Investimento no Programa Limpa Rio pode passar dos R$ 300 milhões
Responsável por abrir o evento, o secretário do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, destacou o avanço do estado na área ambiental - EDUARDO UZAL
Responsável por abrir o evento, o secretário do Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Rossi, destacou o avanço do estado na área ambientalEDUARDO UZAL
Transformar a Baía de Guanabara em um símbolo da Economia Azul, capaz de atrair turistas, gerar trabalho e impulsionar a renda, é hoje uma das principais missões do secretário de Estado do Ambiente e Sustentabilidade do Rio de Janeiro, Bernardo Rossi. Há um ano e meio à frente da pasta, Rossi — que já foi prefeito de Petrópolis e ocupou as secretarias de Governo e Habitação — alia a energia da juventude com a experiência de mais de uma década na administração pública para firmar parcerias estratégicas, engajar municípios e captar recursos federais destinados a projetos para o estado. Entre as suas prioridades estão programas de resiliência para capacitação e elaboração de planos de ação voltados à prevenção de tragédias na Baixada Fluminense e Região Serrana. Atento à vulnerabilidade do período de chuvas, o secretário planeja investir mais de R$ 300 milhões no Programa Limpa Rio, iniciativa que já beneficiou todos os 92 municípios fluminenses com a dragagem e o desassoreamento de rios e córregos e a remoção de 14 milhões de metros cúbicos de resíduos.
O DIA - A Baía de Guanabara tem um histórico marcado pela poluição, mas vem passando por transformações importantes nos últimos anos, com o retorno da balneabilidade de praias, por exemplo. Por que ela é considerada tão estratégica para o Rio de Janeiro?
BERNARDO ROSSI - A Baía de Guanabara é um dos ecossistemas mais importantes e simbólicos da América do Sul. Ela concentra uma biodiversidade única, comunidades tradicionais, atividades econômicas estratégicas e um patrimônio natural que representa não apenas o Rio, mas o Brasil. É um ativo ambiental, social e econômico de valor incalculável. Ao mesmo tempo, carrega décadas de passivos ambientais que a transformam em um ponto crítico, mas extremamente estratégico, para promover a transição ecológica do nosso estado. Historicamente, por ter sido a porta de entrada do Rio de Janeiro e uma das áreas mais favoráveis de acesso ao mar, a região da Baía concentrou o desenvolvimento urbano e econômico. Hoje, os municípios do entorno reúnem dois terços da população do estado e respondem por cerca de 70% do PIB fluminense. Por isso, recuperá-la é muito mais do que uma pauta ambiental: é um imperativo para o futuro do Rio. A Baía será um marco no desenvolvimento da Economia Azul no Brasil.
O que está sendo feito para impulsionar essa Economia Azul na Baía?
O Governo do Estado do Rio já deu um passo decisivo nessa direção ao realizar a maior concessão pública de saneamento do Brasil. Desde então, milhares de litros de esgoto que antes eram despejados in natura passaram a ser devidamente tratados. Estamos aplicando R$ 6 bilhões em projetos de recuperação da qualidade da água, com impacto direto na Baía de Guanabara, e os resultados já começam a aparecer. Praias históricas que estavam degradadas, como Botafogo, Glória e Flamengo, voltaram a ser balneáveis e devolvidas à rotina de lazer dos moradores. Só entre maio e julho deste ano, as praias da Glória e do Flamengo estiveram próprias para banho em 100% dos dias. Esses avanços são fruto de obras no sistema de esgotamento sanitário, nas redes pluviais e investimentos de R$ 30 bilhões em saneamento. A meta é resgatar a Baía e reintegrá-la à vida de algumas cidades, como Magé, Duque de Caxias e São Gonçalo, fortalecendo o turismo, reativando atividades culturais e gerando novas oportunidades econômicas. Outro ponto essencial é que hoje estamos conduzindo a licitação do projeto Guanabara Azul. Com uso de Inteligência Artificial será possível identificar qualquer derramamento de poluentes, com antecedência, e prever a trajetória para saber onde serão colocadas boias de contenção, quantos barcos terão que ser acionados. Ou seja, com a tecnologia como aliada, vamos estar preparados para situações de crime ambiental ou emergência. Assim, no fim das contas, despoluir a Baía de Guanabara será também impulsionar o desenvolvimento do Rio de Janeiro: um futuro focado no que chamamos de Virada Azul.
O que seria essa Virada Azul?
