternizada na canção "Na Casa de Lygia Santos", composta por Leci Brandão e gravada por Didu Nogueira. A letra exalta os famosos encontros musicais ocorridos nas residências da intelectual, primeiro em Copacabana e depois na Aldeia Campista (entre Tijuca e Vila Isabel), reunindo nomes como Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Paulo César Pinheiro e outros.

Na década de 1980, passou a fazer parte do júri do prêmio Estandarte de Ouro, do jornal "O Globo", e atuou como comentarista de desfiles na Sapucaí.
Em 2005, integrou o grupo de professores contratados pela Universidade Estácio para dar aulas no Instituto do Carnaval.

Lygia de Oliveira Santos lutava contra a doença de Alzheimer há cerca de dez anos. Ela deixa a filha, Márcia Zaíra, e o neto Felippe. A despedida acontece no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, nesta segunda-feira (2), com velório marcado para as 17h, na capela premium B. 

Homenagens

Nas redes sociais, personalidades lamentaram a perda. Fundadora do Museu do Samba e ex-secretária municipal de Cultura do Rio, Nilcemar Nogueira escreveu: "Minha amiga, minha mãezinha do coração, você esteve do meu lado em tantas lutas – por uma sociedade mais justa e igualitária, pela memória do samba, pela valorização dos nossos ancestrais. Rimos e choramos juntas tantas vezes. Lecionamos juntas (...) Vá em paz, na luz – serena e elegante, como sempre me lembrarei de você. Continue brilhando, agora em outro plano. Você virou uma estrela cheia de purpurina."

O cantor e compositor Didu Nogueira, que era muito amigo da família, também se manifestou. "Tentei escrever algo, mas definitivamente não sai. Assim como você que tenho desde os 12 anos. Vá com Deus, minha mãe imensa Lygia Santos." 
"Que Deus a receba e conforte o coração de todos os familiares", publicou Serginho Procópio, cavaquinista da Velha Guarda da Portela e ex-presidente da Portela.
O violonista e compositor Jorge Simas destacou o legado. "Perda enorme. Lygia Santos nos deixou. Uma espécie de Tia Ciata contemporânea, uma embaixadora da nossa música. Por sua casa passaram músicos consagrados e talentosos iniciantes. Alí, um laço invisível ligava os presentes: o bom gosto (...) Esteve, sempre, a serviço da cultura e das artes. Partiu deixando imensas saudades e um legado de imensurável contribuição na defesa de nossa música. Nunca esquecerei dos saraus que promovia, onde o prato principal era música brasileira "in natura", sem audiotóxicos."

Em sua coluna no jornal "Correio da Manhã", o ex-governador Sérgio Cabral homenageou a sambista. "Lygia teve um papel fundamental na minha formação. A ela, o meu amor, a minha gratidão e a saudade."