Policiais civis realizam megaoperação no Complexo de Israel, na Zona NorteReginaldo Pimenta/Agência O DIA

Rio - Uma megaoperação da Polícia Civil contra integrantes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP) no Complexo de Israel, na Zona Norte, provocou o fechamento da Avenida Brasil e da Linha Amarela, e afetou a circulação de trens, ônibus e BRT na manhã desta terça-feira (10). Durante o tiroteio, quatro pessoas foram baleadas, incluindo o motorista e um passageiro de ônibus. Ao todo, 20 pessoas foram presas e os agentes apreenderam oito fuzis, duas pistolas, granadas e coquetéis molotov.
O confronto na região e a interdição nas principais vias expressas fez o município entrar em Estágio 2. Segundo a Semove, o passageiro Manoel Americo da Silva, de 60 anos, estava na linha 442B e foi levado para Hospital Geral de Nova Iguaçu (HGNI), na Baixada Fluminense. Atingido no ombro esquerdo, o estado de saúde dele é estável. 
Já o condutor Marcelo Silva Marques, 54 anos, era na linha 405D e foi encaminhado para o Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias. Ferido no braço esquerdo, ele segue em avaliação pela equipe multidisciplinar, lúcido, orientado e também estável.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Caxias, os demais baleados foram identificados como Jerry Henrique Rodrigues das Chagas, 47 anos, que deu entrada na unidade às 08h52 alvejado no pé esquerdo; e João André dos Santos, 62 anos, que chegou às 10h16, atingido no cotovelo esquerdo. No momento, os pacientes estão lúcidos e orientados. Até o momento, não há informação exata dos locais em que eles estavam no momento do confronto.
Ao todo, quatro ônibus intermunicipais, sendo dois da empresa Evanil, um da Linave Transporte e outro da Transporte e Turismo Machado, das linhas 442B, 405T, 420T e 444L, foram alvejados na região. O coletivo da Linave Transporte foi atingido por diversos tiros, tendo vidros quebrados e lataria perfurada, mas nenhum ferido.
Segundo o Centro de Operações Rio, a Avenida Brasil ficou fechada nos dois sentidos, entre as comunidades da Cidade Alta e Vigário Geral, por cerca de 1h30, sendo liberada por volta das 7h30. Já na Linha Vermelha, os bloqueios seguiram nos dois sentidos até pouco antes das 8h. No momento, policiais civis e militares atuam no local e podem voltar a interditar a via a qualquer momento.
Em relação aos trens, a SuperVia informa que, por volta das 6h05, tiros atingiram a rede aérea na região de Parada Lucas/Cordovil. Às 14h, a concessionária informou que os trens do ramal Saracuruna estão operando em todo o trecho. Entretanto, para o trabalho dos técnicos da rede aérea, os passageiros vão precisar realizar troca de composição na estação Penha para seguir viagem até os terminais. Ou seja, quem segue para Central do Brasil ou para Saracuruna precisa trocar de composição na estação Penha. O intervalo é de 40 minutos
Na altura da estação Vigário Geral, algumas linhas do BRT do corredor Transbrasil foram interrompidas por segurança. Serviços afetados: 60 -Deodoro x Gentileza (Parador); 61 - Deodoro x Gentileza (Expresso); e 71 - Vigário Geral x Gentileza (Expresso). Por volta das 7h15, a circulação foi normalizada.
Ainda pela manhã, um ônibus de fretamento foi incendiado na Avenida Governador Leonel de Moura Brizola, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Por conta disso, linhas da Transportes Flores também precisaram desviar o trajeto.
Segundo o Rio Ônibus, pelo menos 50 linhas municipais tiveram seus itinerários prejudicados. No entanto, com a liberação da Avenida Brasil e da Linha Vermelha, as linhas que passam na região voltaram a circular mas estão com intervalos irregulares. Apesar disso, por volta das 9h, a linha 335 (Cordovil x Tiradentes) ainda sofria com desvio no trajeto. 
Em nota, a empresa reiterou a necessidade das autoridades de segurança pública de garantir o direito de ir e vir da população.
Lista de linhas que foram prejudicadas
- 292 (Engenho da Rainha x Castelo)
- 300 (Sulacap x Candelária)
- SR300 (Sulacap x Candelária)
- 315 (Recreio x Central)
- 335 (Cordovil x Tiradentes)
- 338 (Taquara x Candelária)
- 342 (Jardim América x Castelo)
- SR342 (Jardim América x Castelo)
- 348 (Riocentro x Candelária)
- 352 (Riocentro x Candelária)
- 361 (Recreio x Castelo)
- 355 (Madureira x Tiradentes)
- SR355 (Madureira x Tiradentes)
- 362 (Honório x Castelo)
- 369 (Bangu x Candelária)
- 378 (Mal Hermes x Castelo)
- 380 (Curicica x Candelária)
- 384 (Pavuna x Passeio)
- SV384 (Pavuna x Passeio)
- SR384 (Pavuna x Passeio)
