Casarão tem cerca de 60 quartos, onde menos de 50 pessoas moravamÉrica Martin/Agência O Dia
'Parece que foi um pesadelo', diz moradora de casarão atingido por incêndio na Lapa
Famílias afetadas retornaram ao imóvel, nesta segunda-feira, para tentar recuperar pertences
Rio - A manhã de moradores do casarão que pegou fogo na Rua Taylor, na Lapa, no Centro, foi de contabilizar prejuízos. Famílias e pessoas que alugavam quartos no imóvel perderam eletrodomésticos, roupas, documentos e voltaram ao local, na manhã desta segunda-feira (2), na tentativa de recuperar outros objetos. O incêndio, neste domingo (1º), deixou dois mortos e uma pessoa permanece internada.
A reportagem do DIA esteve no endereço nesta segunda-feira, onde a Defesa Civil e a Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) atuam. O imóvel chegou a ser interditado pelo risco de desabamento, mas moradores conseguiram entrar para recuperar pertences na manhã de hoje. As equipes emitiram ao menos 47 autos de interdição e o documento deve ser levado para o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) Professora Ismênia de Lima Martins, para receberem suporte. O espaço fica localizado na Rua da Alfândega, nº 11, também no Centro.
O casarão tem cerca de 60 quartos, onde menos de 50 pessoas moravam. O incêndio deixou 22 famílias desalojadas e nove desabrigadas. Entre elas, duas e quatro pessoas sozinhas aceitaram acolhimento em equipamentos da SMAS. No atendimento emergencial, foram realizados 28 encaminhamentos para a retirada de documentos perdidos. As vítimas continuarão recebendo acompanhamento e apoio psicossocial, conforme avaliação das necessidades individuais e familiares no CRAS da região, segundo a secretaria.
Morando sozinha em um dos quartos, Dávilla Vieira de Souza, de 20 anos, que perdeu eletrodomésticos e compras de mercado, conta que sentiu estar dentro de um pesadelo. "Perdemos muita coisa. Minha geladeira, meu fogão. A única coisa que salvou foram os shorts que estavam pendurados na minha sacada (...) Estou meio atordoada e com medo. Parece que tudo foi um pesadelo, nem as minha compras de casa sobraram, porque estava tudo queimado", desabafou a jovem.
Desempregada e se mantendo com "bicos", a mulher conseguiu reaver o valor do aluguel com o proprietário do imóvel, com os dias morados descontados, e conseguiu ir para outro lugar. "Eu consegui pegar meu aluguel com o dono, mas dei uma entrada para pagar o aluguel em duas vezes e não sobrou nada. Está sendo difícil, todos nós estamos desamparados por conta dessa tragédia".
Assim como a vizinha, o auxiliar de serviços gerais Vitor Hugo Ambrósio, 20, também foi para outro imóvel com a mulher e o cachorro, após conseguir a devolução do aluguel do casarão. Eles perderam a televisão, que derreteu, uma geladeira comprado no último mês, um fogão, a maioria das roupas e sapatos, alimentos, documentos, materiais de higiene pessoal e roupas de cama. O morador disse que não retornou ao casarão hoje, já que as poucas coisas que restaram foram recuperadas ainda ontem, como uma bicicleta, panelas, talheres e uma mesinha.
"O sentimento é de tristeza, de desamparo, só de pensar que mês passado consegui comprar a geladeira, aí no primeiro dia do mês seguinte perder uma coisa que batalhei muito para conquistar. Fica agora a angústia, sem saber se vamos conseguir ficar nesse local que estamos agora, devido ser maior o aluguel. Esse mês está garantido, mas a gente não sabe se depois vamos conseguir manter os próximos meses", lamentou Vitor Hugo, que apesar da perda, se disse confiante de que vai reconquistar seus bens. "Na fé de Deus e com esforço, vamos batalhar em dobro para reconquistar nossas coisas".
Incêndio deixou dois mortos e seis feridos
Também nesta segunda-feira, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) esteve no local do incêndio. A agente de combate às endêmias, Marizeth Sampaio, explicou que a pasta vai acompanhar as vítimas do incêndio que precisaram ser hospitalizadas. "Eu vim fazer um registro da ocorrência do que houve aqui no dia de ontem. Nós vamos verificar quais foram as pessoas atingidas por inalação de fumaça tóxica. Infelizmente, há pessoas que faleceram e as que estão internadas, nós vamos tentar fazer um acompanhamento por 40 dias, até que a gente tenha um mapeamento geral do que foi que aconteceu depois desse ato atroz".
Segundo testemunhas, o incêndio começou na madrugada de domingo, quando um homem tentou atear fogo na companheira, durante uma discussão dentro de um dos quartos. O suspeito fugiu do local e os bombeiros chegaram a controlar as chamas, mas o fogo recomeçou no início da manhã. O episódio provocou as mortes de duas pessoas, ainda não identificadas. Outras cinco foram encaminhadas para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro, das quais três receberam alta e uma deixou a unidade à revelia.
Uma sexta pessoa também ficou ferida, mas recusou socorro da ambulância. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, apenas Fernanda Cunha, de 47 anos, permanece internada no hospital. A vítima, que teria sido alvo da tentativa de feminicídio, está em observação, com quadro estável. O crime é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC).
*Colaborou Érica Martin













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