No livro, Luis Cosme Pinto se aprofunda em temas como relacionamentos e reflexões sobre a vidaReginaldo Pimenta / Agência O Dia

Rio - Entre o real e o imaginário, um "catador de crônicas" da vida urbana. É assim que o carioca e jornalista premiado Luis Cosme de Miranda Pinto, de 63 anos, define seus textos, que falam sobre as relações amorosas e a vida com muita sensibilidade. Neste sábado (8), ele voltou a encantar leitores cariocas com o lançamento do seu terceiro livro de crônicas, intitulado 'Acabou, mas continua', da Editora Cachalote.
O evento aconteceu na tradicional Livraria Folha Seca, na Rua do Ouvidor, 37, no Centro do Rio, e reuniu amigos, leitores e admiradores da boa crônica brasileira em uma tarde de conversa e autógrafos. A obra reúne 25 crônicas, selecionadas entre um universo de 180 textos escritos por ele ao longo de três anos.
Luis conta que para retratar fielmente seus textos, busca andar de transporte público, a pé e até de bicicleta, sempre atento aos detalhes do cotidiano, de onde nascem suas crônicas. Inspirado por autores como Clarice Lispector, Raquel de Queiroz, Rubem Braga e Luis Fernando Verissimo, o escritor busca dar voz a personagens comuns e também às "coisas da vida". "Acredito que as crônicas falam das coisas da vida, mas também da vida das coisas. Quantas histórias um sofá que ficou 50 anos em uma casa viveu? Gosto de imaginar que esses objetos também têm uma história para contar".

Em 'Acabou, mas continua', Luis se aprofunda em temas como relacionamentos amorosos, amizade e reflexões sobre a vida, com um olhar sensível. O título, segundo o cronista, surgiu de uma observação urbana em São Paulo. "Há ruas que parecem terminar, mas continuam mais à frente, depois de uma parede, por exemplo. Às vezes em um único traçado, duas ruas levam outros nomes. Quis brincar com essa ideia, porque há coisas na vida que acabam, mas não terminam", reflete.
A última crônica do livro dá nome à obra e faz uma promessa aos leitores: "continuarei escrevendo". Para Luis Cosme, encerrar um texto nunca é o fim, mas o início de uma nova história. "Quando termino uma crônica, sinto um prazer enorme como escritor e comunicador. Procuro dar o meu melhor, e enquanto a história não estiver boa, eu não paro. Porque, no fundo, nada realmente acaba, só continua de outra forma."

Jornalista premiado se reinventou aos 60 anos
O escritor passou a infância e adolescência em Vila Isabel, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Aos 23 anos, teve sua primeira experiência com o jornalismo em uma rádio que cobria corridas de cavalo. Desde então, trilhou uma carreira sólida. Foi repórter, apresentador e editor em veículos como TV Globo, TV Manchete, SBT, Record e TV Cultura. Em 1998, atuou como editor do Jornal Nacional e, em 2020, integrou a equipe de edição do programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga.

Ao longo de 36 anos de jornalismo, Luis conquistou o Prêmio Embratel, pela TV Globo, e foi três vezes vencedor do Prêmio Vladimir Herzog (2006, 2007 e 2008), pela TV Record. Mas foi depois de décadas diante das câmeras e das pautas diárias que ele ouviu um conselho que mudaria sua vida.

"Um dia, minha filha Lorena me perguntou: 'O que você está esperando para fazer aquilo que você gosta?' E isso foi um toque que normalmente um pai dá para a filha, mas dessa vez veio dela para mim. A partir dali, entendi que era hora de seguir o meu sonho", lembra o escritor em entrevista ao DIA.

Pouco tempo depois, Luis pediu demissão da TV Globo e se lançou na literatura, aos 60 anos, com o entusiasmo de um estreante: "Foi libertador. O jornalismo me ajudou muito na escrita. A curiosidade de repórter, o olhar para o detalhe. Mas a literatura me permite mergulhar mais fundo, imaginar, criar. E eu sou um cara que acredita no sonho e na imaginação".

Laços que viram arte

O novo livro traz ainda uma participação especial. A capa foi desenhada pela filha dele, Luisa Vasconcellos, de 32 anos, artista plástica. "Acabou sendo uma parceria que me encheu de orgulho. Ter a arte dela na capa é como selar um ciclo familiar de amor e criatividade", diz.

Luis também encontrou na literatura uma forma de devolver à sociedade parte do que aprendeu ao longo da vida. Ele levou suas crônicas para presídios femininos em São Miguel Paulista e Santana, em São Paulo, promovendo encontros de leitura e troca com as detentas. Também realizou atividades com deficientes visuais, em que as crônicas eram lidas em conjunto. "A literatura me permite continuar sendo repórter da vida, só que agora com mais tempo, mais escuta e mais imaginação."