- 385 (Village x Passeio)
- 386 (Anchieta x Candelária)
- SR386 (Anchieta x Candelária)
- 388 (Cesarão x Candelária)
- SR388 (Cesarão x Candelária)
- 389 (Catiri x Tiradentes)
- 393 (Bangu x Candelária)
- SR393 (Bangu x Candelária)
- 394 (Vila Kennedy x Tiradentes)
- 395 (Coqueiros x Tiradentes)
- 397 (Campo Grande x Candelária)
- SR397 (Campo Grande x Candelária)
- 399 (Pavuna x Passeio)
- SR399 (Pavuna x Passeio)
- 497 (Penha x Largo do Machado)
- 498 (Penha Circular x Cosme Velho)
- 919 (Pavuna x Bonsucesso (Maré)
- 936 (Campo Grande x Fundão)
- 945 (Pavuna x Fundão)
- 975 (Madureira x Fundão)
- 979 (Madureira x Fundão)
- 2303 (Cesarão x Carioca)
- 2307 (Sete de Abril x Castelo)
- 2308 (Cosmos x Castelo)
- 2309 (Urucânia x Castelo)
- 2336 (Campo Grande x Castelo)
- 2339 (West Shopping x Castelo)
- 2381 (Jardim Maravilha x Castelo)
- 2381 (Pedra de Guaratiba x Castelo)
- 2383 (SepetibaxCarioca)
O confronto provocou ainda pânico entre motoristas e passageiros que passavam pelo local. Em imagens que circulam nas redes sociais é possível ver pessoas abaixadas nos ônibus e deitadas nas muretas das vias.
Escolas, faculdades e clínicas afetadas
A ação impacta também o funcionamento de clínicas da família e escolas na região. De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, nas localidades de Parada de Lucas e Vigário Geral, 10 unidades escolares foram fechadas. Na Cidade Alta, oito escolas suspenderam as aulas, enquanto nas comunidades Cinco Bocas e Pica-pau, outras três foram afetadas.
Além das escolas, a UFRJ determinou que não haja aplicação de provas e avaliações e não sejam cobradas presenças dos estudantes e servidores TAEs nesta terça (10). A medida se estende aos campi da Cidade Universitária, Praia Vermelha, Centro e Caxias. A mesma decisão foi tomada pela Unigranrio, que suspendeu as atividades na unidade de Duque de Caxias até as 13h.
Já a Secretaria Municipal de Saúde informou que quatro unidades de saúde que atendem à região, incluindo clínicas da família e centros municipais de saúde, foram impactadas. Destas, duas suspenderam completamente suas atividades, enquanto as outras duas interromperam as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.
Operação mira organização criminosa
A operação é resultado de sete meses de intensas investigações, que culminaram na identificação de 44 traficantes sem mandados anteriores. Segundo apurado pela Delegacia de Repressão a Entorpecente (DRE), com apoio da Delegacia Antissequestro (DAS), da 22ª DP (Penha) e da 33ª DP (Realengo), a organização criminosa altamente estruturada e armada, sob a liderança de Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, um dos narcotraficantes mais perigosos do estado, atua nas comunidades de Vigário Geral, Parada de Lucas, Cidade Alta, Cinco Bocas e Pica-Pau.
A facção impõe seu domínio com o uso de barricadas, drones para monitoramento das forças de segurança, toque de recolher e monopólio de serviços públicos, além de promover intolerância religiosa.
"A Polícia Civil vem atuando em diversas frentes. Enfrentamos a expansão do Comando Vermelho na Zona Oeste, a ação das milícias, a contravenção, a máfia dos cigarros e a lavagem de dinheiro, com pedidos de bloqueios de mais de R$ 6 bilhões do crime organizado. A operação de hoje é mais uma prova disso, atacando o Terceiro Comando Puro em uma das regiões em que os traficantes subjugam a população. A Polícia Civil reafirma seu compromisso em combater todo tipo de criminalidade", afirmou o secretário de Estado de Polícia Civil, delegado Felipe Curi.

Sob o comando direto de Peixão, o TCP promove a intimidação sistemática de moradores, expulsão de rivais, ataques a agentes de segurança e ações coordenadas para impedir operações policiais. Foi identificado um grupo responsável pelo monitoramento de viaturas, queima de ônibus e organização de protestos simulados com o objetivo de obstruir o trabalho policial. Durante as investigações, os agentes apuraram ainda a existência de um núcleo especializado na tentativa de abate de aeronaves policiais, composto por criminosos com armamento pesado e treinamento específico.

Além das prisões, a operação tem o objetivo apreender armas de fogo, drogas, rádios comunicadores, aparelhos eletrônicos, documentos e outros materiais que reforcem a responsabilização penal dos envolvidos. Duas construções irregulares utilizadas pelos traficantes como abrigo e pontos estratégicos de ataque — equipadas com seteiras — serão demolidas, conforme autorização judicial, como medida de desarticulação da estrutura defensiva da facção.