A Virada Azul representa um novo olhar do Rio de Janeiro para a água como um ativo estratégico de desenvolvimento. Não tratamos a Economia Azul como um conceito distante, mas como uma política pública concreta e transversal. Somos um estado com mais de 630 quilômetros de litoral, 25 municípios costeiros e três grandes baías, entre elas a Guanabara. Isso nos coloca em posição única para transformar a relação com os recursos hídricos em oportunidades de crescimento econômico e prosperidade social. Foi com essa visão que o Rio se tornou o primeiro território da América Latina a aplicar a metodologia da OCDE para Cidades Azuis, com a meta de nos consolidarmos como uma verdadeira Metrópole Azul. Esse reconhecimento internacional já nos projeta como futura potência global da Economia Azul. E os números comprovam o potencial dessa agenda: de acordo com a OCDE, a universalização do saneamento da Baía de Guanabara pode gerar até R$ 25 bilhões em benefícios socioeconômicos até 2046. Além disso, estima-se que a Economia Azul amplie em até 40% nosso PIB nas próximas décadas.
O mundo tem enfrentado os efeitos das mudanças climáticas, e projeções apontam impactos no Rio, como o aumento da temperatura e chuvas mais intensas, o que acaba ocasionando enchentes com maior frequência. Essa é uma preocupação da sua gestão?
Com certeza, e o tema inclusive será uma das nossas abordagens durante a COP 30, que vai acontecer em novembro deste ano, em Belém. Não podemos mais considerar as mudanças climáticas como uma ameaça do futuro, elas já são uma realidade global que nos afeta e que precisam ser tratadas com a emergência que o assunto merece. Em parceria com a ONU Habitat, nós criamos o RJ Resiliente, o primeiro programa do Governo do Estado voltado para ações não estruturais de prevenção a desastres. É um marco porque, pela primeira vez, estamos levando planejamento urbano, capacitação municipal, sistemas mais modernos de monitoramento e uma verdadeira cultura de prevenção diretamente para dentro das comunidades mais vulneráveis. A iniciativa já conta com R$ 215 milhões aprovados pelo Fundo Estadual de Conservação Ambiental e Desenvolvimento Urbano (Fecam) e vai começar em cidades que sofrem historicamente com as tragédias, como Angra dos Reis, Teresópolis, Nova Friburgo, São Gonçalo, Duque de Caxias e Petrópolis, que só em 2022 perdeu mais de 200 vidas. A proposta é fortalecer núcleos comunitários de proteção e defesa civil, criar rotas de fuga, desenvolver mapeamentos participativos, treinar a população e capacitar jovens e adultos como agentes de mudança, tornando cada região mais preparada e resiliente. Paralelamente, estamos implementando o RJ Alerta, que será o maior e mais moderno sistema de monitoramento de desastres ambientais do país. Com tecnologia de ponta, sensores integrados e alertas em tempo real, o programa vai permitir detectar instabilidades do solo, acompanhar índices de chuva e emitir os avisos antecipados. O objetivo é ambicioso: reduzir em até 95% o número de mortes em áreas monitoradas.
Por ter nascido em Petrópolis e ocupado o cargo de vereador e prefeito na cidade, esse tema tem uma importância maior para o senhor?
Sim, sem dúvidas. Ter nascido em Petrópolis e acompanhado de perto os impactos das tragédias naturais me dá uma percepção muito clara da urgência desse tema. Eu vivi episódios marcantes, como o de 2022, e isso reforça em mim a responsabilidade de priorizar políticas de prevenção e resiliência. Nosso objetivo é preparar as cidades, orientar a população sobre como agir em situações de risco e, acima de tudo, salvar vidas antes que os desastres aconteçam. Não basta apenas disparar sirenes ou enviar mensagens: é fundamental que quem está em áreas críticas saiba exatamente o que fazer, para onde se deslocar e conte com gestores preparados para apoiar esse processo. Além disso, precisamos ampliar a conscientização. O poder público tem um papel essencial, mas a colaboração da sociedade é indispensável. Não adianta desassorear um rio se, no mês seguinte, ele já estiver cheio de lixo novamente. Cada descarte inadequado volta para a própria casa do cidadão em forma de alagamento. É essa mudança de mentalidade que precisamos consolidar para reduzir riscos e proteger vidas.
O senhor falou muito de tecnologia, mas sabemos que o enfrentamento das mudanças climáticas também passa por soluções baseadas na natureza. O Estado tem trabalhado também na área de reflorestamento e recuperação de áreas degradadas?
O Rio é hoje o estado que menos desmata e o que mais ampliou a cobertura da Mata Atlântica. E muitos desses avanços vem do apoio que a pasta ambiental recebe do Estado, com um governador que nunca diz “não” para o meio ambiente. Além disso, temos a meta de reflorestar cerca de 440 mil hectares até 2050, o que representa um potencial de absorção de 159 milhões de toneladas de CO 2. Só em 2024 plantamos 330 mil mudas nativas, e em 2025 serão mais 1,5 milhão. Queremos um Rio cada vez mais verde. E contamos também com o Olho no Verde, que já emitiu mais de 1,5 mil alertas contra o desmatamento ilegal desde o início do projeto. É uma combinação de tecnologia, fiscalização e ação prática. É fundamental cuidarmos da Mata Atlântica, um ecossistema que abriga mais de 1.300 espécies de vertebrados apenas no Estado do Rio de Janeiro. E avançamos, no ano passado, com o lançamento da ferramenta digital Olho no Verde – Queimadas, que foi criada com o objetivo de gerar informações, de forma rápida, sobre as áreas atingidas pelo fogo, agilizando o combate a incêndios e melhorando o trabalho de todos os profissionais que atuam nesse setor.
