A Universidade Federal Fluminense (UFF) desenvolveu um estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e coordenado pela professora Karin da Costa Calaza, do Departamento de Neurobiologia, que visa buscar um tratamento efetivo da retinopatia diabética.
Entre os anos de 2019 e 2021, os casos de diabetes tiveram um aumento de 16% em todo o mundo e, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a situação atual já é considerada uma pandemia. Depois de 20 anos acometidos pela diabetes, 95% dos pacientes começam a apresentar retinopatia diabética, uma patologia visual que atinge diretamente a retina, um tecido nervoso localizado atrás do globo ocular, com a capacidade de tradução da luz para uma informação neural.
Portanto, quando a retina sofre alguma disfunção, na maioria das vezes, o resultado é a cegueira. Por ser uma doença ainda sem cura, em uma fase mais avançada da retinopatia diabética, os vasos presentes na retina começam a ser alterados e acabam ficando quebradiços, dificultando o transporte de oxigênio e gerando uma isquemia. Como explica a professora, a alteração desses vasos ocorre depois de muitas outras coisas difíceis de diagnosticar, e possui apenas tratamentos paliativos.
Com a intenção de tentar evitar a chegada da fase mais tardia da retinopatia diabética e suas consequências graves, o estudo investiga a fase inicial de desenvolvimento da doença. Para realizar a análise, a diabete tipo 1, conhecida como mellitus, é induzida em ratos, deixando-os dependentes de insulina. Logo, eles desenvolvem um quadro de hiperglicemia, que é a alta taxa de glicose no sangue.
De acordo com Karin, toda a doença se desenvolve a partir dessa hiperglicemia, com exceção dos casos de pacientes que têm um controle rígido da glicemia, mas ainda sim desenvolvem a retinopatia, seja por conta da pressão arterial, ou da quantidade de gordura ruim presente no sangue.
“Analisamos a retina de ratos diabéticos com uma e três semanas de doença. Em uma semana, começamos a estudar um sistema de neurotransmissor, aquelas moléculas liberadas pelos neurônios, muito importantes para o funcionamento da retina. Com três semanas, mesmo estando a doença em estado inicial e com pouco tempo de hiperglicemia, já havia alterações no funcionamento normal desse tecido”, relata a coordenadora.
Segundo a pesquisadora, na época em que as análises começaram, já havia artigos que tratavam do assunto, mostrando um processo importante no desenvolvimento da doença: o estresse oxidativo. Esse fenômeno ocorre por conta da alta produção de moléculas reativas de oxigênio e da falta de antioxidante, cuja função é proteger a célula desse processo. No decorrer dos anos, o estresse oxidativo também leva a alterações nos vasos e à perda parcial e/ou total da visão.
O estudo traz todo o contexto do processo de alteração neural inicial da retinopatia diabética, mostrando que nas primeiras semanas já existe estresse oxidativo e, embora não seja possível declarar morte celular nesse estágio, é possível identificar os níveis menores de uma molécula antioxidante que ajuda a manter o ambiente celular saudável.
“Estamos na fase de tentar entender se existe alguma regulação ali que possa afetar diretamente esse sistema de transporte. Uma das linhas de pesquisa no laboratório é tentar compreender se doses moderadas de cafeína, tomadas no dia a dia, podem afetar o desenvolvimento da retina. Já coletamos o tecido, e agora vamos iniciar o processo de corte para fazer as análises no tecido propriamente dito”, conclui a professora.
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