Almoço no Cacique teve clima de lutoÉrica Martin / Agência O Dia
Homenagens a Bira Presidente marcam Feijoada do Cacique de Ramos deste domingo
Caciqueando, grupo com integrantes da agremiação, fará homenagem ao fundador da agremiação, que morreu neste sábado (14)
Rio – A Feijoada do Cacique de Ramos deste domingo (15), em Olaria, Zona Norte, foi marcada por homenagens a Bira Presidente, fundador da agremiação que morreu na noite de sábado (14). Os organizadores do evento mantiveram a tradicional roda de samba, mas apenas para o almoço, com um tributo acústico de tom baixo, em solenidade.
Ao DIA, Sidney Machado, o Chopp, diretor de Harmonia e membro do Cacique de Ramos desde a fundação, disse que o momento é "muito mais do que triste". "Todos nós estamos muito caídos, muito chateados, mas Deus sabe o que faz. Chegou o momento dele e ele foi. Estamos sempre juntos aqui, só pensando nele, e hoje, então, vai ser um domingo horrível", afirmou.
Em clima de luto, o almoço contou com um discurso de Nayra Cezari, integrante da agremiação, relembrando a importância de Bira, o Cacique maior'. Uma homenagem ao sambista feita pelo grupo musical da casa, 'Caciqueando', está marcada para 17h, enquanto outras atrações marcadas para o dia foram canceladas. Apenas o Grupo Biguá, de Macaé, fez uma apresentação em tributo ao artista.
O estofador Francisco Coutinho, de 61 anos, que frequenta o Cacique desde criança e descreveu o sambista como "espontâneo, lamentou a perda e descreveu Bira carinhoso e querido com todos os frequentadores". "O sentimento é de muita tristeza, porque o Bira era unanimidade entre os nossos amigos e o nosso bairro. Além de um grande sambista e ter construído uma história na música popular brasileira, ter lançado tantos artistas e ser uma referência para o samba, ele também era muito voltado à comunidade. Todo mundo gostava muito dele."
A professora aposentada Cristina Fonseca, 66, também frequenta o local desde a infância e disse que não conhecia o baluarte pessoalmente, mas admirava a sua vitalidade, mesmo com a idade avançada. "É muito triste você ver as pessoas que fazem parte da história recente, da cultura do Rio de Janeiro, irem embora. Claro que quem fica vai continuar o legado, mas eu já tenho 66 anos, então eu sou de uma época que tudo isso começou a aparecer. É como se você tivesse visto a história acontecer. Quando se vai alguém assim, como o Bira, Beth Carvalho, tantos e tantos, a gente fica muito triste, porque é um pedaço da cultura que está indo embora", lamentou.
Bira Presidente morreu no Hospital da Unimed Ferj, na Barra da Tijuca, Zona Oeste, por causa de complicações relacionadas ao câncer de próstata e ao Alzheimer. Personalidades da música se manifestaram lamentando o falecimento do artista. O velório será realizado na Capela 9 do Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, nesta segunda-feira (16), das 14h às 16h30.
Trajetória
Ubirajara Félix do Nascimento nasceu em 23 de março de 1937 e começou a frequentar as rodas de samba ainda na infância. Nesses espaços, conheceu sambistas famosos que foram os primeiros exemplos na execução do pandeiro, instrumento que o acompanharia em toda carreira. Aos 7 anos, foi batizado na escola de samba Estação Primeira de Mangueira.
Fundou em 20 de janeiro de 1961 o Grêmio Recreativo Cacique de Ramos, no subúrbio carioca, que tem como padroeiro São Sebastião e fortes ligações com a Umbanda, religião afro-brasileira. Nomes como Almir Guineto, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz foram projetados no mundo do samba por meio das rodas no Cacique.
Bira trabalhou por décadas como servidor na administração pública federal e do estado do Rio de Janeiro, mas pediu exoneração do cargo para se dedicar totalmente à carreira artística. No fim da década de 1970, criou o Fundo de Quintal, grupo que se tornou uma das maiores referências do samba brasileiro e serviu de inspiração para novos nomes do gênero.
Passaram pelo grupo Jorge Aragão, Arlindo Cruz, Walter Sete Cordas, Mario Sergio, Almir Guineto, Cleber Augusto e Flavinho Silva. A formação atual do Fundo de Quintal conta com Bira Presidente, Sereno, Ademir Batera, Júnior Itaguay, Márcio Alexandre e Tiago Testa.
Em 2015, Bira Presidente recebeu a Medalha Pedro Ernesto, honraria máxima concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro. No ano seguinte, foi destaque no carro dos malandros no enredo "A ópera dos malandros" do Salgueiro. O artista teve sua história contada no livro "O Patuá Tamarindo", lançado pelo jornalista Paulo Guimarães em 2019.
Nos últimos meses, o sambista se afastou do grupo devido aos problemas de saúde. Durante a recente turnê internacional do Fundo de Quintal pelos Estados Unidos, Bira não participou das apresentações. Ele também se ausentou das atividades do bloco neste Carnaval.
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