Há novos investimentos previstos nesse setor?
Sim. Até 2026, serão R$ 60 milhões destinados à expansão do reflorestamento.
Como conciliar crescimento econômico com preservação ambiental?
Esse é o grande desafio, mas também a nossa maior oportunidade. O desenvolvimento do Rio de Janeiro está pautado no equilíbrio: gerar empregos e renda sem comprometer os ecossistemas. Criamos políticas inovadoras, apostamos em economia circular e em soluções verdes, que não apenas preservam o meio ambiente, mas também tornam o estado mais competitivo e atraente para investimentos.
O senhor costuma falar em pertencimento e valorização do patrimônio natural. Qual a importância disso?
Quando a população reconhece o valor dos seus territórios, ela passa a cuidar mais, a preservar e a se sentir parte dessa transformação. O patrimônio natural não é apenas ecologia: ele gera lazer, turismo, oportunidades econômicas e qualidade de vida.
E como gerar tudo isso de maneira concreta?
Eu acho muito importante destacar o programa Limpa Rio, por exemplo, considerado o maior programa de desassoreamento e limpeza de rios e canais do país, que atendeu todos os 92 municípios fluminenses, com mais de 2,5 mil frentes de trabalho iniciadas, 14 milhões de m³ de resíduos retirados dos rios e R$ 600 milhões aplicados. Esse esforço não só melhora a qualidade ambiental e reduz o risco de enchentes, como também devolve espaços de convivência, lazer e segurança para as comunidades. É assim que a preservação se transforma em benefícios reais para a população e eleva o sentimento de pertencimento. É preservação ambiental com impacto direto na vida das pessoas. Nos últimos anos, ampliamos essa atuação com o Limpa Rio Margens, que complementa o trabalho principal. Ele atua na recuperação das margens dos rios, na criação de áreas de lazer e bem-estar, no estímulo à atividade física, na proteção das margens, no paisagismo, no convívio socioambiental e no reflorestamento — já beneficiando mais de 70 municípios. Tão importante quanto limpar é ocupar. Revitalizar as margens significa dar novos usos ao território, aproximar a população do meio ambiente e criar espaços de qualidade de vida. É nessa direção que queremos avançar cada vez mais.
Mas as enchentes continuam acontecendo...
Sim, ainda há muito trabalho pela frente. Mas os resultados já são muito expressivos. Diversas cidades que antes sofriam com enchentes registraram uma redução significativa dos impactos das chuvas fortes. Prefeitos de várias regiões têm relatado que áreas que costumavam alagar não sofreram inundações neste último período chuvoso. Foram várias ligações que nós recebemos na época das fortes tempestades. Isso mostra que o programa não é apenas um investimento em preservação ambiental, mas também uma ação direta de adaptação climática, que protege vidas, fortalece a infraestrutura urbana e melhora a qualidade de vida das comunidades.
Olhando para os próximos anos, quais são as prioridades e os grandes projetos que ainda pretende implementar para consolidar essa agenda ambiental no Rio de Janeiro?
Nos próximos anos, nosso foco será acelerar ainda mais a transição ecológica do estado. Isso significa avançar em saneamento, despoluição das nossas águas, reflorestamento em larga escala e fortalecimento das cidades frente às mudanças climáticas. Estamos ampliando investimentos em energia renovável, economia circular e projetos que unem inovação e preservação. Também queremos transformar a gestão ambiental em um motor de desenvolvimento, gerando empregos e novas oportunidades para a população. O caminho está traçado: cuidar do meio ambiente não é apenas preservar, é criar prosperidade, segurança e qualidade de vida. É com essa base que projetamos o futuro.
E como o senhor imagina o Estado daqui a 50 anos em termos de sustentabilidade?
Quando penso no Rio daqui a 50 anos, eu imagino um estado que conseguiu consolidar um modelo de desenvolvimento verdadeiramente sustentável, em que economia e meio ambiente andem lado a lado. Quero a Baía de Guanabara e nossas águas limpas, gerando riqueza por meio do turismo, cultura e pesca. Que nossas florestas estejam expandidas, garantindo equilíbrio climático e qualidade de vida para as próximas gerações. Desejo que cada cidade fluminense seja resiliente, preparada para enfrentar os impactos das mudanças climáticas. Mais do que números, quero que a sustentabilidade seja parte da identidade do povo fluminense, gerando pertencimento, orgulho e prosperidade. Um Rio de Janeiro que seja referência global em preservação e inovação.
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