Duque de Caxias - Magé surpreendeu os favoritos e conquistou um título inédito no futebol sub-17, neste fim de semana, no gramado da vila olímpica de Duque de Caxias. O título veio nos pênaltis, ao superar Guapimirim por 7 a 6 depois de um empate sem gols. Mas a final não fez jus ao desempenho da equipe que teve a melhor campanha da modalidade, com 11 gols marcados e apenas um sofrido em quatro partidas. Destaque para a atuação do centroavante Gabriel, de 16 anos, que vai participar de uma peneira nas categorias de base do Vasco neste mês. Artilheiro da competição, ele balançou as redes sete vezes.
Na primeira fase, fez três na vitória de 4 a 0 contra São João de Meriti. Nas quartas-de-final, Magé bateu Mesquita por 2 a 1. Mas foi na semifinal que Gabriel fez a sua melhor apresentação, marcando quatro gols na vitória por 5 a 0 contra Paracambi.
ATUAÇÃO DE LUXO DE GABRIEL
Com apenas um minuto de jogo, o centroavante recebeu a bola na intermediária, deu um toque para frente com a ponta da chuteira e chutou na trave. O lance foi uma espécie de cartão de visitas. Aos sete minutos, se posicionou na área para receber um cruzamento do lateral-direito Pedro e bateu de primeira, abrindo o placar. Um minuto depois, outro avanço do lateral. E mais um gol de Gabriel, que nem esperou a bola cair para chutar.
O centroavante de bigode descolorido não dava espaço para que os zagueiros de Paracambi conseguissem ter uma boa saída de bola. Quando os adversários conseguiam avançar, ele recuava para marcar com a mesma disposição que tinha para atacar. Aos 13, roubou a bola de um zagueiro de Paracambi, invadiu a área e chutou no ângulo. Em seguida, recebeu um passe, invadiu a área em velocidade e tocou na saída do goleiro. Brayan fez o quinto ao desviar um cruzamento de cabeça.
FINAL TENSA
A decisão foi contra um velho conhecido: os vizinhos de Guapimirim, tradicionais adversários de Magé em competições amadoras, nas imediações da região Serrana. Antes da partida, o professor Wendel Coelho Mendonça, treinador de Guapimirim, já demonstrava preocupação com o centroavante adversário. "É o Gabigol. Ele joga competições amadoras lá em Guapi", explicou.
A final foi tensa. O lateral-esquerdo Jackson, de Guapimirim, um dos destaques da competição, travou um duelo à parte com o lateral-direito Pedro, de Magé. Aliás, Jackson era o jogador mais acionado pelos companheiros para que a equipe pudesse contar com uma saída de bola qualificada. Mas o jogador que poderia fazer a diferença ali era mesmo Gabriel. Ao receber um passe do meia Teteu, o centroavante avançou em velocidade e chutou para fora. Foi a chance mais clara de gol na partida, que terminou com um empate sem gols. "Agora, a história é com vocês", sentenciou Jorge Ferreira, técnico de Magé.
CONFIANÇA RETRIBUÍDA
Depois de seis cobranças convertidas para cada lado, o goleiro Luiz, de Magé, caminhava em direção à grande área. "Luiz! Olha aqui! Eu acredito em você", gritou o atacante Gabriel. Criados no bairro Canal, Gabriel e Luiz cresceram juntos, jogando bola nas peladas de asfalto disputadas pela garotada da região. O goleiro fez um sinal para o amigo de infância e seguiu em direção ao gol. Retribuiu a confiança, defendendo a cobrança de Guapi. "Passou um filme na minha cabeça. Pensei: 'É agora! Tenho que pegar!'".
Mas a confirmação do título só veio após a cobrança do lateral-esquerdo Rafael, que deslocou o goleiro Ruan e balançou as redes: 7 a 6 para Magé. Rafael tirou a camisa, se ajoelhou, levou as mãos ao rosto e chorou. Em seguida, foi encoberto pelos companheiros. O técnico Jorge Ferreira ficou em círculo e se emocionou com os jogadores. "Magé merecia isso pra mostrar que tem coisa boa lá".
Quando atravessaram o ginásio para subir ao pódio, foram aplaudidos pela torcida, que soube reconhecer o título inédito conquistado pelo município.
'FUTEBOL, MINHA VIDA'
Depois da conquista do título, Gabriel volta a buscar uma oportunidade para concretizar o sonho de se tornar jogador de futebol. Neste mês, vai participar de uma peneira nas categorias de base do Vasco. Mas não se intimida. "Tenho personalidade. Disputo o campeonato amador de Magé entre os adultos. Desde pequeno, jogava futebol de asfalto com os meninos mais velhos porque aguentava a pancada", diz o centroavante.
Ele sonha em seguir os passos de outros meninos da região, que brilharam nos Jogos da Baixada e seguiram carreira no futebol profissional. Um levantamento feito pelo livro 'Jogos da Baixada - 20 Anos' mostra que pelo menos dez garotos com passagem pelo evento seguiram carreira no futebol. "Espero que o próximo seja eu", afirma Gabriel, que se apresenta no seu perfil no Facebook com a frase: futebol, minha vida.
