Espetáculo compartilha as medidas de uma receita de libertação e do momento em que a mulher resolve tomar as rédeas da própria vida, para dar um basta ao abandono pessoal e sair da sua situação de opressão.charles

Idealizado pela necessidade de dar visibilidade à situação de violência sofrida pela mulher negra, o espetáculo “A Receita” foi selecionado pelo edital SESC PULSAR 2022/2023 para apresentações no Estado do Rio de Janeiro. No Sesc Teresópolis o espetáculo será apresentado na sexta-feira, 12 de maio, às 19:30h, com acessibilidade em Libras. Em cena, Naná Sodré, uma das atrizes mais vigorosas e inventivas de Pernambuco, sob direção e dramaturgia de Samuel Santos, revela e discute, através de um trabalho de corpo e voz rigorosos, a violência doméstica sofrida por uma mulher negra. Com “A Receita”, Naná Sodré recebeu indicação de melhor atriz na capital pernambucana e participou de vários festivais nacionais e internacionais.

A todas as mulheres do mundo! Grita com o corpo a atriz Naná Sodré, na obra tragicômica que descreve um universo de uma mulher num processo de libertação. Num acerto de contas, a anônima confessa como passou a maior parte do tempo temperando suas ilusões com sal, alho e coentro com cebolinha... Até mesmo em momentos desatinados. O espetáculo funciona como um foco de luz que revela as situações vividas no ambiente domiciliar/social de várias mulheres pelo mundo afora! Morte, violência, loucura e a intolerância de uma maneira peculiar são narradas nesse solo explorando diversos pontos de vista, abordando suas inexoráveis naturezas e revelando uma dramaturgia atual de Samuel Santos, antenada com as questões de uma personagem no seu processo limite.

– “A Receita” é um encontro com a libertação feminina. Eu queria trazer à tona temas caros a esse universo, discutir o papel da mulher na sociedade e a violência que tantas de nós sofremos. Em Pernambuco, onde a cada dia cresce o número de mulheres assassinadas por seus companheiros, como em cada canto do Brasil e do mundo –, declarou Naná Sodré.

Durante 40 minutos a plateia acompanha quadro a quadro, as diversas atmosferas e odores de uma conversa realizada em vários ambientes domésticos relacionados diretamente a subalternização dessa mulher em situação “do lar” e bem próximo também do imaginário da negra escravizada. O solo compartilha as medidas de uma receita de libertação e do momento em que a mulher resolve tomar as rédeas da própria vida, para dar um basta ao abandono pessoal e sair da sua situação de opressão.
A obra é alicerçada na pesquisa continuada em matriz africana realizada pelo grupo O Poste Soluções Luminosas intitulada “O Corpo Ancestral dentro da Cena Contemporânea”, pesquisa realizada no terreiro de Candomblé e Umbanda/Jurema tendo como base a ancestralidade africana. Assim, o espetáculo “A Receita” descoloniza a cena, tendo como base a ancestralidade corporal e vocal, traçando um paralelo entre os orixás no terreiro de Candomblé e as entidades da Umbanda/Jurema.
De acordo com o Mapa da Violência e as pesquisas realizadas por institutos e órgãos ligados a conselhos de direitos e justiça no Brasil, a mulher negra sofre mais violência que as mulheres não negras, indígenas e orientais, um dado que aumenta a cada minuto, onde as ações afirmativas, como a apresentação de um espetáculo que fale sobre o tema, torna visível essa situação ampliando a consciência das especificidades e do imaginário que estão diretamente relacionados a violência contra as mulheres negras. Com esse projeto pretende-se não só manter um período de apresentações do espetáculo, mas também manter as reflexões sugeridas pela obra artística em relação a valorização dessa mulher tão estigmatizada.



Sobre a atriz Naná Sodré e o grupo O Poste Soluções Luminosas

Mulher preta, Naná Sodré tem 47 anos de idade, é diretora, atriz, produtora cultural e professora de Artes Cênicas formada pela UFPE, instituição na qual também já foi docente. É mestranda em Artes Cênicas pela UFRN, pertencente ao grupo de pesquisa MOTIM-UERJ. Fundou, em 2004, o grupo O Poste Soluções Luminosas, grupo artístico e de investigação teatral com o foco na pesquisa em matriz africana e na visibilidade do negro na arte e na vida. Pauta crucial de seus espetáculos. Em 2011, no Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, ganha o Prêmio de Melhor atriz pelo espetáculo “Cordel do Amor Sem Fim”, em 2013 ganha o Prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante pelo espetáculo “Anjo Negro” e indicação de Melhor Atriz pelo solo “A Receita”, em 2015, e no mesmo ano o grupo ganha o Prêmio de Pesquisa em Matriz Africana pelo espetáculo “Ombela” falado na língua angolana Umbundo e em português. Visibilizando positivamente as mulheres pretas do estado de Pernambuco, criou o projeto Quebrando O Silêncio - oficina de escrita e a Mostra PretAção - Mostra de Mulheres Pretas. Naná também já trabalhou em organizações não governamentais atendendo a jovens, adultos e crianças em processo de exclusão social, principalmente por fatores socioeconômicos, grupos compostos na sua maioria por negros e negras. Assessora e coordena projetos voltados para a comunidade negra e teatral de Pernambuco e de outros estados no espaço cultural o Espaço O Poste Soluções Luminosas inaugurado em 2014, dentre os projetos podemos citar a criação da Escola de Antropologia Teatral.

O Poste Soluções Luminosas é um grupo de artistas negros, cuja produção artística e suas pesquisas teatrais são calcadas no resgate antropológico, onde sua poética é a matriz africana e tomando essa como base de uma ancestralidade corporal e vocal pelo viés artístico teatral, traçando um paralelo entre as incorporações dos Orixás nos terreiros de Candomblé e Umbanda, procurando aproximar essa investigação aos processos artísticos teatrais.



Ficha técnica

Atuação e maquiagem: Naná Sodré

Direção, texto e iluminação: Samuel Santos

Sonoplastia, figurino e objetos de cena: Naná Sodré e Samuel Santos

Técnicas corporais orientais: Mestre/Sifu Manoel Ramos

Fotografia: Thais Lima e Jorge Farias

Programação visual: Vicente Simas



Serviço

Dia 12 de maio, sexta-feira, às 19:30h, Sesc Teresópolis: Av. Delfim Moreira, 749, Várzea

Valor do ingresso: R$10,00 (inteira), R$5,00 (meia entrada para casos previstos por lei, estendida a professores e classe artística mediante apresentação de registro profissional) ou gratuito (credencial plena Sesc e público PCG).

Duração: 45 minutos

Classificação: Indicado para maiores de 16 anos

Todas as sessões terão intérprete de Libras.


 
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