"Quero dar voz à população periférica que sofre nessa sociedade desigual", diz Artista Plástico da Baixada Fluminense
Marcondes Rocco já pintou quadros para artistas como Alcione, Lázaro Ramos e Iza
Por Eric Macedo
Morador do morro do Conceito, em São João de Meriti, Marcondes, o Mestre de Capoeira do Grupo Capoeira do Coração, sentia que ainda faltava algo em sua vida. Foi o primeiro de sua família a se formar em uma Universidade Pública (UFRRJ), cursou Educação Física e posteriormente Ensino da Arte. Hoje, atua como professor no Centro Cultural Meritiense dando aulas de pintura. Seu portfólio ultrapassa 400 quadros, que foram vendidos para países como Alemanha, Portugal e Luxemburgo. Para ele, suas conquistas fogem muito da realidade da maioria dos homens pretos e favelados de sua região.
“A minha arte nunca foi decorativa, sempre teve função. Ela é somente uma estratégia para que eu tenha acesso ao palco e possa dar voz sobre o que a população preta, pobre, das periferias sofre dentro dessa sociedade desigual. Uma das formas de protesto e ao mesmo tempo de solidariedade com as famílias destruídas pela violência é a homenagem através da pintura das vítimas. Eu sempre irei priorizar a crítica social contra qualquer tipo de discriminação e irei defender os direitos humanos”, contou MRocco em entrevista para ODia.
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Por acreditar que não tinha coordenação motora, começou a pintar com os dedos no início de sua carreira artística. Seu sucesso começou logo no primeiro mês, quando suas pinturas chamaram a atenção do artista plástico José Luiz Carlomagno, quem lhe ensinou a usar os pincéis. Rocco ganhou bolsa de especialização no Museu de Artes Modernas (MAM) de São Paulo e no Parque Lage, no Jardim Botânico. Hoje ele é o único artista do Brasil que utiliza a técnica da tela preta, a qual o artista não desenha antes de pintar.
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No ano passado, estreou no museu da Maré a exposição Tempos de Marielle, retratando a trajetória da vereadora que foi brutalmente assassinada em 2018. “Aquilo foi tudo pra mim. Mudei radicalmente de vida, percebi que a arte me renovou, me fez ser mais humano. Já pintei mais de 10, 20 quadros dela”, disse.
Marcondes obteve reconhecimento nos últimos anos por realizar intervenções em velórios e eventos. A primeira vez em um velório foi quando Almir Guineto morreu, em maio de 2017, MRocco entregou um quadro ao filho do músico naquela ocasião. Além disso, presenteou diversas personalidades em vida, como Alcione, Padre Marcelo Rossi, Dona Ivone Lara, Xande de Pilares, Leci Brandão, Lázaro Ramos e Iza.
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Por se dedicar à causas sociais, desde o início da pandemia, Marcondes distribui kits com detergente, sabonete e álcool em gel em comunidades de Meriti com a ajuda de amigos e ONGs. Posteriormente, com uma colaboração maior, fez um garimpo na região. Identificou famílias em vulnerabilidade e realizou entregas de cestas básicas, cerca de 250, acompanhadas de um livro para incentivar a leitura e trazer um pouco de alegria a essas famílias.
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“Hoje me considero um fenômeno no campo das artes em São João de Meriti, represento a cultura no município. Sabemos que a Baixada Fluminense é uma região do Rio de Janeiro carente no campo da educação, saúde, mobilidade urbana, acesso à cultura e representatividade. Através da minha arte inspiro outras crianças, jovens pretos e moradores de comunidades a acreditar que é possível desenvolver os seus talentos e alcançar esse lugar”, finalizou o artista plástico Marcondes Rocco.